CRÍTICA | Invisível

Direção: Pablo Giorgelli
Roteiro: Pablo Giorgelli
Elenco: Mora Arenillas, Diego Cremonesi, Paula Fernandez Mbarak, entre outros
Origem: Argentina / França
Ano: 2017


Que o cinema argentino explora bem as relações humanas, com uma boa carga de dramaticidade em suas narrativas, isso é indiscutível, ainda mais com temas polêmicos como o aborto, que é considerado ilegal na Argentina, mas admissível em casos bastante restritos. Não é o caso da protagonista de Invisível, novo filme de Pablo Giorgelli (Las Acacias).

A história apresenta a jovem Ely (Mora Arenillas), 17 anos, estudante do último ano do Ensino Médio e moradora de um apartamento modesto em um conjunto habitacional no bairro La Boca, em Buenos Aires. Ela trabalha em um pet shop para completar sua renda familiar e vive com Susana (Mara Bastelli), sua mãe depressiva. Ao descobrir que está grávida de Raúl (Diego Cremonesi), dono do pet shop, o mundo de Ely desmorona e a garota terá que tomar uma decisão difícil em sua vida: ter ou não a criança? A partir daí começa uma autêntica odisseia para Ely, composta de muita aflição, desamparo, tristeza e solidão. A falta de opções faz a personagem central cair em desespero e se vê obrigada a amadurecer precocemente.

O roteiro introduz uma sequência lenta de ações que possibilitam ao espectador criar empatia pela protagonista, sem julgamentos, afinal, Ely é um exemplo do que acontece com milhares de pessoas pelo mundo, o drama da gravidez não planejada e a falta de apoio dos pais e do Estado. Você não só se sensibiliza com a história, como também é convidado a refletir acerca da gestação na adolescência e a prática do aborto, ações que, infelizmente, são comuns na sociedade contemporânea. Debates sobre esses assuntos se fazem cada vez mais necessários, e os recursos utilizados por Giorgelli são precisos e eficientes.

Foto: Vitrine Filmes

A câmera na mão acompanhando os passos da protagonista, somada aos enquadramentos fechados nos cômodos da casa e uma fotografia acinzentada, ajudam a reforçar a atmosfera dramática e a demonstrar uma Ely cada vez mais isolada e invisível. Essa última impressão, reforçada pelo tratamento que recebe dos personagens secundários, seja na indiferença dos colegas de escola, no apoio inicial e o sumiço repentino da melhor amiga, na incapacidade da mãe em dar apoio devido à depressão, ou mesmo na indiferença e egoísmo do amante. Ely tenta levar sua vida aos trancos e barrancos, fingindo que nada aconteceu, se vendo ignorada por todos, sem perspectivas de melhora, fazendo jus ao título da obra.

A atuação da jovem Mora Arenillas (Por un tiempo) é segura e capaz de transparecer todo o sentimento de uma adolescente vulnerável, em apuros e quase sem apoio, em um momento tão difícil. Ela teve o mérito de conseguir prender a atenção do espectador até o fim da história, mesmo com momentos mais complicados e decisivos para a trama. 

A aposta de Giorgelli em focar no conflito interno da garota e reforçá-lo com elementos que ilustrem a melancolia, a tristeza, o desespero e a solidão, fazem de Invisível um filme que cativa o público, além de proporcionar reflexão. Pensamentos que valorizem a ética, a moral, a família e a liberdade. Uma produção impactante, instigante e convidativa ao debate, para ver sem pensar duas vezes.

Ótimo

Foto: Vitrine Filmes

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