CRÍTICA | Fahrenheit 451

Direção: Ramin Bahrani
Roteiro: Ramin Bahrani e Amir Naderi
Elenco: Michael B. Jordan, Michael Shannon, Cindy Katz, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


As produções da HBO Films vêm chamando a atenção do público e da crítica há algum tempo,  levando ao público histórias que talvez não soem tão comerciais ao ponto de serem exibidos na grande tela, mas que certamente têm seu público. É o caso desse Fahrenheit 451, longa baseado no romance distópico de 1953. Aliás, vale citar que o livro já havia sido adaptado em 1966 pelo grande François Truffaut (Os Incompreendidos), o que por si só garante uma missão nada fácil ao diretor desse novo filme, Rahmin Barani (A Qualquer Preço). 

A narrativa conta a história de Guy Montag (Michael B. Jordan), um bombeiro em um futuro distópico, cuja tarefa ingrata é queimar todos os livros existentes, enquanto rebeldes tentam impedir que isso aconteça.

O maior acerto da obra é a estética cyberpunk empregada, que lembra muito filmes como Blade Runner. Por outro lado, a criação de mundo não é tão bem desenvolvida, fazendo com que o espectador tenha dificuldade em compreender a geografia da cidade em que a história se passa, por exemplo. Fruto talvez da direção pouco inspirada de Barani, que parece conduzir a obra em sua zona de conforto, sem se arriscar demais, ainda que nos entregue alguns planos longos interessantes e participação em uma montagem frenética. Elementos que atualizam a versão da década 1960 para uma visão mais hollywoodiana, por assim dizer.

Foto: HBO

A escolha do elenco é outro elemento essencial para que a obra funcione. Michael B. Jordan (Pantera Negra) está excelente no papel de Montag, assim como seu chefe dentro da corporação, o Capitão Beatty vivido por Michael Shannon (A Forma da Água). A relação de "herói" e "antagonista" criada para ambos faz com que o filme alcance um patamar maior do que ele realmente merece. São, de fato, os únicos personagens da narrativa em que é possível enxergar camadas de desenvolvimento, e os atores entregam isso em tela. Não há toa têm sido 2 nomes fortes da indústria cinematográfica atual.

O texto permite algumas sacadas interessantes, fazendo críticas a nossa realidade, principalmente no que diz respeito as redes sociais e a espetaculização do ódio. Porém, mesmo acertando em suas metáforas, o longa peca no desenvolvimento narrativo, fazendo com que todos os eventos soem apressados, sem tempo para construções de relação, que acontecem quase que instantaneamente em tela.

No fim, Fahrenheit 451 se mostra como um longa-metragem que tem muito a falar, mas pouco entrega por conta de sua fragilidade técnica. Um filme regular, que não atende ao padrão televisivo da HBO e que, não fosse pelo trabalho de seus protagonistas, estaria fadado ao esquecimento instantâneo.

Bom

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