CRÍTICA | Clube de Compras Dallas

Direção: Jean Marc-Vallée
Roteiro: Craig Borten e Melisa Wallack
Elenco: Matthew McConaughey, Jared Leto, Jennifer Garner, Steve Zahn, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2013


É preciso saber diferenciar uma obra "baseada em fatos reais", de outra "inspirada em fatos reais". Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club), como seu poster indica, faz parte da categoria "inspirada em fatos", o que possibilita que diretor e roteiristas tomem diversas liberdades criativas que, nem sempre, beneficiam o filme de alguma forma. Arrisco dizer que esse é um dos casos, ainda que o longa esteja longe de ser ruim por conta disso. As atuações encarregam-se de alça-lo a voos maiores.

Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é um sujeito desregrado e que trabalha como eletricista, entre outros "bicos" que arranja por Dallas, no Texas. Entre alguns de seus vícios estão a cocaína e as prostitutas, uma combinação que, após alguns anos, o levou a surpreendente descoberta de que contraiu o vírus HIV. Assustado com o diagnóstico de uma morte iminente (os médicos lhe dão 30 dias de vida) e entendendo que o sistema de saúde norte-americano não está preparado para tratar a doença (estamos falando da década de 80), Ron então decide se tratar com medicamentos não autorizados pelo país, o que abre caminho para uma árdua luta contra o sistema.

Se o roteiro de Clube de Compras Dallas é hábil em retratar temas como homofobia e a luta pela cura de uma nova doença que se alastrava durante o período retratado no filme (a falta de conhecimento era tamanha, que em determinado momento vemos um médico sugerir ao paciente que uma das causas do HIV são as relações homossexuais), o mesmo não é tão competente em abordar a real motivação do protagonista para seus atos.

O Clube de Compras, do título, é uma espécie de mercado negro criado por Ron para lucrar com a venda de medicamentos ilegais que causavam resultados melhores do que os utilizados pelo sistema de saúde do país. O que, a principio, surgiu como uma oportunidade de renda, ao longo da obra, se torna uma bandeira na luta pelos pacientes. O longa-metragem de Jean-Marc Vallée é covarde em não tomar as ações do personagem como egoístas ou altruístas, assumindo as duas posições.

Por outro lado, o diretor acerta em construir uma atmosfera destrutiva e suja, favorável a parte das pretensões da obra. Vallée também opta por elegantes cortes de cena, além de estabelecer uma rima sonora interessante para o protagonista. Sempre que o mesmo está próximo de perder a consciência, ouvimos um som agudo, aumentando a cada segundo. Essa rima não só nos antecipa o que está por vir, como causa um desconforto proposital no espectador.

Não há duvida, no entanto, que o grande trunfo da obra são as atuações, como frisei anteriormente. McConaughey (Amor Bandido) entrega uma interpretação realmente marcante, começando pela transformação corporal que sofreu (que é 50% do personagem). Sua indicação ao Oscar é bastante merecida e o ator deve levar a estatueta. Ainda que meu favorito seja outro, a premiação seria merecida, pois McConaughey teve um grande ano. 

Quem rouba a cena, porém, é Jared Leto (Réquiem para um Sonho). O ator vive Rayon, um transexual, portador do vírus HIV, e que acaba tornando-se o braço direito de Ron em seu negócio. Coincidentemente, seu personagem é o que possui um dos melhores arcos da narrativa. Sua transformação corporal e trabalho de voz impressionam, pois seria fácil cair na caricatura, o que não acontece aqui.

Clube de Compras Dallas é uma obra irregular, mas que retrata uma época e um tema importante, com interpretações que elevam a projeção a outro patamar. Não sei dizer se o filme merecia estar entre os melhores do ano, talvez houvessem opções melhores, como o belo drama belga, Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown). Mas também sabemos que o filme será mero figurante entre os indicados, brilhando apenas nas premiações de elenco.

Bom

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