CRÍTICA | Porco Rosso: O Último Herói Romântico

Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Elenco: Shûichirô Moriyama, Tokiko Katô, Akemi Okamura, Akio Ôtsuka, entre outros
Origem: Japão
Ano: 1992


Procrastinei uma eternidade até finalmente assistir a Porco Rosso: O Último Herói Romântico (Kurenai No Buta), animação lançada em 1992 pelo Studio Ghibli e dirigida pelo mestre Hayao Miyazaki (O Serviço de Entregas da Kiki). Por algum motivo sempre achei as imagens da produção deveras infantis, o que me fez não tomá-la como prioridade. Enfim acabei assistindo-a, percebendo meu equívoco rapidamente.

Porco Rosso se passa nos anos 1930 e conta a história do personagem título, um homem com cara de porco, um piloto veterano da Primeira Guerra Mundial que vive em uma ilha deserta escondida e trava batalhas aéreas contra piratas que assaltam embarcações e sequestram tripulantes visando recompensas e tesouros.

O roteiro cativa em sua simplicidade, mas aos poucos revela camadas de desenvolvimento inesperadas. Seu protagonista, por exemplo, já fora um homem comum no passado, mas acabou amaldiçoado e transformado em porco. O exato motivo da transformação, ou mesmo como ela aconteceu, pouco importa para a trama. Miyazaki prefere explorar a personalidade do personagem, suas paixões e melancolia constante, já que se recorda do passado com pesar, se privando de viver alguns sentimentos no presente.

Foto: Studio Ghibli

"É melhor ser um porco do que um fascista."


Ambientado em uma Itália em guerra, Porco Rosso adota um tom romântico que vem desde a belíssima trilha sonora de Joe Hisaishi (Nausicaä do Vale do Vento) até o clima noir que jamais abandona o personagem, com seu chapéu e sobretudo, sempre com uma mão no bolso e um cigarro na outra. Sua personalidade forte, presa aos princípios que o impedem de se aliar com antigos amigos que aderiram ao lado fascista na guerra, é um dos elementos que fazem o espectador simpatizar com 
Marco (Shûichirô Moriyama) - o porco - logo de cara.

Evidentemente que a obra não deixa o humor de lado, apelando para uma comicidade infantil, especialmente no que diz respeito aos piratas, desprovidos de muita inteligência e sempre bastante exagerados em suas ações. E se o filme não tivesse os adjetivos citados até aqui, poderia soar como um produto banal de entretenimento pueril, no entanto, é justamente essa mistura que faz com que seja uma produção digna do Studio Ghibli e de seu criador.

Outro aspecto louvável, assim como em seus trabalhos anteriores, é o fato de Miyazaki introduzir uma personagem feminina marcante, mesmo que tenha um personagem masculino como protagonista aqui. Ainda que Jina (Tokiko Katô) tenha um arco romântico não tão bem desenvolvido, sua personalidade marcante e paixão pela aviação a tornam cativante. A mim fica evidente que os dois, Marco e Jina, são uma espécie de mistura das paixões do próprio Miyazaki, que tem a aeronáutica como um de seus amores.

Foto: Studio Ghibli

Mesmo sem apresentar um desfecho a altura de todo o seu desenvolvimento, Porco Rosso: O Último Herói Romântico jamais chega a decepcionar, entregando alguns momentos de singelo tesouro, como quando Jina, à luz de velas de uma madrugada, parece enxergar a verdadeira face humana de Marco, para logo depois voltar a atual normalidade suína. Uma forma mágica de explicar o inexplicável, que ficará marcada por um bom tempo na minha memória.

Ótimo

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