CRÍTICA | As Vantagens de Ser Invisível

Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Stephen Chbosky
Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Paul Rudd, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2012


O quanto pode ser dura, ou maravilhosa, a vida de um adolescente do highschool norte-americano da década de 90? Essa é apenas uma das varias e importantes questões levantadas por As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower), filme que marca a estreia de Stephen Chbosky na direção da adaptação do livro homônimo, que também foi escrito pelo mesmo. Uma obra de cunho absolutamente pessoal e intimista, tamanha a liberdade que Chbosky teve para com seu trabalho (o roteiro também é dele), e que funciona de forma interessante e competente, especialmente por se tratar de um estreante na direção.

Charlie (Logan Lerman) é um calouro do ensino médio norte-americano que tem dificuldade em se destacar e se relacionar com outros alunos, fruto da timidez e insegurança causada por traumas passados, entre eles, o suicídio de seu melhor amigo. Certa noite, durante uma partida do time de futebol americano do colégio, ele conhece Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), e desde então passa a conhecer um novo mundo, em que vivencia a beleza das amizades, do primeiro amor e das inúmeras descobertas que a adolescência traz.

E que forma melhor de começar a falar desse filme que não por sua direção. Estabelecendo uma fotografia escura, por vezes soturna, Chbosky valoriza as luzes de forma bela e conveniente a história contada, bem como as emoções vividas pelo protagonista, intensificando seu brilho em momentos marcantes e importantes para a trama. Cenas como a do passeio pelo túnel, ou quando Charlie vê Sam pela primeira vez são bons exemplos. O diretor ainda utiliza de simbolismos bem colocados, associando a paixão que Charlie sente por Sam às estrelas. Isso pode ser percebido em momentos de grande apelo em que vemos o “casal” junto, seja observando o céu estrelado ou mesmo no quarto da garota (repleto de pequenas luzes ao fundo). Não por acaso, Sam utiliza um colar com uma estrela dourada durante grande parte da obra.

A destreza que Chbosky demonstra em seu trabalho como diretor também pode ser percebida no roteiro, que modifica alguns pontos menos importantes do livro de forma a beneficiar a narrativa do longa-metragem (interessante que o filme em determinado momento mostre os personagens utilizando LSD, mas nunca com um cigarro a boca, fato corriqueiro na obra literária), sem nunca perder sua mensagem e dilemas principais, como toda boa adaptação. Temas como preconceito, bullying, homossexualismo, amizade e amor, entre tantos outros, são tratados de forma natural e semelhante à realidade de todos nós (norte-americanos ou não) que já fomos adolescentes um dia, ou que ainda o são. Os que viveram esse período durante a década de 90 talvez se identifiquem ainda mais, pois o retrato da época é muito bem feito (celulares não existem, já walkman e fitas-cassetes são a febre musical entre os jovens).

Após tentativas frustradas de alçar bons voos como ator (Percy Jackson e Os Três Mosqueteiros não me deixam mentir), Logan Lerman enfim pôde mostrar desenvoltura no papel de Charlie. Vivendo o protagonista de forma comedida e de poucas palavras, Lerman diz muito através do olhar e da expressão corporal, destacando-se especialmente durante o terceiro ato da narrativa, que exige grande carga dramática do mesmo. Emma Watson, por sua vez, consegue se desprender de sua Hermione da saga Harry Potter, vivendo Sam de maneira apaixonante e imperfeita (mesmo que aos olhos de Charlie ela assemelhe-se a perfeição). Destaca-se também Ezra Miller (Precisamos Falar Sobre Kevin) que vem se mostrando um ator promissor, interpretando Patrick de forma intensa e emocional, seja nos momentos de alegria ou tristeza, servindo como um contraponto quase que perfeito ao protagonista.

Contando ainda com um ótimo elenco de apoio encabeçado por Paul Rudd (Ligeiramente Grávidos) e seu grande carisma, além de uma excelente trilha sonora (que vai de The Smiths a David Bowie), e que aqui exerce papel fundamental, As Vantagens de Ser Invisível mostra-se uma obra coesa, marcante, bem escrita e dirigida de forma apaixonada. Um filme que te faz refletir por bons minutos após assisti-lo e que eterniza algumas frases marcantes como “Nós aceitamos o amor que acreditamos merecer”. A soma de todos esses fatores não poderia resultar em uma obra menos admirável, ainda que dura, em sua essência.

Excelente

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