CRÍTICA | Whiplash: Em Busca da Perfeição

Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Miles Teller, J. K. Simmons, Paul Reiser e Melissa Benoist
Origem: EUA
Ano: 2014



Andrew Neyman (Miles Teller) é um jovem estudante de música que sonha em se tornar um dos maiores bateristas de jazz que já existiu. Com esse objetivo ele ingressa em uma conceituada escola de música norte-americana, onde acaba sendo selecionado para fazer parte da banda de jazz que irá competir em festivais. Durante ensaios e apresentações, ele passa a ver seus limites físicos e mentais sendo testados pelo rígido instrutor Terence Fletcher (J. K. Simmons), que utiliza de métodos, digamos, não convencionais para extrair o melhor de seus músicos.

Assistindo à Whiplash: Em Busca da Perfeição (o subtítulo, ainda que desnecessário, faz jus ao longa) tracei um paralelo quase que imediato com Cisne Negro (Black Swan, 2010), de Darren Aranofsky. As obras têm muitos elementos semelhantes entre si, a começar pelo tema central: a obsessão. A busca pela perfeição no formato de arte que os protagonistas escolheram como meio de vida - lá o balé, aqui a bateria - faz com que ambos se sujeitem a abusivas formas de tratamento de seus instrutores, que, por sua vez, não medem esforços para transformar seus “pupilos” em grandes artistas, mesmo que aparentemente isso não seja visível aos olhos. Aqui, como lá, o resultado é gratificante, mas Whiplash apresenta um ponto fraco que Cisne Negro não possui: o roteiro, em certos aspectos.

Seria importante, para que a obra funcionasse plenamente, que os personagens que cercam o baterista tivessem um tratamento melhor de roteiro, para que nós, os espectadores, nos importássemos com as ações tomadas pelo protagonista para com os mesmos. Um bom exemplo é quando Neyman termina seu recente relacionamento para se dedicar aos ensaios. Não houve tempo para nos cativarmos com aquele romance ou mesmo para que sentíssemos o peso de sua decisão. O mesmo acontece na relação com o pai, que, pouco abordada, acaba enfraquecendo um importante momento do clímax da narrativa.

Ainda que o roteiro apresente problemas, o longa tem muitos acertos que o alçam a um patamar superior. O maior deles é a direção do desconhecido Damien Chazelle (curiosamente também é o roteirista), que transforma cada ensaio e apresentação em verdadeiros embates entre músico e mentor. A tensão empregada - fruto também de uma fotografia soturna constante – é admirável, visto que assistimos a ensaios de uma banda, algo que na teoria não possui tensão alguma. Destaque para a incrível apresentação final, que de uma maneira crescente e utilizando de inteligentes movimentos de câmera, faz com que os espectadores saiam em êxtase da sala de cinema. Um encerramento corajoso, aliás, digno de nota.

Também é preciso ressaltar as atuações. Se Miles Teller (O Maravilhoso Agora) ainda é tido como uma promessa, talvez seja o momento de começar a considera-lo uma realidade. A segurança e a competência com que assume seus trabalhos são notáveis, e aqui ele consegue passar nuances importantíssimas para que a obra funcione – imagino a dificuldade que deve ter sido gravar algumas cenas específicas tocando bateria. J. K. Simmons (da trilogia Homem-Aranha) por sua vez, sempre foi uma realidade, mas encontra aqui a chance de entrar para o primeiro escalão de Hollywood. Seu Fletcher é assustador pela facilidade com que veste a mascara de uma pessoa pacifica e simpática para, logo depois, tornar-se uma figura assustadora, no que diz respeito ao tratamento para com seus músicos. O momento em que joga uma cadeira em Neyman, pelo simples fato do rapaz ter errado uma passada, e a consequente reação do baterista, deixa claro que ambos os personagens perseguiriam suas obsessões ao longo de toda a narrativa.

Contando ainda com uma trilha sonora que deve deixar qualquer fã de jazz feliz (eu nem sou, mas é quase impossível não sair do filme querendo escutar mais um pouco), Whiplash: Em Busca da Perfeição traça um retrato competente, e ao mesmo tempo perturbador, da obsessão por um objetivo, ficando no ar a velha questão: você está disposto a tudo para alcançar seu sonho?

Ótimo

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