CRÍTICA | O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki

Direção: Juho Kuosmanen
Roteiro: Juho Kuosmanen e Mikko Myllylahti
Elenco: Jarkko Lahti, Oona Airola, Eero Milonoff, Joanna Haartti, entre outros
Ano: 2016
Origem: Finlândia / Suécia / Alemanha


Recém-saído do boxe amador, o pugilista finlandês Olli Mäki (Jarkko Laht), com apenas 10 lutas na categoria profissional, recebe uma chance que parece ser única em sua vida: decidir o título mundial dos pesos-penas, em casa, contra o atual campeão, o norte-americano Davey Moore, no ano de 1962.

Clássicos como Rocky, um Lutador e Touro Indomável são sempre lembrados e qualquer lançamento de filme de boxe gera comparações. O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki é semelhante a esses grandes sucessos e o esporte acaba falando mais alto, certo? Errado!

O filme de Juho Kuosmanen nos mostra os acontecimentos antes da luta, com Olli sendo orientado por seu técnico, Elis Ask (Eero Milonoff), não só durante os treinos pesados e intensos, como também em relação ao comportamento que o atleta deve ter para com a imprensa e o público. Além da preparação, vemos também o relacionamento raso que o protagonista tem com Raija (Oona Airola), uma jovem completamente diferente dele, mais cativante e receptiva, mas que está sempre ao lado do lutador, para o que der e vier. Nota-se em Olli uma postura completamente oposta a de um candidato a ídolo, um homem disposto a nadar contra a maré e ditar as regras do seu jeito.


Olli ama o esporte e adora treinar, mas demonstra não estar preparado para lidar com a pressão de se tornar um ícone nacional. É constantemente cobrado para vencer, mas odeia dar entrevistas, tirar fotos e participar de eventos com patrocinadores, ainda assim está sempre presente, para não decepcionar os envolvidos. É completamente avesso ao sucesso e sempre com discurso modesto. 

O contexto retratado pela oba tem a intenção de abordar a pressão que o ser humano sofre pela conquista da vitória, bem como o jogo de cintura para lidar com regras impostas pela sociedade e o mercado capitalista. A pessoa deve sempre estar na moda, andar com carrões, estar rodeado de mulheres bonitas e ostentar roupas caras. Nada disso impressiona nosso protagonista.

A fotografia em preto e branco aliada as cenas em plano fechado são excepcionais, e traz um ar documental à obra, mostrando a rotina de Olli e os bastidores da preparação para a luta do ano. Tomadas isoladas, como as cenas em que o protagonista anda por corredores vazios ou quando corre com uma pipa pela floresta, refletem bem o sentimento de solidão que o permeia. 


A relação de conflito com o técnico e o romance com Raija, dois fatos antagônicos a rotina de um postulante ao título mundial, são construídas de forma consistente e bem articuladas durante a narrativa, um lado delicado e humano nunca antes visto em Olli. O foco inicial, criando a expectativa da criação de um herói nacional, seguido do isolamento e prostração do protagonista, são essenciais para mostrar que a felicidade pode estar onde você quiser, e não necessariamente em um projeto.

O Dia Mais Feliz da Vida de Oli Mäki é uma obra que trata sim de esporte, mas prefere focar sua atenção nos sentimentos, fazendo uma análise social impactante, sobre uma sociedade cada vez mais consumista e obcecada pelo desejo do ser e parecer. O famoso culto à imagem, presente ainda mais em tempos contemporâneos. Estar em evidência sempre foi uma obsessão, especialmente hoje, em nossa sociedade moderna e informatizada.

Ótimo

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