CRÍTICA | Yesterday

Direção: Danny Boyle
Roteiro: Richard Curtis
Elenco: Himesh Patel, Lily James, Kate McKinnon, Ed Sheeran, James Corden, entre outros
Origem: Reino Unido / Rússia / China
Ano: 2019


Há elementos tão intrínsecos à história da humanidade que é impossível imaginar como o mundo seria sem eles. Um desses elementos é, com certeza, os Beatles. Mas e se, de repente, você fosse a única pessoa existente que se lembra da banda? Yesterday, novo longa-metragem dirigido por Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?) e escrito por Richard Curtis (Cavalo de Guerra), baseia-se nessa premissa, imaginando um mundo que nunca conheceu John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr

Conhecemos a história de Jack Malik (Himesh Patel), músico que ganha a vida trabalhando em um supermercado e fazendo pequenos shows em bares e restaurantes. Com o auxílio de Ellie Appleton (Lily James), sua agente e melhor amiga desde a infância, ele segue sua carreira de pequenas apresentações. Ao retornar para casa após um show quase vazio em um festival, Jack é atropelado por um ônibus em meio a um apagão que atingiu no mundo inteiro. 

Após sua recuperação, o protagonista ganha um violão novo dos seus amigos e começa a dedilhar a melodia de “Yesterday”, dos Beatles. Ellie e seus amigos ficam encantados com a música, ouvindo-as pela primeira vez naquele instante. A partir daí, Jack começa a entender que é a única pessoa do mundo que conhece as letras da banda britânica ou que lembra que elas um dia existiram.

Foto: Universal Pictures

Trata-se de uma espécie de mundo alternativo, ou um pesadelo, no entanto, o cantor vê nisso a oportunidade de ser reconhecido mundialmente. Desta forma, cabe a Jack trazer as músicas marcantes de uma banda icônica de volta à relevância. Nesse ponto, Yesterday aborda não apenas os impactos diretos que a existência do grupo teve no mundo da música, mas também traça um paralelo sobre temas como o vício e a idolatria. 

Boyle e Curtis aproveitam a oportunidade para constatar que, ainda que as músicas dos Beatles tenham marcado para sempre o cenário musical, sua recepção seria diferente na geração das redes sociais. Aqui é citada também a influência do quarteto sobre as gerações futuras, seja no lançamento de produtos, gêneros musicais, ou mesmo no comportamento da mídia.

Embora seja interessante assistir Jack lidando com a fama repentina e sua vida pessoal ao mesmo tempo, o filme adota um tom muito mais voltado para a comédia romântica, o que vai de desencontro com sua proposta inicial e acaba "rebaixando" a estrela principal - a música - a mera coadjuvante.

Curtis, que é o roteirista responsável por romances como Quatro Casamentos e um Funeral (1994), Simplesmente Amor (2003) e Questão de Tempo (2013), escolhe manter a relação entre Jack e Ellie como o eixo principal da obra. Mesmo com um casal carismático e convincente, a previsibilidade do gênero ainda se faz presente.

Foto: Universal Pictures

Talvez o maior defeito de Yesterday seja o de abrir mão de lidar com o potencial de sua história, já que deixa toda a originalidade de sua proposta em segundo plano, abrindo espaço para algo que já vimos várias vezes no cinema. Não que o roteiro precisasse abordar cada consequência da não existência dos Beatles, mas a execução acaba falhando ao não desenvolver a melhor parte do que o texto tem a oferecer.

O ponto alto aqui é o elenco, que conquista o espectador de imediato. Himesh Patel (Damned) não tenta imitar o jeito de cantar dos Beatles, trazendo sua própria identidade e emoção para cada canção da banca, o que é maravilhoso. E mesmo que eu entenda a formula do romance batida, a química em tela com a sempre adorável Lily James (Em Ritmo de Fuga) é muito convincente.

Vale citar também a participação de Ed Sheeran (Game of Thrones), que serve como uma espécie de crítica à própria indústria musical e a sua maneira de lidar com os artistas, criticando a forma fria e comercial, que é mais relevante atualmente, do que o real significado das canções. Um bom exemplo é quanto o mesmo tenta forçar Jack a trocar o título de "Hey Jude” para “Hey Dude”.

Por fim, Yesterday é uma obra que tinha potencial para ser muito mais do que ela realmente se propõe a ser. Não deixa de ser uma homenagem a uma das maiores bandas de todos os tempos. Um filme gostoso de se assistir e que certamente trará identificação com o público, que provavelmente se imaginará passando pela mesma situação do protagonista.

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