Copa Hotel | 1ª e 2ª Temporada


“Frederico, você sabe o que é um hotel? (...) São vários pedaços do mundo num mesmo lugar: Turistas, famílias, rabinos, michês... Empresários russos, comerciantes chineses... Ladrões bolivianos, mafiosos turcos... Isto tudo, e todas as combinações possíveis de tudo isto. 
Um templo do equilíbrio aparente, um equilíbrio forjado, onde não pode faltar nada: A luz, o elevador, a limpeza, o silêncio... A comida, o papel higiênico, a bebida, o gelo na bebida... O dinheiro para pagar as contas... Contas que viram dívidas, que viram monstros... Monstro este que vai comer seus calcanhares, até você desistir de tudo e morrer cercado de bebida e mulheres da vida...”
– Sr. Mario, gerente.

Bem-vindos ao Copa Hotel. A (agora) espelunca que já teve seus dias de glamour e glória nos anos 70 sobrevive na Copacabana do século XXI: “o zumbi do bairro que já foi um dia...”. 

Como turista de passagem no outro lado da tela, achei a apresentação da gerência boa o suficiente para o amigo leitor decidir fazer ou não o check-in. No caso do gerente não ter-lhe atendido apropriadamente, permitam-me adendos deste hóspede que viu tudo (e certamente verá novamente), por repetidas vezes, sentado na poltrona. 

Neste hotel também tem gente bonita, como a aspirante a atriz Antônia; gente mais do que prestativa como o divertido ‘porteiro-faz-tudo’ Bill, a dedicada recepcionista Adele. Temos o Piano Bar, que toca em tom ‘noir’, onde festas temáticas dão aquele empurrãozinho ao começo e término de romances, negociações escusas, reuniões e eventos inusitados. No hall principal e corredores, os irmãos herdeiros do local se estapeiam, travestis desfalecem por intoxicação alimentar; ratos e gatos desfilam como (e com) hóspedes, e os sistemas de luz e ventilação parecem ter vida própria.


Copa Hotel é uma produção do canal GNT, formato série, em duas temporadas (treze capítulos cada), que foi exibida às segundas-feiras, 23h, durante o ano de 2013. Os episódios são curtos, 22 à 25 minutos cada. No elenco principal estão Miguel Thiré, Maria Ribeiro, Fernanda Nobre, Zezé Motta, Felipe Rocha, Verônica Debom, Paulo Verlings, Natasha Stransky, Hélio Ribeiro e outros.

Na história, Fred (Miguel Thiré) é um fotógrafo carioca radicado em Londres, que chega de volta ao Rio em razão do falecimento de seu pai, o então proprietário do hotel, Sr. Gaston Gonzales. O que era para ser uma curta estadia para resolver formalidades e burocracias, torna-se uma longa e tortuosa jornada, onde os problemas financeiros deixados pelo falecido são apenas o início de uma série de eventos que irão alterar o destino do rapaz e de todos envolvidos.

Fred possui dois meio-irmãos: a sensata dona de casa Ana Beatriz (Verônica Debom) - Bia, como é chamada - e o ganancioso e fútil Otávio, ou Tavinho (Luca Bianchi). Enquanto a primeira não hesita em juntar forças com o irmão fotógrafo para resolver de forma prudente o destino do hotel, o outro coloca Fred contra a parede para que este aceite logo uma proposta de investidores alemães, visando, claro, colocar a mão naquilo que é seu único interesse, não só quanto ao hotel, mas na vida: Dinheiro.

Com a ajuda do melhor amigo, Davi (Felipe Rocha), Fred descobre que o imbróglio é bem maior do que parecia: Contas que não fecham, dívidas que se multiplicam, a própria desintegração física do estabelecimento. Davi funciona também como uma espécie de quebra-gelo – o amigo que faz Fred reencontrar seu lado carioca em desventuras igualmente engraçadas e desastrosas, dentre as quais destaco “Carnaval Catarse”, na primeira temporada. Ainda no pessoal, Frederico forma um triângulo amoroso com a médica Maria (Maria Ribeiro), que conheceu no velório de seu pai, e com a atriz Antônia (Fernanda Nobre), hóspede recém-chegada.

Enquanto a recepcionista Adele (Zezé Motta) e o gerente Mário (Hélio Couto) possuem uma relação de zelo maternal/paternal com Fred, quem o ajuda a desenrolar pequenos (às vezes nem tanto) problemas imediatos com os hóspedes é o ‘bell-boy’ Bill (Paulo Verlings – quem arrisco destacar aqui por sua ótima atuação) – um carregador de malas cujos dotes extras vão de pianista à intermediador entre e o hotel e a máfia que dita ‘como a banda toca’ em Copacabana.


Num mix de caos e festa, casais se formam, se deformam e se desformam; antigos e novos segredos familiares vêm à tona... O hotel vive, morre, vira zumbi, ressuscita... Como a maioria de seus personagens. 

Copa Hotel mistura a idiossincrasia carioca com um tom britânico (tom este trazido pelo e para seu protagonista, uma vez que Fred viveu mais tempo em Londres do que no Rio) que é acentuado pela fotografia e trilha sonora (esta última não creditada, infelizmente). O humor, em geral, é inteligente e sóbrio. Em algumas passagens pode soar exagerado e/ou inadequado (ninguém em domínio de si responde com piada uma ameaça na qual se está literalmente atado de mãos e pés, com um revólver apontado para a cabeça), mas isto não desabona a trama, que, no fim das contas, lida também com questões básicas e sempre relevantes, como família, relações pessoais e inexorabilidade do destino.

Consta em registros na net que, no geral, a série não agradou, o que impossibilitou sua continuidade. A premissa de ‘histórias-dentro-de-história-dentro-de-um-hotel” pode parecer desgastada, mas não é o que acontece em aqui. Copa Hotel tem uma dinâmica que flutua bem entre o leve e o intenso, drama e comédia, diversão e reflexão. 

À quem estiver disposto, fica o convite para o check-in. O mínimo que o espectador terá é uma hospedagem diferenciada, sujeito à bom divertimento.

Disponível no GNT-Play

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Rodrigo Alves é músico, produtor musical, estudante de psicologia e (agora) colaborador neste site. Links para suas redes sociais: rodrigoalves.com

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