CRÍTICA | Acusada

Direção: Gonzalo Tobal
Roteiro: Gonzalo Tobal e Ulises Porra
Elenco: Lali Espósito, Daniel Fanego, Gael García Bernal, entre outros
Origem: Argentina / México
Ano: 2018


Uma enorme tragédia entre amigas que posteriormente ganha grandes proporções. A mídia entra em cena, pressões sobre todos os lados e, aparentemente, tudo está para ir pelos ares. Uma família se vê destruída. Essa é a premissa de Acusada, longa-metragem argentino de Gonzalo Tobal (Villegas) que se revela um competente thriller psicológico, eficaz em manter o suspense e a tensão a todo momento.

Dolores Dreier (Lali Espósito) é uma estudante que leva uma vida normal. Um dia resolve dar uma festa “free style”, mas sua melhor amiga é brutalmente assassinada a facadas. Um das principais pistas, uma camiseta que a própria Dolores usava, some e surgem itens na cena do crime que podem comprometer sua vida. Ela é a única acusada de ter cometido o assassinado e acaba indiciada. Toda a mídia argentina passa a cobrir o caso e sua família, principalmente Luis (Leonardo Sbaraglia), seu pai, irá fazer de tudo parra defendê-la, nem que tenha que ir até as últimas consequências para provar a inocência da filha.

O roteiro, assinado pelo próprio Tobal, foca boa parte da narrativa no psicológico dos personagens, explorando a tensão, a angústia e, principalmente, o desespero da protagonista. Por mais que tente provar sua inocência, Dolores se vê condenada pela mídia antecipadamente, e em dados momentos faz o espectador pensar que vai jogar tudo para o alto e cometer suicídio, ou até mesmo se entregar. Não há registro das cenas do crime, os itens que estavam na festa e o corpo são apenas vistos em flashes, o que aumenta o teor de suspense.

Foto: Divulgação

A medida em que o dia do veredito se aproxima, surgem conflitos entre Dolores e o pai, bem como discordâncias de opinião sobre o comportamento que o advogado quer que ela adote no dia da sentença. A curiosidade vai aumentando e não há uma indicação que aponte que a protagonista seja de fato culpada ou inocente. O uso de planos circulares nas cenas de discussão aumenta o frenesi e o clima de tensão. Dolores, por sua vez, se mantém com a mesma expressão em boa parte das cenas, fria e com olhar desolado, deixando o público confuso e ávido por explicações.

Leonardo Sbaraglia (O Silêncio do Céu) é quem promove os grandes momentos da trama, com seu personagem fazendo revelações e tomando atitudes questionáveis para defender a filha. Luis tem uma personalidade forte, mas também demonstra emoção em momentos cruciais, convencendo o espectador de sua dor e temor, com a possibilidade de ver Dolores atrás das grades. 

Lali Espósito (Roteiro de Casamento), por sua vez, apresenta uma atuação sólida e transmite veracidade ao dar vida a protagonista, uma jovem acuada e sem saber o que fazer. Ela encontra o consolo na família e nos amigos que vão visitá-la, se expondo pouco e se protegendo como pode até o dia do julgamento. Quem acompanha seu drama se convence de que ela tem chances de se ver livre da prisão, mas ao mesmo tempo fica com a pulga atrás da orelha em razão da proposital falta de informações que o roteiro apresenta. O mistério só é desfeito no fim, com um desfecho surpreendente.

Foto: Divulgação

O mérito de Gustavo Tobal foi de ter aberto mão de um filme policial pra apostar no drama e no suspense, trabalhando a curiosidade da platéia até a decisão do júri. Além disso, encontra espaço para um crítica social ao jornalismo sensacionalista, semelhante ao que ocorre no Brasil em muitos caso. 

Ótimo

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