CRÍTICA | Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Dane DeHaan, Cara Delevingne, Clive Owen, Ethan Hawke, John Goodman e Rihanna
Origem: França
Ano: 2017


Muitos acham que o cinema francês só apresenta dramas cotidianos, mas Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, escrito e dirigido por Luc Besson (O Quinto Elemento), é bem diferente disso. Traz ação, ficção científica e mundos diferentes do nosso. Considerada uma das produções francesas com maior investimento da história (ainda que seja falada toda em inglês), a obra tem dividido opiniões, principalmente no que diz respeito ao roteiro. 

A história é baseada em quadrinhos da década de 60, criados pelo artista Jean-Claude Mézières e o escritor Pierre Christin, que são referência mundial de ficção científica na mídia. O universo rico de Valerian chegou inclusive a inspirar aspectos de outras franquias, o que explica porque, em vários momentos o filme se assemelha muito à obras como Star Wars (a nave que parece demais com a Millenium Falcom e o monstro extraterrestre que lembra muito o Jabba). Outra comparação justa é a semelhança da estação Alpha com a estação espacial de filmes como Guardiões da Galáxia e Planeta do Tesouro. A space opera pode ser considerada um “faroeste sideral”, pois apresenta elementos do western como romance e política, em um contexto espacial fantástico. Histórias em quadrinhos como Valerian e Barbarella ficaram famosas na Europa pelo uso das cores, o apelo sexual e apresentação de temas humanistas como a paz.

O longa inicia contando breve e criativamente a evolução da estação espacial Alpha, dos tempos atuais até o século 28. Inicialmente ocupada por seres humanos, ao longo dos séculos começou a acolher seres de diversos planetas, bem como seus conhecimentos e cultura. Dessa forma, Alpha se tornou tão grandiosa que passou a ser um risco à gravidade da Terra e, por isso, liberaram a estação no espaço para se aventurar no desconhecido e levar a mensagem de paz para outros povos, chegando assim, ao número de 17 milhões de habitantes e ganhando o nome de Cidade dos Mil Planetas

Em seguida temos a introdução dos protagonistas Valerian (Dane DeHaan) e Laureline (Cara Delevingne) que, após um sonho estranho do primeiro com um planeta paradisíaco, seguem ordens do Ministro da Defesa de Alpha para uma missão de resgate de um “replicador”, uma criatura adorável, capaz de copiar centenas de objetos iguais se engolir apenas um. A tarefa dos dois se torna esclarecer o problema que está acontecendo na estação e desvendar alguns segredos sobre o Planeta Mül, com o qual Valerian sonhou.


Infelizmente Dane DeHaan (O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro) e Cara Delevingne (Cidades de Papel) não funcionam como deveriam para a obra, faltando o timing cômico exigido pelo clima estabelecido. Os dois chegam a trazer certa antipatia ao espectador, fazendo com que torçamos para os extraterrestres em determinados momentos. É claro que o roteiro não colabora para que a construção de um romance entre os dois se torne crível, além de não traz algo inovador a trama, visto que trata-se da velha história do sedutor tentando conquistar a garota de personalidade forte. Toda a interação de Valerian e Laureline é baseada numa “DR” insuportável, que perdura por praticamente todas as cenas entre eles. 

Outro fator problemático do filme é sua longa duração, evidenciando cenas que poderiam facilmente ser cortadas da montagem final, como as que os personagens são separados mais de uma vez, ou mesmo as cenas em que ocorrem missões secundárias que não estão necessariamente conectadas com o arco central da trama. Além disso, nessas missões, ainda que personagens sem qualquer relação com a linha narrativa principal sejam inseridos, esses se mostram até mais interessantes do que os protagonistas. Bubble (Rihanna) é a personagem transmorfa que, por exemplo, apresenta mais profundidade de roteiro que Laureline. As três aves antropomórficas também são bem carismáticas, mas funcionam apenas como muletas narrativas, sendo esquecidas logo em seguida.


No entanto, mesmo com um roteiro mal desenvolvido, Valerian se destaca pelos cenários magníficos, bem detalhados e que apresentam seres muito bem caracterizados visualmente. O 3D ressalta a profundidade dos lugares, principalmente quando temos planos abertos do espaço.

O filme também conta com transições de cena bem arquitetadas e a takes filmados por ângulos não convencionais, evidenciando uma noção muito clara de como cada lugar é. Em um mercado virtual gigante em que duas dimensões se sobrepõem, a alternância entre as realidades acontece várias vezes, sem fazer com que o espectador se perca na complexidade da cena. É uma experiência visual penetrante e espetacular, certamente, um prazer ver toda a concepção visual desenvolvida por Besson, que atualiza muitos elementos do quadrinho original.

Sendo assim, fica claro que Luc Besson prefere não se aprofundar na construção de seus protagonistas e as vezes parece perdido na "montanha russa" fantástica que criou em seu filme. Por outro lado, é evidente que o cineasta tem em Valerian e a Cidade dos Mil Planetas uma space opera composta de uma série de figuras e cenários que chamam a atenção da espectador, além de uma abordagem forte sobre a questão da aceitação das diferenças raças e da harmonia entre os povos, que, mesmo não sendo original, traz uma reflexão importante. Contudo é uma narrativa confusa, que tem dificuldade em focar nessa sua principal mensagem, fazendo com que Valerian seja a prova de que mesmo uma produção com grande orçamento, atores conhecidos e visual marcante, pode acabar sofrendo com o resultado final se não tiver um roteiro consistente.

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