HQ | Hulk, muito mais que um monstro verde


"Se minha teoria se comprovar, este apavorante monstro não passa de uma representação da criança interior de Banner. Ele é somente um menininho triste."
O amado monstro verde da Marvel não recebeu tanto conteúdo novo nos últimos anos quanto esperávamos, após suas aparições no cinema em 2008 e, principalmente, 2012, quando cativou todo o público em Os Vingadores. Na época as expectativas eram grandes, ele havia sido interpretado por ótimos atores - Edward Norton (A Outra História Americana) e o Mark Ruffalo (Ilha do Medo) -, e haviam pistas de que personagens como Líder e Professor surgiriam em continuações. Guillermo del Toro (Hellboy) ainda planejava fazer uma série de TV do gigante esmeralda, que acabou não saindo. Hoje sabemos que, sem qualquer previsão de filme solo, o alter-ego de Bruce Banner terá apenas participação em Thor: Ragnarok, algo decepcionante pra quem esperava que a mitologia própria do personagem continuasse sendo explorada.


Enquanto isso... no mundo dos gibis... a coleção da Salvat fez tanto sucesso que eles estão republicando seus primeiros encadernados da linha Os Heróis Mais Poderosos da Marvel, então não é difícil achar a edição dedicada ao monstro verde, o Hulk! É um encadernado consideravelmente grosso, reunindo nove edições da revista The Incredible Hulk. Tudo começa com o sempre deprimido Bruce Banner tendo que lidar com a ideia de que está com uma doença terminal no cérebro: esclerose lateral amiotrófica. Banner não tem mais sua antiga namorada Betty Ross para apoiá-lo, já que na época dessa história ela está morta. Para um personagem tão trágico, que já tentou se matar e agora está completamente sozinho, o fim não seria tão ruim assim, mas o problema não é esse... ele sabe que com a morte de sua mente, Hulk assumirá o controle.


O primeiro arco de duas histórias se chama Olhos de Serpente. Temendo pelo futuro da Terra caso Hulk fique liberto sem qualquer controle, ele procura ajuda com sua ex-namorada da faculdade, a neurologista Lipscombe, uma loira durona e sarada. Conforme ela tenta ajudar seu perigoso ex-namorado, o leitor é levado ao inconsciente de Bruce Banner, onde vivem as diversas camadas de sua personalidade, representadas por ele mesmo e as várias versões do Hulk. As três principais têm mais atenção:

A TRADICIONAL


O HULK CINZA, que é chamado de Joe Tira-Teima


E o PROFESSOR, que é uma versão do Hulk com visual diferente que conserva a mente racional de Bruce Banner quando transformado.


A sequência é divertidíssima, mesmo que, para quem acompanhou o personagem nas suas principais fases dos quadrinhos, não haja nada de novo. Todos esses conceitos psicanalíticos para representar a complicada mente do monstro gótico já foram usados na fase do autor que os criou, Peter David, que escreveu o personagem por mais de dez anos, aprofundando questões interessantes, mais do que qualquer outro, até mesmo características fundamentais que haviam sido criadas pelo Stan Lee e o Jack Kirby. Uma bela parte da passagem desse autor pode ser encontrada em um encadernado da Salvat chamado Gritos Silenciosos, que foi lançado há um tempo atrás. Mas trata-se de apenas uma parte, pois compilar toda a passagem de David exigiria vários encadernados. Porém, foquemos em Cães de Guerra, que é o arco iniciado após o final de Olhos de Serpente.


No início eles usam o título literalmente, com o exército mandando cães alterados para caçarem o cientista, quando começa a porrada e a influência do exército na história. No tempo em que Banner e a doutora Lipscombe fogem, as três diferentes versões da personalidade do Hulk vão tomando controle de seu corpo, o que causa uma diversidade interessante de acompanhar. Há vários coadjuvantes comuns das aventuras do personagem que acabam se envolvendo na trama, e o vilão que está por trás das operações sujas dos militares é o coronel John Ryker, sociopata que não se incomoda de manipular indivíduos e instituições para alcançar seus objetivos. O novo vilão deixa o velho General Ross no chinelo no que diz respeito a ser inescrupuloso e obsessivo. Eles chegam a citar alguns acontecimentos da história dos EUA que teriam uma mãozinha do personagem para trazer um tom mais realista e crítico ao perigo que ele representa.

"Só posso dizer quem eu acho que ele é. Pra mim, Ryker é a personificação viva de todas as teorias da conspiração já concebidas."


Infelizmente, a publicação conta com alguns erros de digitação nos textos, mas nada que condene a experiência. Cães de Guerra acaba sendo uma ótima sugestão para todos os fãs do personagem, principalmente os que só o conhecem pelo filme. Podem conferir uma aventura solo do Hulk e que conta com elementos diferentes, como a corrupção no exército e o lado emocional do personagem. É uma boa recomendação junto a outros clássicos que todo mundo conhece e fala mais, como Planeta Hulk e Hulk Contra o Mundo.

"Mentiras são úteis, Dr. Banner. Há gente tão ocupada tentando me implicar nisto ou naquilo que ninguém percebe a verdade."

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