Análise de Cinema | Drive



Quando fiz o curso de Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, do renomado crítico de cinema Pablo Villaça, aprendi uma valiosa lição: no cinema, nada é por acaso. Imaginem que para se realizar um filme são necessários milhões de dólares em investimento. Diretor, elenco, câmeras, cenários, locações, marketing, roteirista, fotógrafo, entre tantas outras funções e elementos que fazem com que uma obra ganhe vida. 

Levando em conta esse pensamento, imaginem que o diretor possui apenas algumas horas para contar sua história, e que, dentro desse pouco tempo que possui, precisa utilizar de todos os elementos que dispõe para que o telespectador capte sua mensagem. Certamente não é uma tarefa fácil. E é por esse motivo que cada quadro na tela conta uma história. E essa história, como toda arte, pode ser interpretada de diversas formas, aos olhos de cada um que a aprecia.

Dito isso, volto a falar de um dos filmes recentes que mais tenho apreço: Drive.

Como já citei na crítica que publiquei anteriormente, a obra conta a história de um motorista, que trabalha como dublê e mecânico durante o dia, e pilota carros para assaltantes durante a noite. Uma vida dupla, que é evidenciada logo no início do filme, quando o diretor Nicolas Winding Refn enquadra o ator Ryan Gosling andando no corredor de sua casa à luz do luar, projetando sua sombra na parede. A mensagem da dupla personalidade é passada através da imagem.


A história prossegue e vemos o motorista conhecendo sua vizinha Irene, e seu filho Benício, dos quais começa a criar bastante afeição. A simpatia da personagem pelo motorista é recíproca e, quando a mesma convida-o a entrar em sua casa, o diretor novamente nos mostra o quanto a imagem é importante numa obra cinematográfica. Notem no quadro abaixo como, ao dar um close no rosto da atriz, o espelho com o retrato da família da personagem é evidenciado. Na moldura, o reflexo do motorista se sobressai, nos levando a crer que ele já faz parte da vida de Irene.


Uma das cenas seguintes confirma a mensagem passada no quadro anterior, quando presenciamos o motorista levando mãe e filho para passear pelos canais de Los Angeles. A fotografia, clara e intensa, nos remete a felicidade, alegria. A cena os apresenta como uma família. O patriarca dominante em tela, a matriarca com seu instinto de proteção abraçando seu filho.


A obra, no entanto, nunca nos deixa esquecer da natureza de seu protagonista, quando nos apresenta um quadro de clara divisão em tela. De um lado Irene está iluminada pela luz do sol, ressaltando a pureza da personagem. Do outro lado, em seu canto, o motorista está envolto em sombras.


Ao longo do filme, devido a alguns acontecimentos da trama, o "casal" de protagonistas acaba se distanciando, e é gratificante presenciar como o diretor, mais uma vez, transforma o sentimento a ser passado ao telespectador, em pura imagem. No quadro abaixo, os personagens, ainda que na mesma mesa de lanchonete, aparecem distantes um do outro. Distância essa que é ressaltada pelos objetos em perspectiva que os separam.


Isso é apenas um pouco do que a sétima arte pode proporcionar.
Isso é cinema!

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