CRÍTICA | Sniper Americano

Diretor: Clint Eastwood
Roteiro: Jason Dean Hall
Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller e Luke Grimes
Origem: Estados Unidos
Ano: 2014


Há uma cena emblemática em Sniper Americano (American Sniper), que mostra um pelotão de Navy Seals sentados em uma sala, recebendo instruções de sua próxima operação. No fundo da mesma sala encontram-se dois snipers, também atentos as instruções, mas de pé, tal qual um par de vigilantes, como se observassem todo o ambiente e seus companheiros. Esse enquadramento diz muito do que o filme se trata e da visão de nosso protagonista sobre seu papel na sociedade norte-americana. 

O longa-metragem é baseado na auto-biografia de Chris Kyle (Bradley Cooper), tido como o atirador de elite mais letal da história do exército norte-americano com mais de 160 mortes confirmadas (estima-se que o número real passa da casa dos 250). E entender que o novo filme de Clint Eastwood (Jersey Boys) retrata a visão de Kyle sobre os conflitos apresentados é essencial para compreendermos sobre o que realmente a obra se trata. Isso explica, por exemplo, o porquê de parte da audiência ter recebido o longa como material de propaganda do patriotismo "yankee", algo que, particularmente, não concordo.

Após Steven Spielberg (Lincoln) abandonar o projeto por conta de questões orçamentárias, Clint Eastwood assumiu a cadeira da direção, entregando, aos 84 anos, um de seus melhores trabalhos até aqui. Gosto especialmente da montagem aplicada no longa, que, juntando diversas cenas rápidas e objetivas, simula, de certa forma, uma coletânea de memórias do protagonista, algo que soa correto no contexto da narrativa. Além disso, Eastwood traça um inteligente contraponto ainda no primeiro ato, quando intercala cenas do treinamento de Kyle com momentos em que gradativamente se apaixona por Taya (Sienna Miller, bela e competente em tela), numa clara referência as paixões daquele homem. Esse padrão de montagem termina justamente quando o protagonista embarca em sua primeira excursão ao Iraque.

Aliás, gosto muito da forma como o roteiro trabalha, através das excursões, a degradação da mente de Kyle pela guerra. Se na primeira viagem o Seal já se destacava na operação, mas não conseguia esquecer da mulher (o que rende um dos melhores momentos da obra, quando fala ao telefone com a esposa ao mesmo tempo em que mira seu rifle em suas possíveis vítimas), nas demais excursões ele parece querer distância da mesma, ficando cada vez mais focado naquilo que acredita ser seu papel naquele conflito: proteger os soldados americanos.

Bradley Cooper (Trapaça) entrega mais uma grande interpretação, provando de uma vez por todas seu potencial dramático. Sua transformação física é evidente (ganhou peso e massa muscular para o papel), mas a composição do personagem é o grande diferencial aqui. O ator assume um sotaque texano carregado, sem parecer forçado, e passa muitas de suas expressões pelo olhar que atravessa a mira de seu rifle. Um momento em especial deve ter rendido sua indicação ao Oscar, quando Kyle está com uma criança sob a mira de sua arma, e torce copiosamente para que a mesma largue o lança misseis que carrega, do contrário teria que executá-la (se ele o faz ou não, você deve assistir o filme para descobrir).

Deve-se destacar também o trabalho de fotografia e direção de arte, que simulam as zonas de guerra com extrema realidade. E se os efeitos digitais não são grande coisa (fruto do baixo orçamento), ao menos não são usados em demasia, o que não compromete o resultado final do longa.

Com um encerramento que é um verdadeiro soco recheado de ironia no rosto do espectador (e se você não conhece o destino de Chris Kyle, aconselho a permanecer assim até que assista ao filme), Sniper Americano mostra-se um poderoso retrato da degradação da mente humana por conta do terror da guerra, por mais patriota que o soldado possa ser, esse impacto é sempre sentido. Curiosamente me fez lembrar bastante de O Franco Atirador, ainda que sejam obras bem diferentes. Ambas indispensáveis.


Ótimo

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 Já havia publicado um trailer do filme no blog, para conferir clique AQUI

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