Breaking Bad - S05E16 - Felina [series finale]


[spoiler alert]

Acabou. E como acabou. Com um final digno e coerente com a história que contou, Breaking Bad faz história como um dos maiores acontecimentos midiáticos que o entretenimento televisivo já produziu. Vai deixar saudades. Mas como foi empolgante acompanhar essa jornada de 6 anos.

Ainda que já tenha sido muito abordado internet à fora, não poderia deixar de começar essa review, se não pelo título do episódio, outro detalhe genial da série. Felina, além de ser um anagrama para "Finale", também significa Fe = FerroLi = Lítio Na = Sódio. Elementos da tabela que remetem a sangue, metanfetamina e lágrimas, respectivamente. Essa teoria não foi confirmada por Vince Gilligan, mas fica difícil acreditar que seja apenas coincidência.

Ao contrário do que muitos esperavam, mas condizente com o rumo da série em si, o Series Finale foi de ritmo lento. Não havia mais necessidade de acontecimentos bombásticos ou conflitos demasiados (Ozymandias serviu pra isso). Era hora de encerrar a história e o arco daqueles personagens que acompanhamos por tanto tempo. E BrBa o fez com maestria. Começando pela invasão de Walt a casa de Gretchen (e vendo aquela mansão, foi impossível não imaginar o final de Scarface acontecendo ali). Que jogada de mestre de Heisenberg, apenas a primeira de várias que o episódio traria. Descobrir que os red dots eram meros laisers apontados por Badger e Skinny Pete foi sensacional. E o futuro de Flynn e Holly parece garantido.

Longe de seus antigos amigos está Jesse, ainda escravo de Todd e sua gangue neo-nazista. A cena em que o rapaz aparece trabalhando como carpinteiro, livre de tudo, em paz, foi muito interessante (a fotografia quente, amarelada, deixava a dica de que a cena não condizia com a realidade). Não só pelo contraste abissal de sua real situação, mas por ser possível imaginar que aquele será o futuro de Jesse, após o término de Felina. Eu quero acreditar que sim.



Voltando ao Mr. White, o S05E16 ficou marcado pelas várias visitas que nosso protagonista fez àqueles que participaram de sua jornada criminosa. O quão genial foi o encontro com Todd e Lydia? Visualmente fragilizado e fazendo questão de mostrar isso, Walt finalmente utilizou sua ricina. E só algum segundos depois de ver o plano em que o adoçante mergulha no copo da morena foi que me dei conta do que havia acontecido. Mais bacana que isso foi a construção desse momento. Não só pela repetição das manias de Lydia, que a acompanharam em todos os encontros naquele café, mas pelo plano detalhe que Vince Gilligan faz do adoçante quando a moça chega ao local, já nos dando a dica do que estaria por vir (só não me pergunte como Walt colocou a ricina dentro do sachê).














A terceira visita marcou aquele que, para mim, foi o melhor momento do episódio. Como foi difícil assistir o diálogo de Skyler e Walter, e emocionante ao mesmo tempo. Vê-lo entregar o bilhete de loteria que levaria ao corpo de Hank foi um gesto singelo, mas extremamente significativo no que se refere ao sentimento de Walt por seu cunhado. Ele merece um enterro digno. Mais que isso, ali vimos mais um momento incrível da atuação de Bryan Cranston (Anna Gunn não ficou atras, é bom dizer). A expressão cansada, o olhar melancólico, a postura derrotada, tudo ali se assemelha ao Walter do episódio Piloto, que se sentia derrotado. Vê-lo admitir pela primeira vez que tudo que fez foi para si, para seu ego e orgulho, foi um dos momentos mais emocionantes de Breaking Bad. O carinho em Holly e a despedida distante de Flynn foram de partir qualquer coração.

Como não elogiar a construção desse momento, iniciando pelo espetacular plano em que vemos Skyler falando com Marie ao telefone, sem sabermos que seu marido está atrás da parede. O movimento de câmera que nos revela a presença de Walt foi de cair o queixo. O que dizer então do claro momento em que a parede, que antes escondia o químico, claramente separa marido e mulher em tela.













Eis então que o derradeiro embate entre Heisenberg e Tio Jack enfim viria a acontecer. E foi épico. Como não bater palmas para o plano de Walt e toda a tensão construída em cena. Quando a metralhadora começou a disparar o choque se misturou com vibração. Os neo-nazistas mereciam um fim desgraçado. Especialmente Jack, que morreu como Hank, sem conseguir terminar sua frase. Tentou barganhar com os milhões perdidos de Mr. White, mas eles pouco importavam agora, tanto que a série se encerrou com o grana desaparecida.

Walt salvou Jesse. Um ato de pena, talvez? É possível que sim, não sei dizer. Talvez tenha percebido que têm grande parcela de culpa para que Pinkman estivesse naquele estado. E não falo dessa última temporada, mas de todas. Walt se afundou e levou Jesse consigo. Fiquei feliz, no entanto, que o rapaz não tenha matado seu antigo mentor. Não precisava. O mesmo já havia sido atingido por sua própria bala. Poético, devastador, como Breaking Bad é. Confesso que me decepcionou um pouco a participação quase nula de Aaron Paul em Felina. O personagem merecia mais, mas acabou sacrificado em pró da história.

Após a fuga de Jesse, acompanhamos os momentos finais de Mr. White. Sim, aqueles minutos finais em que nos damos conta que está acabando. Com aquele sorrisinho no rosto, porque está acabando de forma incrível. Walter caminha pelo laboratório de metanfetamina também com seu sorriso e olhar tenro. Fica clara ali sua paixão pela química, bem como seu orgulho que novamente vem a tona ao tocar em um dos aparelhos do laboratório pela última vez. O reflexo parece mostrar o antigo e icônico visual de Heisenberg, com a cabeça raspada e cavanhaque. A camisa, no entanto, é verde, de quando conhecemos Walter White.



Por fim, a morte anunciada de nosso amado e odiado protagonista, ao som de uma canção cujo verso diz "my babe blue / meu bebê azul". Não poderia ser mais apropriado. A câmera então se afasta do rosto de Walt e sobe, seu corpo estirado ao chão, tal como ocorrera na icônica cena em que o químico jazia na cova de sua casa na 4ª temporada. Breaking Bad não podia acabar sem uma rima visual marcante.

Ferro, Lítio, Sódio. Sangue, Metanfetamina, Lágrimas. Felina. Finale. #GoodbyeBreakingBad


S05E16
S04E11

Agradeço a todos que acompanharam as reviews de Breaking Bad aqui no blog e compartilharam comigo a emoção de acompanhar uma das melhores séries que já tive o prazer de assistir. Obrigado!

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Comentários

  1. Ainda estou extasiada com esse final. Amei a calma e a elegância com que Vince Gilligan encerrou a trajetória de Walt. Chorei como poucas vezes por um programa de tv e agora, observando minha modestíssima coleção de dvds de outras séries, já não consigo mais me empolgar com elas (como outrora) tendo assistido a essa fantástica BrBra. Ainda bem que tenho as 4 temps em dvd e estou esperando o lançamento da 5a., para rever daqui há algum tempo e descobrir novos detalhes do show. Concordo contigo sobre a muito discreta participação de Aaron Paul e seu personagem: o cativante Jesse merecia mais umas cenas, talvez indicando seu futuro. Mas foi linda a despedida silenciosa dele e seu parceiro Walt, só seus olhares dialogando, como se dissessem: sim, agora estamos ambos livres (Walt livre das mentiras e Jesse livre de Walt). Mérito desses dois atores bárbaros, que, pra mim, são metade dos méritos de BrBa. Torço para que Aaron Paul não se transforme em mais um ator-de-um-papel-só, pois ele arrebentou na série (acho que desde aquela cena em ABQ, 2a. temp, qdo ele desaba no colo de Walt pela dor da morte de Jane, ele protagonizou quase todas as melhores cenas da série até o fim). E a música do Badfinger na cena final não poderia ser mais perfeita para embalar a morte satisfeita de Walt. Se o Emmy for sério mesmo (Jeff Daniels, aff) vai faltar estatueta pra Bryan, Aaron, Anna, Michelle MacLaren, Michael Slovis e Vince Gilligan, todos fodas demais. Parabéns pelos seus textos sobre BrBa, superlegais e esclarecedores. Abraço!

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    1. Muito obrigado Elizabeth! Foi sempre um prazer escrever para Breaking Bad. Já estou com saudades.

      Concordo com tudo que você falou sobre Aaron Paul e o Emmy 2014. Apesar da distância daqui até a premiação, espero que os votantes não esqueçam o que foi essa reta final como um todo. Simplesmente genial!

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  2. Foi difícil ficar longe do Face e dos blogs esses dias, pois só consegui assistir ao final ontem, mas valeu cada momento de espera, que final espetacular. Adorei seu review, para mim a série foi fechada com chave de ouro em todos os sentidos, deixando aquele sentimento que somente os grandes filmes conseguem deixar: já acabou, quero mais e a lembrança por dias a fio. Tudo muito fantástico. As cenas são mesmo muito marcantes, a cena da Lydia ficou perfeita, cada detalhe foi mostrado, para mim ficou óbvio na hora que ela era a destinatária da Ricina. O massacre do Uncle Jack, ele não deixou nem ele falar, e esse ponto ficou perfeito. O dinheiro ali já não fazia nenhum sentido, o último esforço do Jack mostra o seu péssimo caráter.
    A cena com a Skyler foi mesmo perfeita, foi o momento de redenção com a família. Eu fiquei morrendo de dó da cena do Flynn, mas qualquer final diferente desse não seria plausível. Certas coisas não tem volta, as decisões que tomamos na vida definem o nosso futuro, e o caminho escolhido por Walter não poderia terminar diferente.
    Não consigo tirar essas cenas da minha cabeça, só me resta começar a assistir a série de novo, obrigado Netflix.
    Abs,
    Fabiana

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    1. Imagino a sua angústia de ter que assistir o final somente ontem. Eu esperei um dia, e já não estava aguentando. haha.

      Concordo com tudo que disse nos comentários. Uma série inesquecível, sem dúvida alguma.

      Abraços!

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