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Postado por
Sumaia Gomes
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Direção: Raoul Peck
Roteiro: Raoul Peck e Pascal Bonitzer
Elenco: August Diehl, Stefan Konarske, Vicky Krieps, Hannah Steele, entre outros
Origem: Alemanha / França / Bélgica
Ano: 2017
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Em plena revolução industrial e em meio ao período onde as condições de trabalho eram praticamente sub-humanas, os pais do marximismo, Karl Marx e Friedrich Engels se conhecem e juntos traçam o que futuramente se tornaria um dos maiores movimentos políticos da história e aquilo que fez nascer o espírito revolucionário na classe operária do século XIX.
O Jovem Karl Marx (Le jeune Karl Marx) se apresenta como mais uma grande obra de Raoul Peck (Eu Não Sou Seu Negro) e, claramente, com um viés que já é característico do diretor, o político. Contudo, engana-se quem pensa que o filme se trata pura e exclusivamente do comunismo, muito pelo contrário, ele se aprofunda nas situações e no contexto histórico-filosófico que levaram/inspiraram Marx (August Diehl) e todo o seu legado intelectual e, claro, nos traz um panorama completo de sua amizade com Engels (Stefan Konarske).
Apesar de não trazer nada que possa ser considerado novo ou marcante quando se trata de fotografia, ambientação ou figurino, O Jovem Karl Marx nos prende por ser capaz de apresentar uma narrativa competente, mesmo que arrastada, do que foi o homem Karl Marx, e não apenas sua figura intelectual. Mais do que um pensador renomado e conhecido mundialmente por obras como “O Capital” e “O Manifesto Comunista”, Marx era um homem comum, com batalhas internas para serem sanadas e com família, esposa e duas filhas para se responsabilizar, ponto esse grandemente explorado por Peck em sua obra. Encaramos os dilemas do personagem em meio às prisões, a completa falta de dinheiro, o desemprego durante o exílio e a sua recusa em deixar de lado ideais e convicções.
Somos agraciados pelas diversas facetas de uma figura histórica, podendo analisar seu perfil de político e contestador de grande ímpeto, de amigo de Engels, marido, pai amoroso e dedicado, e, claro, humano. Através do filme, podemos distanciar a imagem endeusada de um dos maiores nomes da esquerda comunista mundial e trazê-lo para um perfil muito mais cru e realista.
Apesar de querer me manter distante das discussões políticas, acho importante salientar como O Jovem Karl Marx é capaz de nos inserir ao tema de uma maneira mais didática. Mesmo com alguns diálogos que podem ser considerados um tanto complexos pelo espectador, com referências à diversas obras, ainda assim o filme é capaz de nos colocar em meio ao cenário deplorável que era a situação da classe operária do século XIX e, mais ainda, entender, além de convicções políticas, como a revolução que estourou em seguida foi importante para a mudança desse escopo e nos coloca para pensar nos reflexos desses pensamentos para o mundo atual. Além disso, entramos em contato com outros personagens e pensadores, como é o caso de Bakunin.
Quero dizer que praticamente tive um presente através das personagens femininas desse filme. Peck não as coloca em papel de fragilidade, mas nos traz mulheres fortes, pensadoras, atuantes em meio a um movimento político e em um espaço majoritariamente masculino, principalmente levando em consideração a época em que a obra se passa. Jenny (Vicky Krieps), esposa de Marx, está sempre presente, e arrisco dizer que seu marido não teria a metade da força e coragem para continuar em sua luta sem ela, isso sem mencionar a luz de argumentos que Jenny foi capaz de oferecer em momentos em que ele naturalmente não sabia que rumo tomar. O mesmo pode ser dito de Mary (Hannah Steele), esposa de Engels, sem a qual ele não teria qualquer acesso ao cerne da classe operária e suas mazelas, e também à Liga dos Justos, futura Liga Comunista. Não ter personagens silenciadas ou fragilizadas é uma grande vitória.
O filme de Raoul Peck acerta em nos trazer um Karl Marx real, longe do mito e do intelectual, e também ao apresentar uma narrativa repleta de nuances linguísticas, nos proporcionando uma inserção a criação dos pensamentos do personagem. Sem dúvida uma obra que merece ser vista e sua grandiosidade merece respeito.
Bom |
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Louca dos gatos, leitora compulsiva e fissurada em dar pitaco nos filmes de outras pessoas. Jornalista por amor, redatora porque a vida quis assim e pisciana sim senhor, mas talvez eu quisesse ser de escorpião. Oi, tudo bem?
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