CRÍTICA | Manifesto

Direção: Julian Rosefeldt
Roteiro: Julian Rosefeldt
Elenco: Cate Blanchett
Origem: Alemanha / Austrália
Ano: 2015


Nas últimas semanas, diversas discussões e debates foram travados, muitas opiniões foram expostas e muita polêmica foi levantada acerca do que é, ou não, arte na sociedade contemporânea. Sabemos que ela compreende todo tipo de criação do ser humano para fazer uma abordagem sensível ou expressar a visão de mundo, podendo este ser real ou imaginário. E com o passar dos tempo, diversas formas de manifestação surgiram, como pintura, escultura, poesia, e, mais recentemente, o teatro, a televisão e o cinema. Dependendo do contexto, as ideias que são proferidas com cunho artístico podem ganhar outros contornos, como social ou até mesmo político. 

Antes apresentado em uma exposição de arte em múltiplas telas no museu Hamburger Bahnhof, de Berlim, Manifesto chegou à grande tela para ilustrar vários prismas da arte, bem como o papel de grandes ícones do século XX e os impactos de diversas declarações artísticas de personalidades como Lars von Trier (Ninfomaníaca) e Jim Jarmusch (Paterson). Temos também a visão dos futuristas, dadaístas, do Pop Art e do Fluxus, e todas essas manifestações ficam a cargo de um atriz: Cate Blanchett (Blue Jasmine), vencedora de dois Oscars e um dos maiores nomes do cinema atual. Ao todo ela interpreta 13 personagens diferentes, nessa obra dirigida pelo alemão Julian Rosefeldt (The Creation).

Crédito: Mares Filmes

Blanchett encarna tipos, como uma professora de escola primária, um mendigo, uma coreógrafa, uma âncora de telejornal, uma punk, uma manipuladora de marionetes, entre outros, todos baseados em manifestos dos artistas anteriormente mencionados. São 13 diferentes monólogos, com visões críticas, provocativas, além de vários tributos e homenagens a pensadores marcantes do século passado. E a forma como a atriz representa cada ícone é extraordinária, não passando apenas por transformações físicas, mas também na reprodução de ideias.  Ao mudar de um rosto para outro, Blanchett rapidamente se adapta a um novo ideal, transmitindo-o com sinceridade. As novas personalidades e preceitos a serem expostos por cada personagem ocorrem de maneira automática, como se uma chave fosse virada pela a atriz, e somos surpreendidos com um novo contexto recheado de pensamentos que ilustravam a ótica de determinado artista e de um período diferente da nossa história. 

Quem conhece a fundo todos os pensadores citados aqui, de certo fará um exercício de adivinhação para descobrir quem é quem, no entanto, mesmo que não os conhece e é apreciador da pluralidade de artes e pensamentos, vai se interessar em decifrar o que cada um quer expressar, além de se aprofundar nos conteúdos ilustrados.

A qualidade estética também surpreende, com cenários que se apresentam como objetos artísticos, além, claro, da arquitetura exuberante de Berlim. Cada ambiente utilizado para seu respectivo monólogo funciona também como elemento de uma experiência imersiva para o espectador, que não apenas assiste, mas também se sente dentro da tela. Determinados objetos funcionam como personagens e se apresentam como símbolos dos mais importantes movimentos, principalmente o Futurismo e o Dadaísmo.

Crédito: Mares Filmes

Se não temos uma narrativa propriamente dita e um conflito traçado, somos brindados com uma verdadeira obra de arte, composta de fragmentos de diversos manifestos e por variados pensamentos e mensagens subliminares, além de surpreendentes e belas representações visuais. Quem é apreciador de filmes cult, provavelmente adorará Manifesto.

O longa foi bastante aclamado nos festivais de Sundance, Roterdã e Tribeca e, caso seja considerado para o Oscar, Cate Blanchett fatalmente será considerada para mais uma indicação de melhor atriz. Portanto, aprecie esse belo filme, se deixe contaminar pela arte, cultura e pelas importantes manifestações e preceitos deixados por artistas do século passado, e reflita se as ideias lá expressadas ainda se encaixam em tempos contemporâneos. Você provavelmente irá se surpreender.

Excelente

Comentários