CRÍTICA | Alice no País das Maravilhas

Direção: Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske
Roteiro: Winston Hibler, Ted Sears, Bill Peet, Erdman Penner, Joe Rinaldi, Milt Banta, entre outros
Elenco: Kathryn Beaumont, Bill Thompson, Ed Wynn, Richard Haydn, Verna Felton, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1951

Walt Disney sabia como ninguém utilizar os clássicos da literatura para criar animações fantásticas que entretinham tanto crianças (seu público alvo) quanto adultos. E não foi diferente com Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland). A adaptação da obra de Lewis Carroll, dirigida por Clyde Geronimi (As Aventuras de Peter Pan), Wilfred Jackson (Branca de Neve e os Sete Anões) e Hamilton Luske (101 Dálmatas) foi produzida para as telas do cinema em 1951 e é até hoje ovacionada, seja pelo animação de traços simples, que trazem um ar de naturalidade e humanidade ao filme; ou pela linda trilha sonora, merecidamente indicada ao Oscar.

O filme começa com Alice (Kathryn Beaumont) ao pé de uma árvore, acariciando seu gatinho e dizendo à irmã mais velha (Heather Angel) que, em seu reino, não haverá livros sem figuras nem recitais chatos. Enquanto ela tenta explicar à tutora que tudo em seu reino seria ideal justamente porque não seguiria lógica alguma, ela vê um coelho branco correndo desenfreadamente e larga tudo para ir atrás dele. Ao vê-lo entrar em uma toca, ela o segue e cai num poço fundo que a leva para um universo encantado bem parecido com o mundo que ela, há pouco, tinha descrito como ideal para a irmã.

Alice no País das Maravilhas é uma metáfora curiosa sobre a adolescência. Desde a sensação de ser em um momento gente grande e em outro uma criança, quanto o mundo que parece não se encaixar mais na lógica apreendida até então, a trama retrata uma visão lúdica sobre o que significa essa fase de transição, que é tão confusa e pode ser, algumas vezes, perturbadora. Por isso, o que Alice descobre em sua jornada é que a transformação constante e a ausência de regras, que até há pouco ela descrevia como reino ideal, não resultam, necessariamente, em uma aventura divertida. Não saber como agir ao conhecer alguém ou perceber que determinada ação nem sempre tem o resultado esperado, causa à menina desconforto e faz com que ela passe a duvidar de si mesma. Em determinado momento Alice afirma, em prantos, “Eu nunca faço as coisas que deveria fazer”, numa nítida frustração pelo seu desconhecimento do mundo e provável arrependimento de não ter seguido a cartilha ditada pela irmã adulta o que faz com que, agora, ela precise resolver tudo sozinha.

Walt Disney Pictures

A adaptação da Disney não é inteiramente fiel o livro de Carroll, mas isso não tira o brilho da animação. De fato, embora seja uma obra infanto-juvenil, Alice no País das Maravilhas é um livro bastante complexo e cheio de interpretações de difícil transposição para um filme infantil. Ao focar em personagens alegóricos como, por exemplo, o Coelho Branco (Bill Thompson), o Chapeleiro Maluco (Ed Wynn), a Lagarta Azul (Richard Haydn) e a Rainha de Copas (Verna Felton), a animação consegue salientar o mais marcante do livro e criar um filme clássico que encanta a todos que o assistem.

Talvez esse Alice no País das Maravilhas de 1951 seja uma das adaptações mais simplistas da obra literária, no sentido de parecer ter sido criada unicamente para divertir e embalar as crianças com melodias típicas das animações Disney. Mas não se engane, tudo na produção foi muito bem pensado e há camadas para todas as gerações.

Para finalizar, vale mencionar que é muito diferente assistir ao filme quando criança e mais tarde enquanto adulto. Para quem não revisitou o clássico ainda, vale a pena.

Ótimo

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