Mad Men 7x12 | Lost Horizon


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Se você chegou até aqui, sabe bem do esmero que a produção de Mad Men tem com cada cena que é construída. No entanto, faltando 2 episódios para o fim da série, ainda fico admirado com tamanha qualidade de narrativa. Cada elemento de cena tem um significado, mesmo que a primeira vista não pareça. Um exemplo perfeito é o momento em que Don participa de sua primeira reunião na McCann.

Logo no início da cena vemos Drapper dirigindo-se para a reunião num longo corredor acinzentado e pouco iluminado (visual característico de praticamente toda a agência). Trata-se de um visual opressor, que estabelece uma clara ruptura do ambiente colorido e cheio de vida que estávamos acostumados a acompanhar na SC&P. Quando adentra a imensa sala de reunião, Don tem seu primeiro choque de realidade, ao se dar conta da quantidade de pessoas que ali estavam. É como se ali fosse apenas mais um, quando antes era o centro das atenções. Ao sentar-se, ele facilmente perde o foco na reunião, sendo distraído por um avião que cruzava o céu ensolarado de Nova York (que cena fantástica!). Vemos em seus olhos - e na sempre fascinante interpretação de Jon Hamm - que nada ali fazia algum sentido para ele, que se levanta e deixa a sala sem cerimônia.

Ainda me impressiona o desprendimento do nosso protagonista. Mesmo depois de todo esforço para retomar seu cargo junto aos sócios, ele não hesita em abandonar tudo sem dar a mínima satisfação a ninguém. Algo que ele já fez em outras oportunidades. Como ele mesmo cita durante sua visão do falecido Bert Cooper, resolveu viver seu próprio Na Estrada, dirigindo sem rumo pelos Estados Unidos, ou quase isso, visto que aproveitou a oportunidade para ir atrás de Diana. E que fabuloso encerramento de episódio ao som de "Space Oddity" de David Bowie.


De volta a McCann, me encanta a secretária de Don, que cuida dele como a um filho. É perceptível que ela de fato se importa com o chefe, como quando o "protege" ao ser questionada por Jim Hobart de seu paradeiro. A personagem ganhou espaço nas últimas temporadas, com ternura e alívio cômico.

Ficou também notório na nova agência o distanciamento dos personagens que tanto gostamos. Basicamente divididos por andares, que dão noção da importância de cada um para a empresa. Isso fica claro quando Pete se empolga ao ver Joan em seu andar, ou mesmo quando a mesma Joan tem uma "conversa de elevador" com Don, o famoso "vamos marcar", que exemplifica perfeitamente o distanciamento de duas pessoas que um dia já foram próximas de alguma forma.

Joan, aliás, foi uma das mais afetadas com a mudança, sofrendo de forma massiva com o machismo que impera no ramo que escolheu trabalhar, algo que já havia ficado evidente no episódio passado, durante o anuncio das contas de cada sócio. A ruiva foi discriminada, assediada e, por fim, ameaçada, quando tomou a drástica decisão de bater de frente com Jim Hobart. Não restou alternativa a não ser aceitar a proposta do novo chefe, após ser aconselhada por Roger.


Não é coincidência que Peggy, a outra mulher importante da equipe, tenha tido problemas com a mudança, ao ser confundida com uma secretária (função que exerceu na longínqua primeira temporada). Ficou então sem sala, forçando-se a trabalhar do escritório vazio da SC&P, certamente motivada pelo ego. Mas, se levarmos em conta a batalha diária que enfrenta para crescer no ramo, seu ego é puramente justificável.

A decisão de Olsen gerou um curioso encontro com Roger Sterling, que encontrava dificuldade em deixar a antiga agência para atrás, claramente apegado ao projeto que amou por tantos anos. As cenas dos dois foram hilárias, a começar pelo horripilante som de órgão que tocava pelos corretores, uma clara alusão a figura de Sterling naquele momento, que vagava como um fantasma pelos corredores. O encerramento, com Peggy patinando enquanto ele tocava o instrumento, foi um daqueles momentos singulares de Mad Men, bem como sua entrada triunfal nos corredores da McCann.

Por fim, e só pra não passar batido, que bela e singela cena de Don e Betty na cozinha. A intimidade e o carinho que têm um pelo outro chegam a ser nostálgicos. Ou talvez eu que enxergue assim, carente pelo iminente fim.

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