CRÍTICA | Os Bons Companheiros

Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Martin Scorsese e Nicholas Pileggi
Elenco: Ray Liotta, Robert De Niro, Joe Pesci, Lorraine Bracco, Paul Sorvino, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1990


Martin Scorsese (A Última Tentação de Cristo) costumeiramente brinda o espectador com histórias persuasivas, envolventes e cheias de ação e violência, principalmente quando suas obras tratam do mundo da máfia ou dos gangsteres. Em Os Bons Companheiros (Goodfellas) o cineasta faz um estudo preciso sobre o tema, apresentando uma visão mais realista e muito menos romântica desse universo.

“Até onde consigo me lembrar, eu sempre quis ser um gângster.”

A frase narrada por Henry Hill, protagonista vivido Ray Liotta (O Homem da Máfia), logo na abertura do filme é um prenúncio do que veremos nas quase duas horas e meia seguintes. Baseado no best-seller Wiseguy (1986), de Nicholas Pileggi (Cassino), o longa ilustra a trajetória do personagem, que entrou para o crime organizado aos onze anos e intensificou sua participação com roubos, incêndios, agiotagem e, por fim, no tráfico de drogas. Em paralelo, também são abordadas as histórias de seus parceiros Jimmy Conway (Robert De Niro) e Tommy DeVito (Joe Pesci).

Foto: Warner Bros Pictures

Se em obras como O Poderoso Chefão (1972) tivemos uma visão mais romântica dos criminosos de colarinho branco, retratados como calculista, reservados e devotos a família, aqui os gangsteres são mais debochados, sarcásticos e atiram nas pessoas pelo simples prazer de machucar, ou até mesmo de matar, tudo em nome da honra. O orgulho em cometer crimes e o sentimento de pertencimento a um grupo falam mais alto, com a disputa entre moral e poder sempre entrando em contexto, com a primeira perdendo espaço para o segundo em momentos cruciais da trama.

A autenticidade do roteiro de Scorsese e Pileggi chama a atenção, mas a linguagem cinematográfica empregada pelo diretor é irrepreensível. O plano-sequência da cena em que Henry Hill e Karen (Lorraine Bracco) entram pelos fundos do restaurante Copacabana destaca a magnificência de um gângster naquele contexto, e como o mundo se curva para ele quando no auge. Outro recurso recurso interessante empregado pelo cineasta na montagem é o das imagens congeladas, sempre acompanhadas com narrações em off pontuais do protagonista, que dão o tom da obra.

A trilha sonora é outro elemento essencial de Os Bons Companheiros, sempre trazendo canções clássicas como “Rags to Riches”, de Tony Bennett“Layla”, de Derek & The Dominos ou mesmo “Sunshine of Your Love", da banda Cream, do astro Eric Clapton. As músicas não apenas deixam a produção mais charmosa, por assim dizer, como ajudam a pontuar as três décadas em que narrativa se passa.

No que diz respeito as atuações, não são menos que memoráveis. Robert De Niro (O Rei da Comédia) e Joe Pesci (Touro Indomável) acabam se destacando, mesmo que em papéis coadjuvantes, num perfeito embate entre truculência e agressividade no clã liderado por Jimmy Conway. Liotta, por sua vez, têm em Henry Hill o melhor papel de sua carreira, vivendo um personagem de índole controversa e dominado pelo desejo e consumismo da sociedade norte-americana da época.

Foto: Warner Bros Pictures

Vale ainda menções honrosas para Paul Sorvino (Rocketeer) e Lorraine Bracco (The Sopranos). Sorvino vive o mafioso local para o qual os gangsteres da região prestam contas. Bracco é a esposa judia do protagonista, sexualmente atraída pelo mundo do crime e com participação decisiva nos rumos da narrativa.

Os Bons Companheiros é um jovem clássico do cinema, dirigido com maestria por um gênio da função. Seu lançamento ainda viria a influenciar diversas obras, sendo The Sopranos, de David Chase, a mais marcante delas, mudando a história das séries de televisão norte-americanas para sempre.

Excelente

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