CRÍTICA | Okja

Direção: Bong Joon Ho
Roteiro: Bong Joon Ho e Jon Ronson
Elenco: Seo-Hyun Ahn, Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal, Paul Dano, Giancarlo Esposito, Steven Yeun, Lily Collins, entre outros
Origem: Coréia do Sul/EUA
Ano: 2017


Okja é um filme original da Netflix e, ouso dizer, um dos mais originais entre eles. A obra é a história de amizade entre uma garota chamada Mija (Seo-Hyun Ahn) e um super-porco fêmea, a famigerada Okja. Lucy Mirando (Tilda Swinton) é uma super empresária dona de uma super companhia que dá vida aos super-porcos e os espalha pelo mundo, até o campeonato, 10 anos depois, onde será analisado qual animal cresceu mais.

Entre os outros personagens temos Frank Dawson (Giancarlo Esposito) que é o braço direito de Lucy Mirando e aparenta ser o senso de controle e equilíbrio da corporação. Ainda temos Dr. Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal) uma super celebridade do mundo dos animais, extremamente excêntrica e controversa. Por último, o super grupo “terrorista” pró-animais que é formado por Jay (Paul Dano) liderando a equipe, Red (Lily Collins), K (Steve Yeun) entre outros.

Provavelmente você deve estar se perguntando o motivo de tantos “super” nesse texto, essa foi a forma que eu usei para exemplificar o tom do filme e o que eu creio que Bong Joon Ho (Expresso do Amanhã) quis transmitir com ele. Tirando o "super", todos os personagens e acontecimentos são facilmente conectados com a realidade, mas o diretor usou uma lupa para amplificar esses eventos, fazendo que, com isso, possamos perceber os problemas reais apresentados pelo longa.

Foto: Netflix

Claramente o filme é uma mensagem contra o sistema dos matadouros e uma reflexão sobre a crueldade desses lugares. Okja nos convida a refletir sobre a nossa cultura carnívora e a enxergarmos os animais, que fazem parte do nosso prato, por outra ótica.

A direção começa muito bem, e a opção por deixar Okja e Mija interagindo durante os primeiros 20 minutos do filme, fazem o espectador acreditar nesse relacionamento, que é construído de forma natural e orgânico. Porém, em seu segundo ato, a narrativa fica um pouco confusa. Mija faz coisas demais para uma criança de sua idade e em alguns momentos nos sentimos em um desenho animado (o que talvez tenha sido a intenção do diretor).

A entrada do grupo “terrorista” dá um novo fôlego a história. Lembrou-me algo ligeiramente “tarantinesco”, o modo em que eles conseguem ser engraçados e ameaçadores ao mesmo tempo. O terceiro ato é o mais sentimental, entra de vez na questão dos matadouros, e no quão inevitável é o fim de um super-porco.

As atuações estão muito boas e o elenco é de peso. Seo-Hyun Ahn convence como Mija, há até momentos em que dá vontade de apertá-la por sua fofura, mas a personagem também é capaz de demonstrar a raiva de quem está perdendo um amigo quando se faz necessário. Faltou um senso maior de “estar perdida”, visto que a menina aparece sempre confiante, algo que não combina tanto com a sua idade e por estar totalmente fora de sua zona de conforto.

Foto: Netflix

Tilda Swinton (Doutor Estranho) tem uma personagem ideal para ela e entrega o que o filme lhe pede. Uma mulher poderosa, porém, muito insegura. Cruel, mas não totalmente feliz com suas escolhas. A irmã gêmea de Lucy Mirando, também interpretada por Tilda, fica pouco tempo em cena, mas a interpretação é precisa. Jake Gyllenhaal (O Homem Duplicado), traz a melhor atuação do longa em minha opinião, completamente diferente do que estamos acostumados. Exagerado, excêntrico e caótico. Muitos reclamaram dos excessos doa ator, mas como coloquei antes no texto, vejo como algo proposital, para maximizar a realidade. Paul Dano (Os Suspeitos) também está muito bem e ainda que seu papel não peça muito, tem o carisma necessário para o personagem.

Falando de aspectos técnicos, devo dizer que a computação gráfica me incomodou um pouco. Quando próxima, a super-porca era perfeita, era visível a densidade e a respiração da personagem, mas à distância senti que faltou uma renderização melhor. Talvez se tivessem optado por alguns efeitos práticos o problema podia ter sido resolvido.

No fim, Okja é um longa importante para a plataforma Netflix e também para a sociedade, quando trata de um tema que certamente deve ser debatido. Em alguns momentos é bagunçado, em outros magistralmente preciso. Nos entrega uma linda história de amizade e um grupo “terrorista” muito interessante e engraçado. Okja é um filme que merece ser assistido e, tomara, que toque o coração de quem o assiste.

Ótimo

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