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Postado por
Ana Döring
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O Universo Estendido da DC, apesar de não ter muitos filmes, tem uma trajetória conturbada, pra dizer o mínimo. Começou com críticas não muito calorosas para O Homem de Aço (2013), seguiu com Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) com resultados desastrosos, e conseguiu outros ainda piores em Esquadrão Suicida (2016). A resposta positiva da crítica finalmente veio com Mulher-Maravilha (2017), o primeiro longa do universo cinematográfico que conseguiu aprovação de público e crítica.
No que parecia uma tentativa de correr atrás de um suposto "tempo perdido", quando comparado com o universo cinematográfico construído pela Marvel, por exemplo, o estúdio se atropelou e tentou contar histórias demais em um espaço muito curto de tempo e, como em qualquer tentativa de fazer algo às pressas, a qualidade deixou a desejar. Ainda que essas histórias fossem protagonizadas por personagens icônicos com quem o público já é bem familiarizado, nem eles foram capazes de sustentar roteiros ruins.
O espectador precisa de tempo com os personagens para se importar com eles. E nessa corrida desnecessária para chegar o mais rápido possível ao seu objetivo final de juntar todos os seus heróis, a DC sacrificou boa parte da identificação que acontece entre público e protagonistas e, uma vez que conexão é prejudicada, muito se perde da capacidade que a obra tem de tocar o espectador. Sem se importar com seus personagens e o que acontece a eles, fica difícil carregar qualquer história.
Foto: Warner Bros Pictures |
Com tantos indicadores do que poderia melhorar, a DC tinha de onde tirar lições, restava saber o que o estúdio faria com tudo isso. Felizmente, tudo que incomodava em seus filmes anteriores foi corrigido, ou pelo menos reduzido a níveis bem mais contidos em Liga da Justiça (Justice League), o que o torna uma adição bem sucedida ao universo da DC.
Sem fugir do padrão, a obra não tem tempo a perder. Além de reintroduzir parte dos super-heróis principais, precisa ainda apresentar não só os outros heróis, como também seus universos particulares, as pessoas com quem se importam, suas motivações, seus poderes e, ao final disso tudo, mostrar onde existe a conexão que fará com que deixem suas diferenças de lado para lutar juntos contra um mal maior que todos eles. Nesse processo, algumas explicações nunca acontecem, principalmente sobre a origem de alguns desses personagens e de como chegaram no ponto em que os conhecemos, e boa parte dos diálogos são expositivos apenas porque o filme precisa que o público conheça determinadas informações para que a trama possa seguir em frente.
O principal problema está, assim com em seus antecessores, em seu roteiro. Ao fazer uso de uma estrutura episódica, o caminho para a união da Liga começa muito travado, com uma narrativa que parece ter medo de sair do conhecido para não errar, mais cautelosa. E aqui a história não é nada diferente do que se poderia imaginar, ela existe dentro de uma premissa muito básica de bem contra o mal. Esses problemas têm uma presença forte durante o primeiro ato, mas ficam gradativamente menores conforme os super-heróis se unem, que é quando o filme de fato começa a brilhar.
Apesar das complicações com roteiro, estrutura e ritmo, Liga da Justiça funciona muito bem por conta de seus personagens principais. Cada um deles, dentro de sua individualidade, tem elementos que ajudam a construir aquela conexão tão necessária com o público e, finalmente, quando todos estão juntos, nos momentos mais importantes e perigosos do filme, nós nos importamos com o que acontece a eles. A interação entre os personagens é divertidíssima de assistir, ao ponto de nos deixar ansiosos aguardando qual será a próxima tirada do Aquaman (Jason Momoa) ou do Cyborg (Ray Fisher), quando é que o Batman (Ben Affleck) vai aparecer com algum gadget novo ou, mais incrível ainda, como a Mulher Maravilha (Gal Gadot), o Flash (Ezra Miller) e o Superman (Henry Cavill) funcionam lutando lado a lado. Finalmente estes heróis têm o peso que deveriam ter, vividos por atores que de fato se dedicam e se importam com os personagens que representam. A Liga torna-se épica, como precisa ser.
Ainda que o vilão não passe de um personagem em CGI mal resolvido, cujas motivações são genéricas, o filme apresenta um visual muito bonito. Zack Snyder (300) tem como uma de suas marcas registradas a fotografia que possui vários elementos que conversam entre si para formar enquadramentos belíssimos, e aqui acontece exatamente assim, não faltam cenas que exaltam a grandiosidade da união dos heróis, desenhadas com contraste, peso e cores fortes. Por outro lado, o problema de Snyder com o posicionamento de personagens dentro da mise-en-scène continua existindo, tornando difícil entender como determinado protagonista fez o percurso de um ponto a outro em algumas sequências de batalha. E, por falar em marca registrada, existem várias cenas em slow motion, como é típico do diretor, com destaque para duas sequências do Flash, onde o recurso é usado de forma bem eficiente.
Ainda que o vilão não passe de um personagem em CGI mal resolvido, cujas motivações são genéricas, o filme apresenta um visual muito bonito. Zack Snyder (300) tem como uma de suas marcas registradas a fotografia que possui vários elementos que conversam entre si para formar enquadramentos belíssimos, e aqui acontece exatamente assim, não faltam cenas que exaltam a grandiosidade da união dos heróis, desenhadas com contraste, peso e cores fortes. Por outro lado, o problema de Snyder com o posicionamento de personagens dentro da mise-en-scène continua existindo, tornando difícil entender como determinado protagonista fez o percurso de um ponto a outro em algumas sequências de batalha. E, por falar em marca registrada, existem várias cenas em slow motion, como é típico do diretor, com destaque para duas sequências do Flash, onde o recurso é usado de forma bem eficiente.
O que talvez gere algumas discussões é o tom mais leve que a produção assume. A DC é conhecida por ter uma ambientação mais pesada em seu universo de super-heróis, e há quem diga que não existe humor em nenhum dos outros longas. Existe, porém, neste em específico isso é feito bem mais abertamente. Em um filme com seis personagens principais muito diferentes, há de se ter espaço para vários estados de espírito, e não há nada de errado se o humor for um deles. Talvez, para a maioria, esse humor é visto como uma norma para o gênero de super-herói funcionar. Não é, e nunca foi. Dentro das extensivas variações do gênero que assistimos a pelo menos uma década, alguns filmes já comprovaram que é possível ter uma narrativa séria e conquistar o público ao mesmo tempo.
É importante comentar a adição tardia de Joss Whedon à equipe, a quem provavelmente vai ser conferida a responsabilidade por essa leveza. Apesar de ser possível especular que em alguns momentos Whedon tem uma presença maior do que Snyder na obra, tudo permanecerá na especulação, afinal, afirmar esse tipo de atribuição não soa justo. Ainda que tenha tido uma produção complicada, o filme tem a identidade de Snyder.
Foto: Warner Bros Pictures |
É importante comentar a adição tardia de Joss Whedon à equipe, a quem provavelmente vai ser conferida a responsabilidade por essa leveza. Apesar de ser possível especular que em alguns momentos Whedon tem uma presença maior do que Snyder na obra, tudo permanecerá na especulação, afinal, afirmar esse tipo de atribuição não soa justo. Ainda que tenha tido uma produção complicada, o filme tem a identidade de Snyder.
Um dos pontos-chave de Liga da Justiça é seu discurso sobre esperança, construído desde o princípio, ao lidar com os acontecimentos de Batman vs Superman, e que envolve todas as conversas e desdobramentos que seguem a morte do Superman. É curioso que o longa conduza esse fala com certa consistência até seu desfecho, uma vez que é essa a sensação que a Liga traz ao espectador. Parece que o universo cinematográfico da DC conseguiu entrar nos trilhos, e na direção certa.
Ótimo |
Amy Adams
Ana Döring
Ben Affleck
Críticas
DC Comics
Ezra Miller
Gal Gadot
Henry Cavill
Jason Momoa
Justice League
Liga da Justiça
Ray Fisher
Zack Snyder
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Carioca, designer, apaixonada por discutir cinema, arte, sociedade, e o quanto isso reflete em cada um. Fala sobre filmes (entre alguns memes) lá no twitter também, em @anadoring.
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