CRÍTICA | As Aventuras de Peter Pan

Direção: Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske
Roteiro: Ted Sears, Erdman Penner, Bill Peet, Winston Hibler, entre outros
Elenco: Bobby Driscoll, Kathryn Beaumont, Hans Conried, Bill Thompson, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1953

É muito fácil se identificar com a história de Peter Pan: um garoto que não queria crescer e escolheu ser criança eternamente. A obra literária "Peter and Wendy" escrita pelo escocês J.M. Barrie é um clássico com inúmeras adaptações em diversas vertentes artísticas, e isso diz muito sobre como a obra dialoga com o público.

Claro, depois que crescemos a infância ganha um significado saudosista e quanto mais o tempo passa para os fãs da animação produzida pelos estúdios Disney em 1953, melhor entendemos a motivação de Peter Pan em querer ficar na Terra do Nunca e levar mais pessoas para lhe fazer companhia. Esse é um dos principais motivos para que o personagem viva no nosso imaginário e conquiste novos adoradores até hoje.

As Aventuras de Peter Pan (Peter Pan) passou por alguns entraves até que sua produção fosse concluída. A 14ª animação do estúdio estadunidense foi um dos primeiros desejos de Walt Disney, assim que começaram os trabalhos cinematográficos da empresa, só conseguindo os direitos autorais com bastante insistência. Porém, o período da Segunda Guerra Mundial obrigou uma longa pausa na produção, que só foi concluída e lançada mais de 10 anos após o início dos trabalhos.

Walt Disney Pictures

Na história, os irmãos Darling (Wendy, João e Miguel) são três crianças cheias de imaginação e que acreditam veemente na existência de Peter Pan (Bobby Driscoll), até que o próprio aparece na casa deles em companhia de Sininho e à procura de sua sombra (guardada por Wendy, que aguardava esperançosa seu retorno), comprovando que seus anseios são verdadeiros: ele existe e levará todos para conhecer a Terra do Nunca, sereias, índios e piratas que habitam a mente fantasiosa dos irmãos e se tornarão reais por uma noite.

Chegando lá, enfim nos deparamos com aquele que será o antagonista da história: Capitão Gancho (Hans Conried) e seu fiel escudeiro, Sr. Smee (Bill Thompson). A dupla é divertida e responsável pelos momentos mais cômicos da história, já que o Capitão aparenta ser um valentão, mas logo sua imagem destemida é substituída pelo medo que sente na presença do crocodilo Tic-Toc - o qual aparece para apavorá-lo e lembrá-lo de sua sede de vingança por Peter, que decepou sua mão e a entregou como alimento para o animal que vive o perseguindo.

Um ponto positivo do roteiro é a liberdade em realizar adaptações nas características originais dos personagens, o que causa uma quebra de expectativa para aqueles que tiveram um primeiro contato com a obra literário. O filme optou também por uma narrativa que foge do padrão das animações clássicas da Disney, apresentando um vilão cruel que também é cômico por ser medroso e atrapalhado junto com seu amigo, ou braço direito, que trai o companheiro por ciúmes. Além, claro, do protagonista que tem um jeito encantador e irritante ao mesmo tempo. São alguns elementos importantes que colocam a animação num patamar diferenciado e desconstroem imagens mais "puritanas" de outras produções do estúdio.

Walt Disney Pictures

As Aventuras de Peter Pan é uma das animações do período clássico da Disney que melhor envelheceu visualmente, apesar de apresentar alguns elementos polêmicos que são debatidos até hoje, como a representação estereotipada do povo indígena e alguns diálogos que remetem ao machismo conservador da época. O que também deixa um pouco a desejar é o fato de não conhecermos muito sobre os personagens e não haver muito desenvolvimento para melhor compreendê-los, o que limita a empatia por suas ações. Isso resulta em uma obra relativamente curta, com 77 minutos de duração.

Os pontos negativos, no entanto, não apagam o impacto do garoto que não quer crescer e toda a magia que traz consigo. A vontade que fica após revisitar a animação na fase adulta é a mesma da infância. Pensar numa lembrança feliz e ser enfeitiçado pelo pó mágico para sobrevoar Londres, ou visitar os diversos cenários coloridos de encher os olhos da Terra do Nunca em companhia de Peter, em uma noite inesquecível.

Bom

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