CRÍTICA | Antes da Meia-Noite

Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke
Elenco: Julie Delpy, Ethan Hawke, entre outros
Origem: EUA / Grécia
Ano: 2013



Logo em sua cena de abertura, Antes da Meia-Noite causa certa “estranheza” no espectador ao focar em Jesse (Ethan Hawke) despedindo-se de seu filho em um aeroporto (cena de extrema importância para o restante da obra). A “estranheza” está no fato de assistirmos aquele personagem de uma forma nunca antes vista, exercendo o papel de pai. Então percebemos que se passou um bom tempo desde a última vez em que o vimos, e que muita coisa deve ter mudado em sua vida. Por um momento nos perguntamos onde estaria Celine (Julie Delpy), mas logo somos acalentados por meio de um belo plano que revela a mesma, esperando o amado à porta do carro. Plano esse que me trouxe um sorriso aos lábios na sala de cinema, pois constatava que a expectativa gerada com o término de Antes do Pôr-do-Sol havia se cumprido.

Após a despedida no aeroporto - e rigorosos 9 anos deste seu reencontro em Paris -, Jesse e Celine estão passando férias de verão na Grécia, acompanhados de suas filhas Elle e Nina (que são gêmeas), à convite de amigos autores. Nesse ambiente, acompanhamos mais uma vez um dia de seu relacionamento, bem como a intimidade e as agruras que inevitavelmente são trazidas pelo tempo em qualquer união. Sem que ambos percam, no entanto, suas personalidades, que permanecem intactas, ainda que intensificadas pela idade e preocupação que a vida trás.

O roteiro escrito pelo diretor Richard Linklater (Escola de Rock), Hawke e Delpy acerta por investir nesse senso de realidade, aproximando as situações e conversas do casal de forma visceral à vida de qualquer um que assiste à obra e já teve – ou tem – uma relação duradoura. E que diálogos. Se antes vimos àqueles jovens personagens falando sobre amor, sonhos e o temor da morte, hoje, mais velhos, falam sobre a expectativa de vida e o que fazer da mesma, a sensação de serem pais, bem como, se tomaram as escolhas certas durante suas trajetórias.

Utilizando de longos planos-sequências, Linklater explora ao máximo a intimidade com que Hawke e Delpy atuam. E ainda que o tempo em tela seja dividido com outros atores durante boa parte do filme, é quando o casal toma as ruas gregas em diálogos e caminhadas que, particularmente, nos encantamos. Suas interações são de uma naturalidade impressionante, que foi sendo conquistada filme a filme, e 18 anos de experiências depois. O fato de ambos os atores terem co-escrito o roteiro (como já havia acontecido em Antes do Pôr-do-Sol) tem importância fundamental nesse sentido.

O diretor também acerta por fazer referências a sua própria trilogia de forma singela e totalmente bem vinda. Em determinado momento, após uma séria discussão que resultou em troca de ofensas e mágoas, Jesse e Celine trocam olhares discretos, sem a intenção de que o outro perceba, tal como fizeram em Antes do Amanhecer, durante a célebre cena da cabine musical. Em outra oportunidade, Linklater volta a enquadrar os locais marcantes por onde o casal passou, como fizera em Viena e Paris. A diferença é que dessa vez ganham destaque os cômodos de um quarto de hotel, onde o clímax da obra se passa. Tal escolha não só cria uma referência visual e de estilo com os filmes anteriores, como serve de recurso narrativo, visto que demonstra a reflexão de um personagem em certo ponto.

Antes da Meia-Noite ainda nos presenteia com uma bonita fotografia (a cena do pôr do sol é particularmente bela), além de uma simples e eficaz trilha-sonora, que só é ouvida quando preciso. O retrato de um romance da vida real não havia deixado de ser emocionante há 9 anos atrás e não o é agora. Estou certo de que também não o será daqui a 9 anos, mas isso não passa de um desejo apaixonado. Mas tomara que assim o seja.

Excelente

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