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Postado por
Cesar Augusto Mota
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Marcado pela miséria, violência e falta de perspectivas, o mundo precisa de alegria, poesia, música e alegria. Uma fábula mágica, entoada pela música de Chico Buarque e Edu Lobo, uma obra lírica baseada no poema de Jorge de Lima, não parece má ideia. O Grande Circo Místico, do cineasta Carlos Diegues (Orfeu), vem para tentar trazer mensagens de esperança e otimismo em tempos obscuros, com o auxílio de uma narrativa circense.
Somos apresentados inicialmente a Celavie (Jesuita Barbosa), uma espécie de interlocutor, uma figura que dialoga com todas as gerações do Grande Circo Místico. O primeiro momento ilustrado, datado de 1910, quando Fred (Rafael Lozano), da primeira geração, cria o circo após um pedido de sua amada Beatriz (Bruna Linzmeyer), com a qual protagoniza as primeiras cenas quentes. E a partir dessa primeira geração até os dias atuais vão surgindo tragédias pessoais que marcam as figuras femininas. E cada ciclo acaba com cenas de sexo, algumas nem sempre justificáveis. E da passagens de décadas, novos artistas vão ganhando espaço, dentre eles Jean-Paul (Vincent Cassel), Charlotte (Marina Provenzzano), Margarete (Mariana Ximenes), entre outros.
A proposta de se resgatar elementos presentes no período barroco é louvável, como o jogo de palavras e ideias, a oposição entre imagens trazendo belos contrastes e a valorização de detalhes estéticos, mas logo se nota que não existem elementos que inspirem deslumbramento. Os artistas não apresentam nenhum tipo de apego ao ambiente circense, não há entusiasmo nos números apresentados, inexistem treinos, as plateias não são numerosas, e tudo é realizado de forma mecânica, sem a transmissão da magia necessária que um ambiente de circo exige.
Foto: H2O Films |
O roteiro de O Grande Circo Místico tem dificuldade de fazer o respeitável público se conectar com seus personagens Não fica evidente as motivações e objetivos de cada um, algo essencial quando temos diversas histórias sendo contadas. É preciso identificação rápida com cada um, mas a situações apresentadas soam formulescas, limitando-se a nascimentos, casamentos, gestações e mortes. Falta empatia e interesse por cada um, o que é uma pena, visto que o numeroso elenco é talentoso.
Entre os atores, Jesuíta Barbosa (Praia do Futuro) é o que mais se destaca, embora não se saiba se trata-se de um personagem real ou uma entidade que conversa com todos e nunca envelhece. Celavie cativa talvez seja o único que cative o público, trazendo alguns ótimos monólogos e declamações de poemas que falam sobre sedução e magia, todos entoados com entusiasmo e frenesi. Tratam-se de palavras bucólicas, que remetem à contemplação e liberdade.
Algo que me causou certa repulsa durante a exibição foi o fato de, em muitos momentos, as mulheres serem retratadas exclusivamente como objeto de desejo dos homens, com algumas delas sendo alvo de estupro ou incesto. Tudo retratado dentro da "normalidade" de décadas passadas, mas sem nenhum contexto trazido para a atualidade. "A vida é assim mesmo", diz Celavie em determinado momento. A banalização da violência e a objetificação da mulher são elementos que causam incômodo e soam absurdos para uma obra que tenta trazer um pouco de magia, pureza e inocência em tempos dificeis.
Entre os atores, Jesuíta Barbosa (Praia do Futuro) é o que mais se destaca, embora não se saiba se trata-se de um personagem real ou uma entidade que conversa com todos e nunca envelhece. Celavie cativa talvez seja o único que cative o público, trazendo alguns ótimos monólogos e declamações de poemas que falam sobre sedução e magia, todos entoados com entusiasmo e frenesi. Tratam-se de palavras bucólicas, que remetem à contemplação e liberdade.
Algo que me causou certa repulsa durante a exibição foi o fato de, em muitos momentos, as mulheres serem retratadas exclusivamente como objeto de desejo dos homens, com algumas delas sendo alvo de estupro ou incesto. Tudo retratado dentro da "normalidade" de décadas passadas, mas sem nenhum contexto trazido para a atualidade. "A vida é assim mesmo", diz Celavie em determinado momento. A banalização da violência e a objetificação da mulher são elementos que causam incômodo e soam absurdos para uma obra que tenta trazer um pouco de magia, pureza e inocência em tempos dificeis.
O Grande Circo Místico, ao meu ver, poderia ter ecoado como uma bela poesia, mas limitou-se apenas a sua boa premissa. O público poderia e merecia ser presenteado com lindos versos e rimas, mas que parecem mais querelas, com palavras e situações de lamento. É uma pena, especialmente se levarmos em conta que trata-se da tentativa do Brasil no Oscar 2019.
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