CRÍTICA | Convenção das Bruxas

Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis, Kenya Barris e Guillermo del Toro
Elenco: Anne Hathaway, Octavia Spencer, Stanley Tucci, Chris Rock, entre outros
Origem: EUA / México / Reino Unido
Ano: 2020


Convenção das Bruxas (The Witches) é mais um remake de uma obra de décadas passadas que ganha sua versão atual. Baseada no livro de Roald Dahl, lançado em 1983, a primeira adaptação foi lançada em 1990, dirigida por Nicolas Roeg (Desejo Selvagem) e estrelada por Anjelica Huston (Os Excêntricos Tenenbaums), assombrando toda uma toda uma geração de crianças. Agora, 30 anos depois, Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro) tenta repetir o feito.

A estória de um menino órfão que vira rato por conta de uma maldição lançada pela Grande Bruxa (Anne Hathaway), bem como os efeitos especiais empregados para retratar "criaturas" em tela são pretextos suficientes para causar aos mais pequenos prováveis pesadelos.

Ao fazermos uma comparação com o filme anterior, percebemos várias novidades significativas nessa nova versão. A primeira é percebida logo de início, já que a narrativa é contada não mais pela avó do menino, aqui vivida por Octavia Spencer (A Forma da Água), mas pelo próprio garoto - já adulto - na voz de Chris Rock (No Auge da Fama).

Além disso, diferente da versão de 1990, que se passava majoritariamente na Inglaterra dos anos 1980, o filme de Zemeckis transfere a estória para o Alabama do final dos anos 1960, trazendo uma camada a mais para o roteiro ao colocar atores negros nos papéis principais de uma estória ambientada em um estado segregacionista do sul norte-americano. É uma pena, porém, que essa questão político-social não se desenvolva além de algumas sutilezas levantadas ao longo da trama.

Warner Bros Pictures

Para qualquer espectador mais nostálgico, porém, a alteração mais surpreendente é sem dúvida a que vem no desfecho. Embora o roteiro escrito por Zemeckis, Kenya Barris (Black-ish) e Guillermo del Toro (Círculo de Fogo) tenha um tom mais fantasioso e cômico do que aquele sinistro criado por Allan Scott (O Gambito da Rainha), o final é, de certa forma, menos feliz. Nessa versão, é a mensagem de resignação e o chamado à revolução que prevalece, e não tanto a felicidade de Hero Boy (Jahzir Bruno) - embora possamos argumentar que passar a vida convocando a juventude do mundo a impedir que outras bruxas causem mal a mais crianças não seja tão ruim assim.

No papel da Grande Bruxa, Anne Hathaway (Os Miseráveis) oferece uma interpretação sólida. Fazendo uma versão "Cruela" do leste europeu, a atriz encarna a visão assombrosa de feiticeira e magnetiza a todos quando entra em cena. Mesmo que sua transformação não seja tão incrível quanto a de Houston em 1990, os poderes especiais concedidos à Hathaway graças à tecnologia de hoje compensam e a tornam quase tão temível quanto aquela do passado (e digo "quase" porque Houston continua suprema, sem dúvida alguma).

Hollywood está sempre em busca regravações de antigos sucessos e, algumas vezes, as revisões conseguem manter, ou mesmo ultrapassar, o nível dos longas originais. Infelizmente esse não é o caso de Convenção das Bruxas. Mesmo que o primor nos efeitos especiais seja indiscutível, o roteiro de 2020 não nos transporta para o ambiente sinistro desejado, fazendo dessa uma trama interessante, mas que não suplanta a original. Acaba sendo um bom passatempo, mas, ao final, a vontade que fica é de revisitar o filme de 1990.

Warner Bros Pictures


Bom


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