CRÍTICA | Febre da Selva

Direção: Spike Lee
Roteiro: Spike Lee
Elenco: Wesley Snipes, Annabella Sciorra, Spike Lee, Ruby Dee, Samuel L. Jackson, John Turturro, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1991


Spike Lee (Mais e Melhores Blues) é sempre atemporal em suas obras. Mesmo filmes lançados em outras décadas podem ser usados para discutir questões raciais nos dias de hoje. Por um tempo, teve-se a falsa impressão de que, com o avançar dos anos, o preconceito seria um obstáculo vencido na história da humanidade. Infelizmente, os tempos contemporâneos mostram o contrário. Por mais que desejemos que as críticas sociais levantadas em obras como Febre da Selva (Jungle Fever) não tivessem mais relevância hoje, elas ainda têm. E muita. 

O longa conta sobre a difícil história de amor entre Flipper (Wesley Snipes) e Angie (Annabella Sciorra). Ele, um jovem negro, arquiteto e bem-sucedido. Ela, uma mulher branca, contratada para trabalhar temporariamente com ele. Os dois apaixonam-se e iniciam um romance complicado pelo julgamento alheio, já que trata-se de um casal interracial.

Febre da Selva apresenta ótimos arquétipos para estimular a reflexão, assim como também tenta quebrar alguns. O fato de Flipper ser um indivíduo estudado, competente e próspero como arquiteto, vai de encontro à imagem estereotipada de que homens pretos só podem trabalhar em atividades manuais e operárias, por exemplo.

Foto: Universal Pictures

Com o início do relacionamento amoroso, vários obstáculos são instituídos, única e exclusivamente devido a cor da pele de ambos. De um lado o pai super religioso e pastor de Flipper, que se recusa, por exemplo, a jantar com Angie. De outro, o pai machista de Angie, que concretiza seu discurso de ódio racista em agressões à filha. 

Uma cena também bastante relevante a se pontuar é quando o casal finge lutar boxe na rua e Flipper é abordado de forma violenta por um policial, presumindo que a situação tratava-se de um assalto. Mais um aspecto extremamente real do filme, evidenciado no atual movimento mundial Black Lives Matter, em português, Vidas Negras Importam.

Acredito que o mais relevante a ser destacado aqui são os personagens e como estes estabelecem suas relações com outros e com os ambientes em que foram inseridos. Spike Lee, que também assina o roteiro, o faz de maneira magistral ao abordar o preconceito racial como uma apuração de fatos, verificação do real, e não como denúncia. 

Febre da Selva fala sobre preconceitos, não somente o racial, mas também de gênero, religioso, cultural, social. Para o desfecho, Spike deixa-nos com uma cena visceral, algo costumeiro em seus trabalhos, estabelecendo um argumento não muito distante dos discursos de ódio que temos acompanhado nesse ano selvagem de 2020.

Foto: Universal Pictures


Ótimo

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