CRÍTICA | Gravidade

Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Alfonso Cuarón e Jonás Cuarón
Elenco: Sandra Bullock, George Clooney e Ed Harris
Origem: Reino Unido / EUA
Ano: 2013


Três astronautas estão em uma missão perto da órbita terrestre, aparentemente realizando reparos externos em uma estação espacial norte-americana. Eles acabam surpreendidos por uma chuva de destroços, causada por uma inesperada destruição de um satélite russo nas proximidades. Devido ao acidente, um dos astronautas, a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), acaba ficando a deriva no espaço e terá que fazer o possível para manter-se viva. Essa é a sinopse de Gravidade (Gravity, 2013), e é exatamente o que acompanhamos ao longo de 90 minutos de longa-metragem. A realização, no entanto, transforma uma premissa simples em algo grandioso.

Desde os primeiros minutos a obra de Alfonso Cuarón (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, 2004) tira o fôlego do espectador na sala de cinema (e esse é o tipo de filme que merece ser visto na grande tela, se possível em IMAX) com um plano-sequência de fazer cair o queixo, nos apresentando todos os elementos que veríamos na projeção. Cada movimento de câmera parece milimetricamente projetado para entregar um enquadramento perfeito, valorizando a estupenda fotografia do mexicano Emmanuel Lubezki, que certamente será indicada ao Oscar.

E falando na premiação da Academia, algumas indicações devem vir para a obra, e é muito provável que Cuarón seja lembrado. Seu trabalho, que nunca foi comum, se destaca em Gravidade. Seja num simples movimento de câmera que nos coloca na visão dos protagonistas – aumentando a intensidade do que ali está se passando - ou na coragem de abordar a temática da forma mais realista possível. No espaço, por exemplo, não há som e, portanto, não o ouvimos em momento algum. Seja uma ferramenta funcionando ou uma explosão de grande porte, nada se escuta a não ser a comunicação dos astronautas e a competente trilha de Steven Price, que ditam o ritmo da emoção. A ausência do som diegético, aliás, aumenta a tensão de forma surpreendente.

Num filme em que, na maior parte do tempo, acompanhamos apenas um ou dois personagens, um bom roteiro se faz necessário, e aqui Cuarón acerta novamente. Em pouquíssimo tempo é possível traçar a personalidade de cada um dos astronautas apenas através dos diálogos, o que é importantíssimo, visto que os atores estão cobertos pela vestimenta espacial e nada enxergamos a não ser seus rostos. O diretor/roteirista também teve a oportunidade de se render a clichês recorrentes nesse tipo de obra, mas não o faz, criando soluções criativas e que ajudam a elevar a qualidade do filme.
 
Sandra Bullock (Um Sonho Possível) e George Clooney (Os Decendentes) são dois nomes de peso para um projeto audacioso e que funcionaram muito bem. O segundo emprega seu enorme carisma ao astronauta Matt Kowalsky, tornando-se uma figura marcante e de enorme importância para a trama. Bullock, por sua vez, entrega o que acredito ser a melhor interpretação de sua carreira (superando inclusive aquela que lhe rendeu o Oscar). Sua Dra. Stone é uma figura “frágil” no espaço, muito em função do pouco tempo de experiência da mesma na função que exerce. E se de início a percebemos levemente orgulhosa em sua insegurança, aos poucos vamos conhecendo sua história, fazendo com que invariavelmente nos importemos com a protagonista. Há dois momentos da atriz que realmente me marcaram durante a projeção, e só termine de ler esse parágrafo se você não teme spoilers. O primeiro, quando a vemos “renascer” após quase morrer por asfixia, num belíssimo plano em que a observamos em posição fetal, em silêncio, respirando. Em outro momento, esse ainda mais emotivo, quando a vemos conversar a esmo com o radio, aceitando sua morte após tanto lutar pela vida, deixando as lagrimas escorrerem por seu rosto. Lagrimas que depois flutuam pela falta de gravidade.

Havendo ainda tempo para referências a obras como 2001: Uma Odisseia no Espaço e O Planeta dos Macacos, Gravidade é uma experiência cinematográfica como poucas nos últimos anos. Daquelas que te prendem na cadeira sem perceber o tempo passar, nos fazendo pensar no que vimos por longos minutos após o fim da sessão de cinema. Se isso não é o indicio de uma obra-prima, não sei dizer o que seria.

Excelente

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