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Postado por
Verônica Martucci
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Se Atlanta já surpreendeu o público com sua primeira temporada, marcada pela imprevisibilidade e por temas pouco discutidos no mundo do entretenimento, não há dúvidas de que os 11 episódios do segundo ano da série conseguiram manter o nível anteriormente apresentado, ao mesmo tempo que inova e traz premissas ainda mais inteligentes.
Vale citar que temporada recebeu um nome: Robbin' Season, que em uma tradução literal significa "Temporada de Roubo". Esse título é importantíssimo para entendermos a dinâmica dos episódios dessa segunda temporada, já que a ideia de roubo é refletida não apenas na ação de tomar algo de valor material de alguém, mas também no sentido moral e psicológico de seus personagens.
Apesar da comédia ser um recurso já intrínseco no roteiro da série, o público também tem a oportunidade de acompanhar contornos mais dramáticos de cada protagonista, além de ganharmos muito mais conteúdo sobre o passado de Earn (Donald Glover), Alfred "Paper Boi" (Brian Tyree Henry) e Van (Zazie Beetz). Quanto a Darius (Lakeith Stanfield), certamente este carrega os conselhos e reflexões mais relevantes em cada aparição, sempre nos surpreendendo com sua visão de mundo e das situações que o cercam.
Logo no primeiro episódio notamos que algum tempo se passou desde o fim do ano anterior, mas houve poucas mudanças no cotidiano dos personagens. Paper Boi e Darius vivem na mesma casa, conciliando a carreira de raper do primeiro com as atividades paralelas no tráfico de drogas. Earn continua perdido, apresentando mais sinais de derrota do que antes. Sua relação com Van continua em aberto. A novidade é a presença de Tracy (Khris Davis), amigo de Paper Boi que acabou de sair da cadeia e acaba sendo abrigado por ele.
Foto: FX |
Nesta temporada, cada um dos quatro personagens fixos protagonizam episódios onde desempenham papel crucial para a narrativa, o que nos leva a uma mensagem muito mais profunda do que a aparente simplicidade dos geniais roteiros. Em "Champagne Papi", por exemplo, após um aparente ponto final no relacionamento com Earn, Van e algumas amigas vão a uma festa na mansão do rapper Drake, na ânsia de encontrá-lo e registrarem o momento nas redes sociais. Porém, apesar da oportunidade aparente, nada é o que parece ser, e a crítica ao mundo superficial que construímos é o destaque do episódio, com um Darius fazendo referência à teoria de Bostrom sobre a humanidade ser parte de uma simulação.
O mesmo Darius que protagoniza "Teddy Perkins", certamente o episódio mais polêmico e marcante dessa Robbin' Season. Acompanhamos a ida do personagem à mansão de um homem chamado Theodore Perkins (Donald Glover, irreconhecível!), em uma narrativa repleta de referências ao filme Corra! (Get Out, 2017). Com visual amedrontador e comportamentos estranhos, a visita ao homem é digna de um filme de suspense. Perkins lembra em muitos aspectos o Rei do Pop, Michael Jackson, e a história contada no episódio faz claras menções à vida e aos traumas do finado cantor, com uma conclusão surpreendentemente catastrófica.
O episódio que mais expôs os conflitos internos de Paper Boi foi "Woods". Com dificuldades para se adaptar ao mundo dos famosos e suas consequências, esse problema fica cada vez mais claro no comportamento de Alfred. Na segunda temporada, o cantor apresenta sinais claros de depressão, como o constante desânimo, a reclusão em sua casa e a negação em fazer parte de um mundo de aparências. Dando um "plus" à tristeza do personagem, logo compreendemos que o rapper também está sofrendo com o luta da perda de sua mãe. Trata-se de um dos capítulos mais tristes da série, com simbolismos bem aplicados e uma atuação vulnerável, digna de comoção por parte de Brian Tyree Henry (Hotel Artemis).
Foto: FX |
Earn, por sua vez, aparece muitas vezes em participações secundárias. E essa escolha em dar mais espaço para entendermos o a dinâmica dos demais personagens é certeira para o desenvolvimento e a conclusão da segunda temporada. Se em "Alligator Man" o rapaz vivencia o medo em se tornar o espelho do tio fracassado, nos episódios posteriores, o protagonista continua tomando decisões erradas e prejudiciais para si e para os outros a sua volta, sendo refém da situação medíocre que toma conta de sua vida. É óbvio que os sinais depressivos, presentes no primeiro ano, também corroem sua vontade diariamente, fazendo com que a chegada ao fundo do poço seja essencial para que o empresário adote a mudança de postura como sua única opção.
É preciso falar também dos dois últimos episódios dessa temporada: "FUBU" e "Crabs in a Barrel". As narrativas se complementam de forma incrível, possibilitando que entendamos a importância do vínculo familiar e o crescimento de Earn e Paper Boi enquanto primos. Com a iminente demissão do primeiro por conta de inúmeras decisões equivocadas, finalmente vemos Earn dando a guinada necessária para mudar sua vida, se adaptando à condição imposta desde o seu nascimento, que deriva do fato de ser um homem negro na América e nas inúmeras obrigações e dificuldades que perdurarão até seu último respiro.
É disso que Atlanta se trata. A riqueza dos roteiros, que contam com inúmeros colaboradores, sendo os principais deles os irmãos Stephen e Donald Glover (Han Solo: Uma História Star Wars), é certeira ao abordar os problemas desencadeados pelo preconceito e pela pobreza daqueles personagens, em uma narrativa de diversos pontos de vista e que foge da mesmice. Bullying, depressão e a busca pela afirmação são temas aplicados a personagens interessantíssimos, em meio a simplicidade constante de cada episódio. Admiração é pouco para falar do trabalho sensacional desempenhado pela direção de Hiro Murai (This is America) e a parceria dos irmãos Glover.
Foto: FX |
Excelente |
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Verônica, 24 anos, também conhecida como a louca das séries/filmes. Adoro indicações, ainda mais acompanhadas de um bom café.
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