As Mulheres no Cinema de Hayao Miyazaki



Em suas histórias, não há príncipes encantados. Suas protagonistas são fortes, independentes e, principalmente, responsáveis por suas próprias jornadas e conquistas. São muitas as qualidades narrativas e visuais das animações do diretor Hayao Miyazaki (Vidas ao Vento), mas nenhuma é tão relevante e atual quanto a importância dada às personagens mulheres.

A visão do animador japonês é um sopro revigorante no retrato fragilizado, que por muitos anos, a indústria teve a respeito do sexo feminino. Suas mulheres não esperam um salvador montado em um cavalo. Elas mesmas cavalgam atrás de suas próprias aventuras.

É o caso de Nausicaä do Vale do Vento (1984), um dos primeiros grandes sucessos de Miyazaki. Nele, dois pilares de suas obras: a mulher no papel de liderança e o cuidado com a natureza. Passado em um futuro pós-apocalíptico, a princesa Nausicaä, na contramão da sociedade exploratória da época, tenta salvar o que resta das florestas. No intervalo, lidera o exército de seu vale em guerra contra os reinos vizinhos que esperam tomar as reservas para transformar em poderio bélico.

Nausicaä não dá somente as ordens, mas está em campo executando-as, como general de sua própria jornada. A aventura não escolhe sua heroína, ela surge na dificuldade e a transforma ao longo do caminho.

Foto: Studio Ghibli

É a quebra de esteriótipos, tão presentes em suas obras, que faz de suas protagonistas tão únicas. Como em A Viagem de Chihiro (2001), longa mais famoso do diretor e vencedor do Oscar de Melhor Animação em 2003.

Após ver seus pais transformados em porcos, Chihiro, apesar de jovem e birrenta, é obrigada a aceitar a missão que lhe é dada, caso queira sua familia de volta. No caminho, perde seu nome para uma bruxa e vira trabalhadora numa casa de banho espiritual.

As analogias são muitas. Desde a ganância e gula de seus pais, representadas pelos porcos, até a perda de seu nome, mostrando que a antiga e mimada Chihiro precisava ser esquecida para que a garota destemida e corajosa surgisse ao final de sua caminhada.

Mas não é só com simbologia e fantasia que Miyazaki constrói a força de suas personagens. É comum, em praticamente todos os seus longas, assistirmos mulheres em trabalhos braçais, dominados predominantemente por homens, até os dias de hoje. Fábricas, caldeiras, oficinas, todas são comandadas por elas.

Fortes, incansáveis, poderosas e, sempre, femininas. Talvez essa seja a mensagem mais forte que o diretor passa ao escolher uma mulher como o fio condutor de suas obras. Não à toa, das suas 11 animações, oito são protagonizadas por mulheres. 

Foto: Studio Ghibli

Seja uma guerreira da natureza, uma adolescente com medo da velhice, uma bruxinha ou até uma simples criança que encontra na imaginação o escape para superar a dor da ausência dos pais. 

Muitas são as histórias e protagonistas de Hayao Miyazaki. O carinho com que ele traz à vida personagens tão fortes e marcantes impressiona. Talvez só não impressione tanto quanto, nos dias atuais, ainda termos que discutir o que um gênero pode ou não fazer.

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Eduardo é jornalista e tem a Chihiro marcada na pele.

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