Os Defensores | 1ª Temporada


Após dois anos preparando o terreno para o encontro entre os quatro heróis da Marvel produzidos pela Netflix, Os Defensores finalmente chega ao catálogo da gigante do streaming. Depois de enfrentarem suas cruzadas individuais, Demolidor (Charlie Cox), Jessica Jones (Krysten Ritter), Luke Cage (Mike Colter) e Punho de Ferro (Finn Jones) se veêm obrigados a trabalhar em equipe para vencer um inimigo em comum.

Em um primeiro momento, o público é levado por quatro pontos de vista diferentes que sutilmente vão se cruzando. O caminho que leva os heróis a se conhecerem não é forçado e funciona muito bem dentro do cenário que aos poucos é desenvolvido. Danny Rand e Luke Cage se trombam quase que simultaneamente ao encontro de Jessica Jones e Matt Murdock. Apesar do embate entre a primeira dupla citada – diferente do que estamos acostumados a ver em todos os filmes de heróis – os quatro protagonistas não se odeiam a primeira vista; ou seja, nada de brigar entre si para depois se escutarem.

As interações iniciais são bem desenvolvidas, onde os diálogos funcionam para que cada um tenha sua personalidade ainda mais consolidada. Uma fala serve de gatilho para outra, trazendo uma dinâmica interessante até que o quarteto finalmente se encontre. A reunião acontece por acaso, quando todos são levados ao mesmo lugar, na mesma hora, desencadeando a cena de ação vista nos trailers – o famoso cenário do corredor que não fica de fora de nenhuma das séries da Marvel produzidas pela Netflix.


A organização comandada pela vilã interpretada por Sigourney Weaver (Alien, o Oitavo Passageiro) também já é conhecida pelo público e finalmente o objetivo do Tentáculo fica mais claro. É em Defensores que pequenas peças do quebra-cabeça – como o buraco descoberto na segunda temporada de Demolidor e as operações clandestinas das empresas Rand – se juntam para esclarecer a origem e as motivações dos vilões.

Os Defensores é a primeira série deste universo que não faz uso de flashbacks para explicações. Fica nas mãos, principalmente, de Alexandra (Weaver), Madame Gao (Wai Ching Ho) e Stick (Scott Glenn) as explicações para entender o que houve no passado que os levou até o cenário presente. Aos poucos tudo se encaixa para que consigamos entender o real motivo da ressurreição de Elektra Natchios (Élodie Young).

O roteiro da série é bem redondinho, aspecto que já havia sido mostrado nas produções anteriores, não deixando muito espaço para furos ou erros drásticos. O incômodo, entretanto, vem em momentos que podem passar batido – como, por exemplo, quando Jessica tira fotos de Matt pulando muros e ele sequer escuta os cliques da câmera, mesmo com o espectador cansado de saber sobre sua audição apurada. 

Todos os cenários parecem ter sido pensados minuciosamente, fazendo o uso das cores de cada personagem como recurso narrativo e, por vezes, como easter egg. Os tons de vermelho estão sempre presentes nas cenas de Matt, assim como Cage se destaca no amarelo da própria vestimenta; Jessica é representada pela cor azul, a medida que Rand fica com o verde. A vilã, Alexandra, também tem sua própria paleta de cores, predominante branca.

Crédito: Sarah Shatz / Netflix

Esse detalhe é um dos destaques da série, usando as cores para denunciar o que está por vir. Um exemplo é quando Jones é atacada por um membro do Tentáculo e o cenário ao seu redor é predominantemente vermelho. Não demora muito para que o Deônio de Hell's Kitchen apareça para ajudá-la.

Outro destaque é a construção de Alexandra. A frieza com que ela é tratada lembra o desenvolvimento do vilão Fisk (Vicent D’Onofrio) durante a primeira temporada de Demolidor. As camadas da personagem vão sendo descobertas num ritmo lento, porém importante para a narrativa, criando certa tensão e imprevisibilidade de suas ações – deixando o público com a incerto se a conhece ou não.

O tiro certeiro da série, entretanto, é tudo que gira em torno de Elektra. As nuances da personagem combinadas a um gênio forte e habilidades excepcionais, culminam em um dos principais plot twists do ano um de Defensores.

Apesar dos aspectos positivos, a produção deixa a desejar no desenvolvimento dos personagens secundários de todos os núcleos. É compreensível a razão pela qual estão todos reunidos, mas eles parecem jogados no éter, sem espaço para que seus potenciais sejam aproveitados. Colleen Wing (Jessica Henwick), Misty Knight (Simone Missick) e Claire Temple (Rosario Dawson) são as únicas exceções à regra. 

Crédito: Jessica Miglio / Netflix


O que também não conquista são as batalhas. As cenas de lutas, em sua grande maioria, são bagunçadas, enfraquecendo assim as habilidades dos quatro protagonistas. Não é possível enxergar, de fato, as competências de cada um – que são exploradas pouquíssimas vezes.

Os Defensores traz um ritmo dinâmico, deixando bons ganchos de um episódio para o outro,  o que sempre facilita a maratona. A narrativa não é engessada como em Luke Cage, mas não chega a ser tão instigante como outras séries originais Netflix.

Essa primeira temporada certamente traz mais pontos positivos do que negativos, mas deixa a sensação de que falta algo. A série não consegue superar Demolidor – principalmente a segunda temporada – e nem Jessica Jones, por exemplo; e faz uso de plot twists já utilizados em outras séries. Ainda assim, a produção é melhor que Punho de Ferro – não que seja muito difícil.

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