CRÍTICA | It: A Coisa

Direção: Andy Muschietti
Roteiro: Andy Muschietti, Cary Fukunaga e Gary Dauberman
Elenco: Bill Skarsgård, Finn Wolfhard, Jaden Lieberher, Jeremy Ray Taylor, Sophia Lillis, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2017



Coulrofobia. Um termo muito estranho, mas que ganha força, mesmo não sendo tão difundido. Para explicar o que isso significa, antes é necessário fazer uma pergunta: você tem medo de alguém que usa sapatos desproporcionais, roupas coloridas, nariz vermelho, maquiagem e cabelo estranho? Se a resposta for sim, é possível que você tenha coulrofobia, ou seja, medo de palhaços. Se for o seu caso, fica a advertência antes de ler o restante desse texto, ou mesmo assistir o filme.

É difícil precisar quando o termo foi cunhado, mas muitas pessoas sofrem com este problema. Alguns dizem que o tal medo se deve por algum tipo de evento traumático causado na infância e que pode ter deixado sequelas bastante graves. Seja qual o for motivo, o importante é salientar que Stephen King, o gênio por trás do palhaço Pennywise, também sofre com isso. Talvez esse tenha sido o combustível necessário para que ele externasse seus maiores temores e fizesse com que muitas pessoas partilhassem disso.

Alguns devem lembrar de um estranho fenômeno que ocorreu no ano passado. Por volta de julho ou agosto, surgiram uma série de vídeos de "supostas aparições de palhaços assassinos" na internet, sendo compartilhadas aos montes. Posso afirmar sem medo de errar: esses palhaços terão de fazer um "intensivão", caso queiram chegar ao nível do Pennywise de It: A Coisa, uma vez que Bill Skarsgård (Atômica) dá um show de atuação. Essa nova versão, mesmo não sendo piadista como aquela interpretada por Tim Curry (The Rocky Horror Picture Show) em 1990, consegue se impor sem soar exagerado. O palhaço realmente mete medo.

Warner Bros Pictures

A trama tem algumas similaridades com a série Stranger Things, que, por sua vez, usou como inspiração a obra de King. É quase como um ciclo se fechando, mas sem a sensação de clone ou repetição. Tudo é bem amarrado, mostrando os protagonistas descobrindo a maturidade, ao mesmo tempo em que enfrentam "a coisa". 

Finn Wolhard (Stranger Things) pode até soar como falso e irritante ao interpretar o piadista Richie, afinal, suas piadas são inapropriadas e quase sempre de cunho sexual, mas acaba mostrando uma faceta nova no ator. O verdadeiro destaque no grupo de crianças, porém, fica entre Bill (Jaeden Lieberher) que acaba sendo a força motriz da trupe e Ben (Jeremy Ray Taylor) o gênio acidental, que descobre uma linha de causa e efeito por trás dos tais desaparecimentos de crianças e adolescentes. O elenco adulto, exceto Pennywise, não tem grande espaço para trabalhar. Apenas Sr. Marsh (Stephen Boegart), o pai abusivo de Beverly (Sophia Lillis), acaba sendo um elemento contrastante em meio a um mundo onde os adultos vivem uma realidade cotidiana e o que quer que seus filhos estejam fazendo por aí quando eles não estão em casa é de total responsabilidade dos mesmos.

A fotografia usa e abusa de escalas de preto, cinza, branco e vermelho, principalmente em cenas impactantes como a do banho de sangue no banheiro de Beverly, que, parece uma versão reformulada da icônica cena do quarto de Glenn (Johnny Depp) em A Hora do Pesadelo. As ilusões feitas pelo palhaço, remetendo aos piores medos das crianças, são muito bem construídas. Já a trilha sonora, mesmo usando do já manjado truque de abaixar o volume em algumas sequências e depois aumentar o mesmo para impactar o espectador, faz um papel bom, especialmente quando utiliza elementos infantis para deixar o que já é assustador ainda mais macabro.

Warner Bros Pictures

A direção de arte não só caprichou no visual composto para o próprio Pennywise, mas acabou sendo importante para ajudar a compor o clima oitentista, desde o uso de televisores de tubo, até pôsteres de bandas como New Kids on the Block, ou até mesmo com o visual de Beverly, que lembra bastante Janis Joplin, na cena onde os garotos tomam banho na cachoeira.

It: A Coisa é um filme de terror como poucos. Consegue ser fiel ao material fonte no qual foi baseado e mostra-se tão bom (ou superior) a versão de 1990, um raro caso onde o remake se faz valer. Provavelmente muito se recusarão a suprimir a imagem já estagnada de Tim Curry como o palhaço, mas digo a essas pessoas que devem, ao menos, fazer um esforço. Garanto que será uma recompensa e tanto.

Ótimo

   

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