CRÍTICA | Deadpool 2

Direção: David Leitch
Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds
Elenco: Ryan Reynolds, Josh Brolin, Zazie Beetz, Morena Baccarin, T.J. Miller, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


"Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". O lema proferido por Tio Ben no agora já longínquo Homem-Aranha de 2002, parece ecoar na nossa cabeça até hoje. Mais que uma mensagem ao espectador, é uma frase que se encaixa perfeitamente nas super-produções que são os filmes de heróis em tempos atuais. Uma vez que o nível esperado é atingido, nada mais justo que aguardemos algo melhor, ou ao menos tão bom quanto, de uma sequência. Essa expectativa pode ser injusta as vezes, mas é inevitável quando estamos inseridos dentro desse universo. O que nos traz a Deadpool 2.

Após os eventos do longa original, Wade Wilson (Ryan Reynolds) resolve combater criminosos pelo mundo, ao mesmo tempo em que tenta conciliar sua vida amorosa com Vanessa (Morena Baccarin). Quando sua amada é posta novamente em perigo por conta de suas ações, Deadpool acaba atendendo aos apelos de Colossus (Stefan Kapicic) e tenta participar das ações dos X-Men. É então que ele entra na rota de Cable (Josh Brolin), um mutante que veio do futuro para assassinar o jovem Russell (Julian Dennison), que é um perigo potencial. Nosso herói controverso então resolve montar sua própria equipe para salvar o garoto da morte certa.

Se a sinopse acima parece confusa, é porque ela de fato é. E esse é o principal problema do longa dirigido por David Leitch (Atômica), as múltiplas premissas que parecem não se encaixar durante a narrativa. Fica clara a intenção do estúdio e dos roteiristas em ampliar o universo já estabelecido, inserido personagens que, no fim, não fazem grande diferença para a trama. E falando das duas principais inserções, é decepcionante vê-los tão mal aproveitados de maneiras diferentes.

Foto: Fox Film do Brasil

O Cable de Josh Brolin (Vingadores: Guerra Infinita) está excelente em sua caracterização. Uma figura imponente, de vigor físico e armas sensacionais, mas que nunca diz a que veio realmente. O personagem serve apenas como um contraponto de luxo a personalidade de Deadpool, sem qualquer aprofundamento de personalidade. Sua principal motivação no longa não tem impacto no espectador porque o personagem é introduzido as pressas, sem cuidado. É claro que estamos falando de um filme em que a "zoeira impera", mas mesmo em obras em que o humor é o carro chefe, o espectador precisa de algo a se apegar. Foi assim com Wade e Vanessa no longa anterior. No Cable faltou.

Com a Domino de Zazie Beetz (Atlanta) não é diferente. Não há qualquer desenvolvimento de personagem ou motivação aparente, a mutante surge quando o roteiro necessita, no entanto, funciona muito bem, roubando boa parte das cenas em que aparece. Resultado não apenas de sua peculiar habilidade de ter muita sorte, mas também do carisma e talento de Beetz, que consegue conferir personalidade a personagem, mesmo com tão pouco material para trabalhar.

Ryan Reynolds (Vida), por sua vez, está mais solto do que nunca, o que nem sempre é bom. O ator, que agora também retorna como um dos roteiristas, soa como uma espécie de Robert Downey Jr. em Homem de Ferro 3, quando o excesso de liberdade criativa e improviso às vezes atrapalha. Muitas piadas são mera repetição do que já vimos anteriormente (a perda de um membro que demora a se restaurar), outras são levadas ao extremo (a piada com uma morte no desfecho do longa), mas é justo dizer que a grande maioria delas funciona, fazendo com que o filme atinja seu principal objetivo que é entreter.

Foto: Fox Film do Brasil

Outro aspecto interessante dessa sequência foi o aumento do investimento. É o tipo de filme que vemos o orçamento em tela, com cenas de ação espetaculares e efeitos digitais competentes. Tudo é maior em Deadpool 2, ainda que algumas cenas de ação deixem um pouco a desejar, especialmente pelo histórico do diretor, acostumado a trabalhar com grandes coreografias de luta. Aqui não é ruim, mas também não é memorável.

Se eu pudesse eleger a melhor coisa da obra, eu diria que são as pequenas referências e piadas que são reveladas sem qualquer aviso ou expectativa. Muitas estão dentro do filme, outras estão nas duas cenas pós-créditos, que são absolutamente imperdíveis (não saia da sala de cinema antes da hora). Dito isso, o longa ainda consegue reservar algumas boas surpresas aos fãs de quadrinhos, o que sempre aquece o coração de qualquer um.

No fim, Deadpool 2 se mostra competente. Aquém das expectativas geradas pelo seu antecessor e inferior ao mesmo, mas ainda assim eficaz em sua proposta. Tivesse um roteiro mais bem trabalhado, bem como melhor desenvolvimento de novos personagens, poderia alcançar um ótimo patamar na atual safra dos longas de super-heróis. Mas foi como citei antes, "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". E a responsabilidade nem sempre deve se traduzir em trazer mais do mesmo, com mais orçamento.

Bom

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