CRÍTICA | Wonka

Direção: Paul King
Roteiro: Paul King, Simon Farnaby e Roald Dahl
Elenco:Timothée Chalamet, Calah Lane, Olivia Colman, Keegan-Michael Key, Hugh Grant, entre outros
Origem: EUA/Reino Unido/Canadá
Ano: 2023

Lançado em 1964 e escrito por Roald Dahl (Convenção das Bruxas), o livro A Fantástica Fábrica de Chocolate já teve duas adaptações para o cinema. O clássico de 1971, protagonizado por Gene Wilder (O Jovem Frankenstein), marcou o cinema e a infância de muitos, com uma proposta que mesclava a tecnologia e a criação do chocolate, mas com um ambiente tenebroso no enredo das crianças. Já a outra de 2005, com Johnny Depp (Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald), dirigida por Tim Burton (Dumbo), foi mais fiel à essência do livro, que apesar da excêntrica e emblemática personalidade de Willy Wonka, ainda trazia o lado mais vulnerável do personagem, com boas motivações. Ambas contavam, através da fantasia, uma história sobre como os adultos são os culpados por estragarem suas crianças.

Enquanto isso, Wonka, do diretor Paul King (Paddington 2), é uma ideia totalmente original. Muitos foram contra por estarem cansados de refilmagens, mas surpreendentemente, a prequel é, de fato, um acerto. Uma produção que entretém e nos envolve, com uma trama agradável de se acompanhar. Diferente das outras produções, não temos aqui sombras e tensões acerca do protagonista. Tudo o que se pode ver é a inocência de uma pessoa talentosa e a fé na possibilidade realizar seus sonhos.

O prelúdio reimagina e apresenta um jovem Willy Wonka (Timothée Chalamet) sonhador, que começa a produzir os mais absurdos chocolates na busca de se tornar o maior chocolateiro do mundo. Criando uma personalidade única para o protagonista e diferenciando-se das outras adaptações, o longa convida o espectador a passear nesse mundo encantado e esquecer da realidade.

Warner Bros Pictures

Contada em forma de musical, a história começa com Wonka chegando à Galeria Gourmet, onde sempre sonhou em abrir sua loja de doces para honrar à memória de sua mãe. Contudo, ele precisa lidar com a corrupção e a fúria de três magnatas do chocolate, que estão dispostos a fazer qualquer coisa para não perderem dinheiro. E pra piorar, ele ainda se hospeda na pousada da trapaceira Srta. Scrubit (Olivia Coleman), uma mulher cruel e ambiciosa.

Lá, ele descobre que caiu num golpe e terá que pagar sua dívida trabalhando na lavanderia da estalagem, onde acaba conhecendo outras pessoas tão diferentes quanto ele, mas que estão na mesma situação: Noodle (Calah Lane), uma pobre menina órfã que se torna sua amiga e o ensina a ler e escrever; Piper (Natasha Rothwell), uma encanadora; Abacus (Jim Carter), um contador, Lottie (Rakhee Thakrar), uma telefonista e Larry (Rich Fulcher), um comediante sem graça. Juntos, eles o ajudam, e também a si mesmos, a sair dessa enrascada.

Com esse roteiro aparentemente simples, sem detalhes exagerados no texto, é que a obra conquista facilmente o espectador. Wonka foca no que é importante e dá tempo para que Timothée Chalamet (Duna) desenvolva e construa várias camadas para o seu personagem, seja falando, cantando ou dançando. O protagonista, sempre cativante, carrega uma esperança essencial para o filme.

O exagero fica por conta da cenografia e dos efeitos especiais para transformar uma narrativa simples em algo mágico e construir um mundo surrealista. King cria uma obra colorida, acalentadora, com uma ambientação fantástica que nos faz aceitar que tudo ali é surreal, porém, realizável.

Wonka é um musical estranho e caricato, bem parecido fantasticamente e sonoramente com a série Matilda, da Netflix. Mas o momento que deve arrancar lágrimas do espectador é justamente aquele em que a emblemática canção "Pure Imagination", do original de 1971, ganha a tela.

Warner Bros Pictures

No que diz respeito a escalação de atores, o longa acerta em cheio. Apesar de estar costumado com personagens mais sombrios e sérios, Chalamet parece nascido para o papel e nos entrega um Wonka inocente e até certo ponto desconectado da realidade, mostrando que sabe abraçar o diferente com maestria. Olivia Colman (Meu Pai), por sua vez, prova novamente sua versatilidade, encarando uma vilã que lembra muito a diretora Trunchbull. Também se destaca a participação de Tom Davis (Legacy) como Bleacher, uma espécie de capanga e amante da Sra. Scrubit. São personagens malvados e caricatos, mas que escolhemos amar (e odiar), que parecem ter saído diretamente de uma animação. No entanto, a grande surpresa, essencial para o desenvolvimento da história, foi Calah Lane (This is Us), no papel de Noodles, performando no mesmo nível que seus colegas de produção.

Rowan Atkinson (Johnny English 3.0) é um padre chocólatra e corrupto, e mesmo sem muito tempo de tela ou falas, consegue fazer rir só com as expressões faciais. E falando em fazer rir, apesar de suas reclamações, Hugh Grant (Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes) está ótimo como o clássico Oompa-Loompa e rouba a atenção do público com humor na dose certa

E é por meio dessa harmonia de enredo inovador, elenco brilhante e cenários mágicos que Paul King conseguiu construir uma obra infantil que vai agradar a toda família. O tipo de filme perfeito para o fim de ano. Simples, com boas canções, um visual lindo e com efeitos especiais competentes. Uma produção leve e divertida, que resgata a inocência da infância e nos faz lembrar como é bom sonhar.

Bom

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