5 Bons Filmes Brasileiros Recentes


O Cinema brasileiro é riquíssimo e, infelizmente, poucos dos nossos compatriotas dão a ele o devido reconhecimento. Apenas nos últimos 4 anos, tivemos diversa obras lançadas que provam essa riqueza e contestam a comum negligência que se dá ao Cinema realizado no nosso país. Abaixo, listo 5 dessas obras e convido vocês a, não apenas assistirem aos filmes, mas também procurarem saber mais sobre o incrível Cinema do Brasil.


Casa Grande (2014)

Direção: Fellipe Barbosa

Jean (Thales Cavalcanti) é um garoto que está prestes a acabar o ensino médio em um colégio de classe alta na cidade do Rio de Janeiro. A rotina de vida de sua família também está prestes a mudar, visto que seu pai, Hugo (Marcello Novaes), mesmo negando insistentemente, está observando sua empresa falir.

O que mais chama a atenção aqui é que não se trata de uma história cheia de reviravoltas ou ideias mirabolantes, e sim o comentário, muitas vezes sutil, realizado pelo diretor, sobre a divisão de classes e a desigualdade que ainda assolam a vida do brasileiro. Com cenas que demonstram a distância social entre patrões e empregados domésticos, Casa Grande tem grande mérito, por expor situações de convivência entre classes que beiram o absurdo, o que dá ao longa um tom cômico, mas sempre preservando o olhar crítico.

O protagonista, Jean, é bem construído, por mais que possamos achá-lo, por vezes, bastante ridículo devido à influência de sua limitada bolha social. É fácil simpatizar com a situação de confusão extrema pela qual um adolescente que começa a se abrir para a vida precisa passar. É um filme que demonstra questões bem complexas na nossa sociedade com resquícios escravistas de uma maneira que provoca reflexão.

O diretor, Fellipe Barbosa, acabou de ganhar o Grande Prêmio da Semana da Crítica em Cannes por Gabriel e a Montanha. Vale a pena ficar de olho nos trabalhos desse jovem cineasta.


Que Horas Ela Volta? (2015)

Direção: Anna Muylaert

Na mesma linha de pensamento do filme anterior, Que Horas Ela Volta? é uma obra que, inegavelmente, questiona os imensos abismos sociais aos quais a sociedade brasileira está submetida. Val (Regina Casé), uma empregada doméstica na casa de Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli), e vai receber a filha, Jéssica (Camila Márdila), que não vê há dez anos. Val é retirante nordestina e não visita a sua terra natal há muitos anos. Jéssica chega para fazer o vestibular de uma renomada universidade paulista e, na sua estadia na casa dos patrões de sua mãe, questiona diversas barreiras invisíveis e julgamentos silenciosos que acontecem naquele local.

Assim como em Casa Grande, aqui o filme parece acreditar no poder do jovem de desconstruir tabus e expor problemas na nossa estrutura social. Aqui, o destaque são as performances poderosas e sensíveis de Regina Casé e Camila Márdila, que guiam a obra. As situações pelas quais suas personagens passam adicionam um outro elemento à narrativa: a questão do machismo e como ele é acentuado quando se trata da opressão da classe alta às classes mais baixas.

O longa ganhou vários prêmios em festivais renomados, como Sundance e o Festival Internacional de Berlim.


Aquarius (2016)

Direção: Kleber Mendonça Filho

Continuamos na temática de crítica social, mas em Aquarius, mudamos muito de cenário e de narrativa. Clara (Sônia Braga) é uma crítica musical aposentada que luta para manter a posse de seu apartamento no edifício Aquarius, na orla de uma das mais famosas praias de Recife, que está sendo ameaçado de demolição por uma grande construtora que já possui todos os outros apartamentos do local.

Clara é uma representante da classe média alta, que tem posses e bastante poder econômico, mas Kleber Mendonça Filho não comente o erro de a pintar como uma vítima do sistema, sempre reforçando a sua condição e os seus privilégios em relação a outros personagens, como Ladjane (Zoraide Coleto), sua empregada doméstica. A luta de Clara é por um apego sentimental, e a principal mensagem do filme é de que os objetos e locais de moradia não são meros produtos inseridos em uma estrutura capitalista, mas são também da esfera afetiva do ser humano, e sua destruição ou alienação não podem ser vistos como o simples girar da máquina econômica.

Kléber Mendonça Filho foi indicado para receber a Palma de Ouro por este filme em Cannes, no ano de 2016.


Divinas Divas (2016)

Direção: Leandra Leal

Entrando no âmbito dos documentários, temos este filme de Leandra Leal, que estreou apenas recentemente em várias salas do circuito brasileiro. Um longa sob um ponto de vista bastante pessoal da realizadora, que faz uma narração em segundo plano.

Divinas Divas conta a história da primeira geração de artistas trans e travestis do Rio de Janeiro, ainda nas décadas de 60 e 70, que utilizaram o Teatro Rival (de Américo Leal, avô de Leandra) para deslancharem suas carreiras. Leandra conta essa história de forma a fazer um paralelo com a sua própria, mas nunca passando a sua experiência por cima da experiência das artistas a que se refere. E dessa maneira, temos um filme imensamente respeitoso, a ponto de fazer homenagem a artistas pioneiras como Rogéria e Valéria, que mudaram completamente os paradigmas comportamentais e sociais da época em que viveram. A diretora é bastante sensível e o filme se passa como uma grande ode àquelas que vivem da forma como bem entendem.

O longa ganhou o prêmio de Melhor Documentário pelo Júri Popular do Festival do Rio de 2016.


Cinema Novo (2016)

Direção: Eryk Rocha

Chegamos ao último longa da lista, que também é um documentário. Cinema Novo não conta com uma narração em segundo plano para descrever os eventos, é um filme que, apenas com a forma que é montado, consegue passar uma ideia de cronologia e de ordem.

Este longa pode ser adicionado à categoria dos vídeo-ensaios ou doc-ensaios, obras que procuram discutir, por meio da linguagem audiovisual, algum assunto específico de modo a pensar sobre ele e causar reflexão. Aqui, o assunto abordado é o movimento cinematográfico Cinema Novo, da década de 60, que norteou os principais artistas brasileiros da época, como Glauber Rocha, Ruy Guerra, Cacá Diegues e Joaquim Pedro de Andrade. Misturando entrevistas, testemunhos e diversos trechos dos próprios filmes, esta obra consegue discutir a importância desses cineastas num período particularmente complicado da democracia brasileira, e acaba, por consequência, discutindo também sobre a importância da própria arte em face das questões políticas.

Eryk Rocha recebeu o prêmio do Olho de Ouro (melhor documentário) no Festival de Cannes de 2016.

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