CRÍTICA | Em Busca de Fellini

Direção: Taron Lexton
Roteiro: Nancy Cartwright e Peter Kjenaas
Elenco: Ksenia Solo, Maria Bello, David O'Donnell, Mary Lynn Rajskub, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2017


Uma combinação de fantasia, memórias, sonhos, realidade e ficção, em uma jornada de descobertas e autoconhecimento. Estou falando de Em Busca de Fellini (In Search of Fellini), a estreia do diretor sul-africano Taron Lexton (Struck) em longas-metragens, que não só traz referências claríssimas ao grande Federico Fellini, como também presta uma bela homenagem a esse grande cineasta, vencedor de 4 estatuetas do Oscar de filme estrangeiro. Um convite atrativo até mesmo aos espectadores que não conhecem o trabalho do cultuado diretor italiano.

Somos apresentados à Lucy Cunningham (Ksenia Solo), uma jovem de 20 anos que nunca trabalhou ou teve um namorado, sempre sob a proteção da mãe, Claire (Maria Bello), e dos incentivos politicamente incorretos da tia Claire (Mary Lynn Rajskub). Com pouca maturidade psicológica e desconectada da realidade, Lucy vive em seu restrito mundinho, de assistir filmes e desenhar unicórnios e ícones imaginários. Um dia, uma grave doença acomete a matriarca da família e isso impulsiona a protagonista a correr atrás de sua liberdade e independência, descobrindo então a paixão pelo trabalho de Fellini em um festival de cinema. A moça compra toda a filmografia do diretor em VHS e é incentivada por sua tia a ir à Itália e encontrar seu ídolo.

É então que uma grande aventura começa na "Velha Bota", onde é possível identificar referências dos filmes de Fellini na jornada de Lucy por um encontro com o consagrado cineasta. Há uma mistura de metáforas, elementos interpretativos e uma conexão com a realidade, que é constatado posteriormente com a trajetória da protagonista. Um ambiente regado a festas, celebridades, risos e homens com a intenção de se aproveitar da mulher. Tudo como se tivesse sido fotografado pelas lentes de Fellini, um universo que encanta,  mas que ao mesmo tempo angustia e perturba. 

Foto: Cineart Filmes

A junção de ficção e realidade é utilizada de maneira precisa, lembrando filmes como Estrada da Vida, 8 ½, Noites de Cabíria, ou mesmo, A Doce Vida. É possível visualizar como a passagem para a vida adulta pode ser difícil, uma vulnerabilidade inerente ao ser humano e as patologias sociais presentes na sociedade moderna, como o machismo, a misoginia e outras discriminações. A intenção do roteiro em homenagear e referenciar o cinema é evidente, mas também há a preocupação de transmitir mensagens de cunho social e peculiaridades inerentes ao ser humano, como ser sonhador, passional e emotivo. 

Ksenia Solo (Orphan Black) nos entrega uma personagem sonhadora e deslumbrada com o mundo da fantasia, que passa por uma impressionante transformação após sair de casa para enfrentar o mundo real. A ingenuidade inicialmente demonstrada faz lembrar de Gelsomina, de Estrada da Vida, bastante assustada com uma realidade cheia de limitações e que a fará crescer e amadurecer a duras penas. Maria Bello (Marcas da Violência) interpreta uma mulher que é o espelho de muitas mães, super protetoras e com enorme dificuldade em deixar os filhos ganharem o mundo. Mary Lynn Rajskub (24 Horas), por sua vez, é o ponto de equilíbrio, uma espécie de bombeira, pronta para apagar incêndios existentes entre mãe e filha, além de apoiar ambas sempre que precisam.

Embarcar com Lucy nessa incrível e emocionante jornada pela Itália é descobrir o inesperado, encontrar sua paixão, apreciar a realidade e se encantar com diversos momentos de fantasia proporcionados por Em Busca de Fellini. E como dizia o próprio:

“O cinema é um modo divino de contar a vida.”

Ótimo

Foto: Cineart Filmes

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