CRÍTICA | Os Olhos de Orson Welles

Direção: Mark Cousins
Roteiro: Mark Cousins
Elenco: Orson Welles, Mark Cousins, Beatrice Welles, entre outros
Origem: Reino Unido
Ano: 2018


E se pudéssemos escrever uma carta para nosso ídolo? Contando o quanto admiramos sua obra e sua visão sobre o mundo. Ou, melhor ainda, se pudéssemos fazer um filme sobre ele, mostrando características marcantes de sua carreira, além de aspectos de sua vida que muita gente ainda não conhecia? 

Os Olhos de Orson Welles (The Eyes of Orson Welles) é a carta de amor cinematográfica profundamente sentida do cineasta Mark Cousins (I Am Belfast) para o grande Orson Welles (Cidadão Kane). Cousins é narrador e também personagem do documentário, onde explica o exagerado mundo atual para Welles, perguntando-se se poderá contar a história dele por uma nova perspectiva. 

A produção teve acesso exclusivo a centenas de pinturas, desenhos pessoais e imagens de arquivo do cultuado ator e diretor, mergulhando no universo visual do mesmo para revelar um retrato nunca visto do artista, através de seus próprios olhos, esboçado com a própria mão, pintado com seu próprio pincel. Em particular, o narrador olha para o enorme corpo de desenhos e pinturas, examinando-os, falando sobre eles, associando-se livremente aquela arte.

Foto: DOGWOOF

Produzido por Michael Moore (Tiros em Columbine), o filme traz à vida as paixões, a política e o poder deste brilhante showman do século XX, mostrando como a genialidade de Orson Welles ainda ressoa em tempos atuais, mesmo na Era Trump, mais de 30 anos após sua morte. 

Os desenhos de Welles, os quais pintou e desenhou incansavelmente desde a adolescência, eram ideias para cenografia, storyboards de filmes, esboços de rostos e o que mais viesse a sua cabeça. Cousins ​​elabora um argumento convincente de que seus longas-metragens foram uma extensão de seu brilhantismo (não reconhecido) como artista gráfico.

O diretor aqui se mostra tão atencioso, tão retraído, que é como se ele estivesse contando um sonho lembrado. Os clipes são escolhidos com grande conhecimento Cousins ​​também nos apresenta seus próprios momentos em vídeo-diário, viajando para os lugares em que Welles viveu sua vida, mostrando-nos sua relativa ruína ou obliteração pela modernidade, ou mesmo falando com sua filha Beatrice. O curioso é como, a todo momento, ele se dirige a Welles na segunda pessoa, como se realmente estivesse mostrando tudo a ele.

Foto: DOGWOOF

Os Olhos de Orson Welles faz uma interessante sugestão de que Orson Welles nunca foi tão relevante e contemporâneo quanto agora, em uma era bullying, faciscmo e fake news. Welles foi o homem que atacou as forças da tirania em suas transmissões de rádio e reuniu a imaginação liberal contra o fascismo em sua grande produção na Broadway de Júlio César, bem como em Cidadão Kane (1941).

A obra então encerra de forma estimulante, nos fazendo imaginar o que esse grande artista teria dito e realizado a respeito da atual situação política e social do mundo.

Bom

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