CRÍTICA | Conquistar, Amar e Viver Intensamente


Direção: Christophe Honoré
Roteiro: Christophe Honoré
Elenco: Vincent Lacoste, Pierre Deladonchamps, Denis Podalydès, Clément Métayer, entre outros
Origem: França
Ano: 2018


Falar sobre o amor é agradável na maioria das vezes, por se tratar de um sentimento que é uma espécie de motor da vida, capaz de controlar emoções e sensações. Conquistar, Amar e Viver Intensamente (Plaire, aimer et courir vite), do diretor Christophe Honoré (Bem Amadas), é o tipo de filme que aborda o tema de maneira lúdica e poética, mostrando que, se vivido intensamente, o amor é capaz de provocar grandes mudanças na trajetória de qualquer um. 

Jacques (Pierre Deladonchamps) é um escritor que está cada vez mais isolado do meio social devido aos sérios problemas de saúde que passa, já que é portador do vírus HIV. Arthur (Vincent Lacoste), por sua vez, é um jovem bretão que está estudando em Rennes, mas não possui planos para o futuro, preocupando-se apenas em curtir a vida e vivê-la como se não houvesse amanhã. Ambos são muito bem resolvidos com as suas sexualidades, mas, quando se conhecem e iniciam uma relação, percebem os desafios que enfrentarão para que esse forte laço se mantenha. A diferença de idade é um deles, já que Jacques tem 35 anos e Arthur apenas 20. Um mora em Paris e o outro em Rennes. Mas o pior deles certamente é sombra da morte que paira sobre Jacques.

O roteiro então foca na ternura que se sobressai ao desespero, já que os personagens tentam seguir a vida normalmente, mesmo com todas as adversidades que encontram. Retratar o medo de morrer de forma delicada, sem apelar para imagens que choquem o espectador, é um trabalho digno de aplausos e feito com competência aqui.

Foto: Imovision

Há também o uso de discursos poéticos que exaltam à vida e imagens que expressam a liberdade e contemplação. Escolhas acertadas que trazem leveza e beleza ao longa. Frases de efeito como "viva intensamente" e "não importa o risco da situação, mas o prazer que ela pode proporcionar" também são recorrentes, utilizadas como recurso para aproximar o público dos protagonistas e fazê-lo torcer para uma relação duradoura.

A diferença de personalidades dos dois personagens centrais, Jacques mais realista e sincero, e Arhur mais otimista e romântico, representa um ótimo contraponto, como se as disparidades de ambos os completassem. Além disso, os discursos existenciais e filosóficos que ambos tecem, servem para mostrar como cada um enxerga a vida e quais as suas perspectivas para o futuro, ainda que um acredite que seu tempo é curto, e o outro sonhe em viver em Paris ao lado de seu amado.

Os aspectos técnicos também agradam aqui, com um fotografia que ressalta uma paleta de cores azul e uma trilha sonora composta basicamente por música clássica. Em determinados momentos é como se a imagem conversasse com o espectador, mais do que os diálogos proferidos. E quando estes são ditos, são repletos de seriedade e comoção, com o intuito de impactar e provocar reflexão acerca dos obstáculos que a vida nos traz.

Foto: Imovision

Com um ótimo paralelo entre os amores cotidianos e as referências a todas as artes, além de belíssimas imagens de cartões postais da Cidade-Luz, do clássico ao lúdico, Conquistar, Amar e Viver Intensamente cumpre muito bem o seu papel, o de abordar o amor sob um diferente prisma, bem como a sua capacidade de transformar a vida e as percepções de duas pessoas de trajetórias e vivências tão diferentes. Uma bela obra de arte.

Ótimo

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