HQ | Elektra Saga: uma das séries indispensáveis da Marvel


"Ela é uma pessoa amarga e solitária, que está agredindo o mundo que a privou do pai. Ainda assim, é uma mulher... A primeira que amei."

Uma das personagens mais amadas da Marvel acabou de receber um encadernado dedicado a ela que você não pode perder, pois trata-se justamente da fase do grande e único Frank Miller.

Ouve o "Grrrrrrr".

As histórias reunidas são justamente as primeiras em que a personagem apareceu, a primeira se chama Elektra, quando Miller, que já desenhava a série há algumas edições, apenas dando sugestões quanto aos roteiros, assumiu também a parte da trama, tendo o igualmente competente Klaus Janson ajudando com as cores e a arte-final. Ao adicionar a Elektra na mitologia do Demolidor, Miller já sintetiza muito do seu estilo (ou o que viria a ser o seu estilo, já que na época ele estava começando a trabalhar com HQs): ela é uma mulher sedutora, perigosa e de atitude (quem esquece as prostitutas de Sin City?), surge de forma quase aleatória, como uma ninja mortífera (apesar da inteligência, não dá pra negar um tom de loucura nas tramas do escritor) e, ao mesmo tempo, possui grande profundidade sentimental, mesmo sendo uma personagem fria, que quase não fala. Ainda que hajam fanfarronices, outro aspecto inegável do talento de Miller é a forte sensibilidade dos seus textos.


Nesta primeira aventura, a mercenária Elektra chega na cidade do Demolidor, e durante um divertido flashback, o herói se lembra de quando a conheceu na faculdade de Direito, e ela era a bela e inteligente Elektra Natchios, filha de um embaixador grego. Os dois se apaixonaram profundamente, mas os caminhos da vida levaram Matthew a se tornar um super-herói e Elektra uma assassina mercenária. Apesar de ser jovial e bonitinho, o romance entre os dois personagens não fica cansativo como aqueles clichês de novela, provavelmente pelo jeito certeiro com que Miller usa os sentimentos dos personagens, sempre de forma misteriosa e intensa.

Apesar da ninja ser extremamente fria, a história sempre deixa pequenas amostras de que ainda há humanidade nela.

Depois disso há um grande salto, precisamente seis edições, para O Assassinato de Matt Murdock. Quando os ninjas da Tentáculo são mandados para matar o advogado que já foi seu amante, Elektra retorna a Nova York e se torna novamente uma das principais coadjuvantes das aventuras com seus sentimentos ambivalentes quanto ao justiceiro. A fase de Frank Miller e Klaus Janson foi tão bem-feita que além de introduzir Elektra, tornou o Demolidor um dos maiores heróis da Marvel, na época sendo um personagem mais secundário, cuja revista corria o risco de cancelamento. Nesta fase há um emaranhado de problemas: Foggy e Matt como advogados aparecem defendendo seus clientes no tribunal e junto ao carismático jornalista Ben Urich estão lutando contra a eleição de um gangster que está tendo ajuda do crime organizado pra se tornar prefeito, visando ampliar as influências do Rei do Crime para a área política.


O leitor questiona constantemente de qual lado ficará Elektra, já que, como seu próprio criador diz, apesar de carismática, ela não se tratava de uma anti-heroína, mas realmente de uma vilã, afinal, ela vende seus serviços por dinheiro. Aqui Miller ainda não desenhava tão bem quanto faria com o Wolverine e o Batman, mas já era incrível! As páginas possuem vários quadros, as sequências de luta são muito ágeis, herança de mangás como Lobo Solitário. Como já dito, apesar de toda a violência, tensão e crimes, Miller tem um senso de humor honesto que não apela pra violência explícita ou coisas do tipo em momento algum, e funciona bem demais! Em uma edição há aparições especiais de Luke Cage e Punho de Ferro, os heróis de aluguel, e os dois estão muito engraçados. Mas isso é reservado ao Demolidor, seus amigos e os bandidos que ele enfrenta, com a Elektra há apenas drama e mistério.


É bom dizer que apesar do título "Elektra" do encadernado, todas as histórias não são de uma mensal da personagem, mas da revista própria do Demolidor nos anos 80. Em algumas ótimas histórias ela quase não chega a aparecer, como Onde os Anjos Temem Caminhar, em que Matt vai atrás do seu velho mestre para tentar recuperar seu sentido de radar e Condenados, onde ele se perde nos esgotos junto ao repórter Ben Urich. Ambas são memoráveis exemplos de criatividade e aventura. Mas isso não significa que o conteúdo não seja digno de ser dedicado à personagem. Mesmo a mensal não sendo dela, a presença de Elektra é bem influente e marcante, provavelmente o lugar onde ela melhor foi trabalhada nas mãos de seu próprio criador, se tornando tão amada até hoje. Há grandes momentos de tirar o fôlego, quando é praticamente impossível se desligar da história, como a batalha contra o ninja imortal Kirigi e a contra o psicopata Mercenário, que fecha o encadernado de forma grandiosa.


ATENÇÃO: Este volume da coleção Salvat faz um bom trabalho em trazer um arco marcante da Elektra, como já dissemos, talvez seja até o melhor. Mas no que se trata das aventuras do Demolidor , escritas e desenhadas por Frank Miller, há mais do que aconteceu, tanto antes, quanto depois das edições que foram reunidas no encadernado. Toda a série é indispensável, alucinante como os exemplos que acabamos de citar. Ela foi relançada recentemente em três volumes chamados Demolidor por Frank Miller & Klaus Janson, podendo ser facilmente encontrado na internet com grandes descontos, vindo com todas essas histórias que acabamos de elogiar e muitas outras. Tudo junto daria cerca de uns R$150,00, enquanto o encadernado pegando a saga da Elektra custa apenas R$40,00, menos de um terço. Cabe a você escolher o que é melhor, só achei interessante explicar para você não correr o risco de comprar histórias repetidas. Mas pode ter certeza que "Elektra Saga" é uma compra excelente para quem quer curtir uma boa HQ, conhecer melhor os personagens, ou para essas pessoas que dizem que os personagens masculinos tem que virar mulheres pra ter mais representatividade feminina nas HQs. A Elektra (como várias outras personagens) prova que isso é uma grande baboseira.


A ninja chegou a protagonizar um filme solo que se tornou uma referência de sandice e má-qualidade. Para alegria de sua legião de fãs, ela ficou extremamente bem adaptada na segunda temporada da série do Demolidor na Netflix, sendo extremamente sensual e tendo seu lado violento explorado de uma forma bem mais pesada, chegando até a ser perturbadora em alguns pontos. Agora ela vai voltar na primeira temporada dos Defensores, que estréia no mês que vem, com direito ao Demolidor, Luke Cage, Punho de Ferro, Jessica Jones e Justiceiro. Será que a ninja vai chamar atenção no meio desse elenco todo? Com certeza que sim! Aqui vão dicas de outros encadernados que envolvem histórias que Frank Miller escreveu para o Demolidor e sua parceira.

A Queda de Murdock: Considerado o auge de Frank Miller na revista. Após voltar da DC onde lançou sua obra mais famosa, Batman: O Cavaleiro das Trevas, ele trouxe o inigualável desenhista David Mazzuchelli para a Cozinha do Inferno e os dois fizeram um dos maiores clássicos da Marvel e de toda a história das HQs. Aqui o Rei do Crime descobriu a identidade secreta do herói e começa a traçar uma vingança inescrupulosa pra destruí-lo em todos os sentidos: profissionalmente, fisicamente, socialmente e psiquicamente! É uma narrativa muito imersiva no desespero do personagem que passa a desconfiar de todos, desenvolvendo síndrome do pânico. As escalas só vão aumentando até o final. É imperdível e já foi republicado várias vezes, é fácil de encontrar.

O Homem Sem Medo: Com o famoso John Romita Jr. nos desenhos, Miller retorna para o personagem que tão bem adotou e faz sua própria versão mais detalhada dos primeiros dias do herói. Quase todos os principais personagens secundários fazem uma aparição, mesmo que pequena, como Stick, Rei do Crime e até a Elektra! Aqui ele ainda usa o uniforme preto que utilizaram na aclamada primeira temporada da série. É uma leitura muito amada por todos os fãs e o encadernado também vem com a primeira história do personagem, quando ele foi criado por Stan Lee com Bill Everette. Também foi lançado há pouco tempo, se não der pra encontrar em bancas, deve haver na Internet.

Elektra Assassina: Uma das principais referências de surrealismo em quadrinhos. Aqui Miller pegou sua criação e fez uma história completamente inédita, tendo quase nada das características da revista do Demolidor, que aliás, nem participa do gibi. Você descobre mais sobre o sofrido passado da personagem que a tornou uma máquina de matar. A ninja precisa matar um político que está possuído por um demônio ancestral que quer destruir a Terra. Mas o problema é que só Elektra consegue perceber isso, sendo perseguida por agentes da S.H.I.E.L.D. Há loucura, sensualidade e ação, sem dúvida um trabalho único. Os desenhos são do mestre Bill Sienkiewicz. Foi finalmente republicado ano passado, deve ser fácil de encontrar.

Amor e Guerra: mais uma colaboração com o desenhista Sienkiewicz. Aqui a história também não é focada no Demolidor. A esposa do vilão Rei do Crime, Vanessa Fisk, está quase morrendo, então ele manda raptarem a esposa de Paul Mondat, um famoso médico, para que ele cure sua mulher. Quem cuida do rapto é Victor, e a história é focada nele e Mondat. Victor mantém Cheryl, a esposa do médico em cativeiro, mas começa a se apaixonar profundamente por ela e seu estado vai piorando por causa de sua dependência a medicamentos. É um grande thriller de suspense psicológico, realmente não é uma aventura do Demolidor que se esperaria. Infelizmente, faz tempo que não recebe um relançamento e é dificílimo de encontrar!

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