CRÍTICA | A.I.: Inteligência Artificial

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Steven Spielberg
Elenco: Haley Joel Osment, Jude Law, William Hurt, Frances O'Connor, entre outros
Origem: EUA / Reino Unido
Ano: 2001


A.I.: Inteligência Artificial (A.I.: Artificial Intelligence) é um projeto que vinha sendo desenvolvido por Stanley Kubrick (O Iluminado) desde 1969, mas que nunca tinha visto a luz do dia porque o diretor acreditava que a tecnologia necessária para se fazer o filme ainda não havia sido lançada. No fim dos anos 1990, no entanto, ele se reuniu com Steven Spielberg (O Resgate do Soldado Ryan) e resolveu dar vida a produção, algo que acabou sendo interrompido por sua súbita morte enquanto ainda finalizava De Olhos Bem Fechados (1999).

Coube a Spielberg - sozinho - assumir o projeto que, a essa altura, já havia gerado grande comoção e ansiedade. O resultado foi uma fábula complexa, mergulhada em sua própria fantasia, um longa extremamente emocional. Um fracasso de público, com boa parte da crítica especializada reprovando o filme. Mas afinal, a obra é de fato ruim, ou as expectativas criadas em seu lançamento eram exageradas?

A trama se passa durante o século 22, onde a Terra, após ter passado por catástrofes ecológicas com o degelo de parte das calotas glaciais, tem vários espaços ocupados por água, inclusive cidades importantes como Nova York. Por outro lado, a tecnologia humana também evolui bastante, especialmente no campo da robótica e da inteligência artificial. Nesse contexto, a humanidade passa a conviver com um grande número de robôs dotados de inteligência, replicando a aparência dos seres humanos.

Foto: Warner Bros Pictures

O longa se concentra na vida do casal Henry (Sam Robards) e Mônica Swinton (Frances O’Connor), que são pais de Martin (Jake Thomas), um menino que está morrendo de uma doença rara e, por isso, passa por um processo de criogenização na esperança de uma cura. Querendo animar sua esposa, Henry aceita a proposta de sua empresa, a Cybertronics, de levar para casa David (Haley Joel Osment), um androide em forma de criança, da mesma idade de seu filho. Na verdade, David é um protótipo de um novo tipo inteligência artificial, capaz de expressar sentimentos como o amor.

Quando Martin volta para casa, um conflito se estabelece entre as crianças, fazendo com que Mônica - obrigada pelo marido - expulse David de seu lar. Convencido de que será aceito de volta caso se transforme em um “menino de verdade”, o pequeno androide inicia uma jornada em busca da mesma "fada azul" que transformou Pinóquio em gente, fábula que sua mãe havia lido para ele. No caminho, ele enfrenta a intolerância dos humanos, descobre a verdade sobre seu criador e se envolve com vários robôs abandonados.

Gostando ou não do resultado final, é difícil passar indiferente pela obra. Spielberg - que também é responsável pelo roteiro - apresenta diversas discussões éticas, científicas e filosóficas sobre nosso futuro, tendo como tema principal a convivência e interação entre seres humanos e robôs. Por outro lado, a produção também soa como uma ode ao amor e a convivência familiar, o que pode parecer dissonante.

Além da atuação magnífica de Haley Joel Osment (O Sexto Sentido) no papel principal, os aspectos técnicos também saltam aos olhos, como o design de produção, que mostra uma elegância invejável e fascinante na criação daquele mundo. Os efeitos visuais soam realistas até hoje, o que ajuda a manter a sobriedade da história. Tudo oscila entre o luxuoso e o degradante, algo ressaltado pela cinematografia de Janusz Kaminski (A Lista de Schindler), que oscila perfeitamente entre tons alegres e sombrios.

Foto: Warner Bros Pictures

No fim, apesar dos pontos positivos, a colisão de ideias soa muito contrastante, e a luta do pequeno androide para se transformar em uma criança de verdade resulta numa obra complexa e incompreendida. Muito pouco para uma proposta tão ambiciosa, o que é uma pena. O espectador é então obrigado a compreender que A.I.: Inteligência Artificial é um filme de Steven Spielberg, não de Stanley Kubrick, mas sem nunca deixar de imaginar como poderia ter sido, se fosse do segundo.

Bom

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