Os filmes de Darren Aronofsky


Hoje estreia Mãe! no Brasil, o novo filme de Darren Aronofsky e, novamente, esse auteur fantástico promete nos entregar uma obra tensa e psicologicamente perturbadora. 

Reconhecido e venerado por filmes como Cisne Negro (2010), indicado ao Oscar em várias categorias e que rendeu à Natalie Portman uma estatueta de melhor atriz, Aronofsky é um artista intelectualizado, criador de obras reflexivas e impressionantes. Através de personagens possessivas e psicologicamente perturbadas, o diretor é capaz de materializar temas difíceis como depressão, ansiedade, perfeccionismo e vício.


Pi (idem, 1998)



Aronofsky não tinha completado 30 anos quando ganhou notoriedade com seu primeiro longa, Pi. Produzido com baixíssimo orçamento, o filme narra, em preto e branco, a estória de Max, um gênio matemático que constrói um supercomputador para desvendar questões da existência humana. No entanto, muito embora exista mesmo um padrão matemático constante na natureza, tal padrão é invariavelmente desestabilizado pelo comportamento humano, que é incompatível com a rigorosidade das ciências exatas.


Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000)


Tão intenso e questionador quanto Pi, Réquiem para um Sonho explora as inúmeras formas de alienação presentes na sociedade contemporânea. O roteiro desafiador funciona ainda melhor graças à excelente direção e edição. A impressão que temos ao assistir ao filme é que estamos drogados, desorientados, assim como as personagens de Jared Leto (Clube de Compras Dallas) e Jennifer Connely (Uma Mente Brilhante), por exemplo. Mais do que uma crítica às drogas – lícitas e ilícitas – Aronofsky denuncia o vício como agente desmantelador das relações humanas.


Fonte da Vida (The Fountain, 2006)


Em 2006 Aronofsky lança Fonte da Vida, um filme difícil e que divide opiniões. A estória se passa em três linhas do tempo e trata de temas como transcendência e iluminação, tendo grande inspiração no Hinduísmo. É um filme fotograficamente lindo e é preciso contemplar as imagens e usá-las como complemento do roteiro para apreciar melhor a narrativa.


O Lutador (The Wrestler, 2008)


Em O Lutador, um de seus filmes mais bonitos, Aronofsky faz uma análise sobre o tempo e como a realidade se transforma à medida que envelhecemos. Mickey Rourke (Coração Satânico) – indicado ao Oscar de melhor ator por sua atuação – incorpora um lutador de wrestling que, já decadente, é impedido de voltar aos ringues devido a um problema no coração. Solidão e depressão são alguns dos temas tratados no longa, que é um belo estudo de personagem. Marisa Tomei (Homem-Aranha: De Volta ao Lar) também recebeu uma indicação ao Oscar como melhor atriz coadjuvante por seu papel no filme.


Cisne Negro (Black Swan, 2010)


Cisne Negro é sem dúvida o mais conhecido filme do diretor. Nele, Natalie Portman (Jackie) faz o papel de uma bailarina perfeccionista que enlouquece à medida que se sente ameaçada por sua substituta na produção de “O Lago dos Cisnes”. Mais do que um retrato sobre histeria, o longa é uma análise das relações, por vezes doentias, entre pais e filhos. É uma crítica à forma como algumas famílias pressionam seus filhos a alcançar seus sonhos moribundos, ou como gênios são cobrados para que cresçam cada vez mais geniais. 


Noé (Noah, 2014)


Depois do deslumbrante Cisne Negro, Aronofsky trouxe-nos o controverso Noé. Trata-se da mais cara produção do diretor até então. Nele, o cineasta utiliza de contos bíblicos e textos apócrifos para contar a estória de Noé e sua arca. Todavia, esse não é ao personagem que conhecemos da escola dominical, mas sim um sujeito possessivo utilizado por Aronofsky como uma metáfora do juízo final e do fanatismo religioso crescente em tempos de crise. Ainda assim, serve como um estudo de caso sobre o ser humano e a maldade inerente à raça.


Como seus filmes demonstram, Darren Aronofsky é um autor apaixonado por ideias controversas e que utiliza com genialidade dramas psicológicos, materializando-os na tela através do uso correto de câmera, luz e sombra. Assistir a um de seus filmes é como entrar em uma aula de psicologia. É impossível não discutir sobre o que vimos e como a estória se aplica a nós tão logo saímos do cinema ou desligamos a TV. 

Em uma de suas entrevistas sobre Mãe!, Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida), a proatgonista do filme, conta que, assim que leu o roteiro, disse a Aronofsky:

"Você tem sérios problemas psicológicos."

Não temos necessariamente que concordar com a atriz, porém, ao analisarmos a obra do diretor é notória sua queda por narrativas sobre a psique humana. Ótimo para quem gosta desse tipo de estória.

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Lívia Campos de Menezes é apaixonada por filmes, séries e boa música (leia-se rock'n'roll). Adora ler e viajar. Desde 2015 mora nos Estados Unidos, onde faz MFA em Cinema na UNC School of the Arts.

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