CRÍTICA | A Chegada

Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Eric Heisserer
Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg, entre outros
Origem: EUA / Canadá
Ano: 2016


A premissa é simples: naves alienígenas pousam na superfície da Terra e geram pânico instantâneo e incertezas políticas. Um grupo de especialistas é destacado para tentar descobrir o propósito desses seres. Entretanto, o que o diretor canadense Denis Villeneuve (Sicario: Terra de Ninguém) faz com essa ideia inicial foge dos clichês tão comuns ao gênero. Em A Chegada (Arrival), lançado em 2016, as cenas de ação e destruição são substituídas por um estudo sobre a natureza da linguagem, das relações humanas e do tempo.

Uma das primeiras ressignificações propostas pelo roteiro de Eric Heisserer (Caixa de Pássaros) é a escolha de sua protagonista, a linguista Louise Banks (Amy Adams), já que na ficção científica a maioria das equipes de cientistas é liderada por homens. Na narrativa, Banks dividirá a tela com o matemático Ian Donnelly (Jeremy Renner), que também busca respostas para o enigma que representa os seres extraterrestres, chamados de "heptapods". Porém, a personagem é muito mais desenvolvida do que a do seu parceiro, já que mergulhamos, até mesmo, em sonhos e flashes da sua vida.

Outra mudança significativa é o enfoque e o ritmo empregado a história. Apesar de apresentar elementos típicos de blockbusters do gênero - a presença do exército, os procedimentos de segurança militar e o pânico gerado e documentado pela mídia - dessa vez, o filme foca na tentativa de comunicação e no processo de entendimento das criaturas, o que dá um ritmo mais lento a história. Para Villeneuve, fica claro que, mais importante do que lutar contra os heptapods, é compreender a sua natureza e a sua forma de se comunicar. 

Foto: Sony Pictures

Aliás, o cuidado da produção de A Chegada na criação de um alfabeto alienígena e no uso de uma teoria linguística plausível merece destaque, já que os símbolos que aparecem em cena não são aleatórios. A partir de 15 desenhos feitos pela artista Martine Bertrand, a equipe de design de produção do longa-metragem desenvolveu um alfabeto com 100 símbolos, que poderiam ser interpretados graças a um software de tradução, o mesmo que aparece em várias cenas da obra.

“Se você pudesse ver toda a sua vida do início ao fim. Mudaria alguma coisa?”

O roteiro e a montagem também são hábeis em brincar com a percepção do público com relação ao tempo, e talvez aí esteja o grande trunfo da projeção. A experiência de assisti-la pela primeira vez diverge completamente de uma segunda exibição, já que a não-linearidade desses elementos surpreendem e entregam uma nova visão de todo o ocorrido ao espectador.

Trazendo sensibilidade e humanidade, características essenciais em toda boa ficção científica, Denis Villeneuve entrega o que é considerado por muitos o melhor filme de 2016. E ainda que tenha sido esnobado em diversas premiações no ano seguinte, A Chegada merece a atenção de todos os cinéfilos, pois levanta uma reflexão interessante sobre o peso das nossas escolhas.

Foto: Sony Pictures


Excelente

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