Análise de Cinema | O Inquilino


Hoje na análise de cinema falarei sobre um terror psicológico de primeira classe. O Inquilino, filme de 1976, estrelado e dirigido por Roman Polanski, que é um de meus diretores favoritos.

A história se passa em Paris, onde Trelkovsky (Polanski) é o novo inquilino de um prédio que acaba de sofrer com o trauma de uma moradora que se atirou da janela de seu quarto. O detalhe é que, a mulher suicida, era a antiga inquilina do apartamento de Trelkovsky. Fato que  perturba a mente do atual morador, que aos poucos vai perdendo a sanidade. A obra, como todo bom terror psicológico, sabe mexer com o espectador e perturbá-lo, sem ao certo sabermos o porquê. Nas imagens entenderemos um pouco mais sobre isso. As escolhas que Polanski utiliza na direção das cenas são fascinantes. Efeitos práticos, físicos e visuais explicitam a confusão mental do protagonista ao longo da obra.

No quadro abaixo podemos observar Trelkovsky sentado, sozinho, observando crianças e pais brincarem em um parque, no inverno frio de Paris. O isolamento em cena já nos mostra que o personagem encontra-se à parte daquele mundo. Já as cadeiras, espalhadas de formas desconexas e sem padrão algum (notem que cada uma está virada para um lado diferente, uma delas ao chão), denunciam a confusão mental vivida pelo homem.


O protagonista, no decorrer da narrativa, vai perdendo a sanidade pouco a pouco. Em um momento, com sede e ardendo em febre, tenta alcançar a garrafa d'água que encontra-se em uma cadeira ao lado de sua cama. Trelkovsky, no entanto, não consegue alcançá-la, pois a garrafa parece não existir. E, de fato, não existe. Polanski utiliza de uma imagem unidimensional que, em perspectiva, nos faz acreditar que ali encontra-se uma cadeira e uma garrafa, quando na verdade é apenas uma imagem, uma pintura. Percebam a sombra do toque da mão do ator/diretor no objeto.


Em outro momento, o personagem caminha com dificuldade pelo corredor do edifício, que parece se mover e se desfigurar. Para criar esse efeito em tela, e na percepção do espectador, o diretor construiu um set que evidencia a confusão mental de Trelkovsky. Notem como as escadas não levam a local algum (uma delas sai da porta de um apartamento!) e o chão é levemente inclinado, assim como o batente da porta ao fundo da tela. 


Na cena seguinte, o protagonista entra em seu quarto, e a sensação de insanidade permeia a  tela e a visão do espectador. Novamente utilizando de perspectiva forçada, Polanski enquadra a si mesmo com seus móveis ao fundo. A medida que caminha em cena, os objetos revelam-se bem maiores do que o comum.


No quadro abaixo, a cadeira e a cômoda com o dobro do tamanho.



Agora, a cadeira com a garrafa d'água não é mais unidimensional, e assume quase o tamanho do corpo do protagonista.


Em tempos contemporâneos, onde a computação gráfica domina as obras cinematográficas, esse tipo de efeito físico quase não existe em tela. O que, sem dúvida alguma, é uma pena. Assistir a essas cenas em perspectiva forçada, causam um efeito único no espectador, que efeito gráfico algum consegue se assemelhar. 

O Inquilino não é um filme muito conhecido da grande massa, mas é uma obra excelente, que merece ser assistida, como a grande maioria dos filmes de Roman Polanski. Pra quem gosta de um bom suspense/terror psicológico, recomendo bastante.

Isso é cinema!

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