CRÍTICA | Altas Expectativas

Direção: Pedro Antonio e Alvaro Campos
Roteiro: Pedro Antonio e Alvaro Campos
Elenco: Gigante Leo, Camila Márdila, Maria Eduarda Carvalho, Milhem Cortáz, entre outros
Origem: Brasil
Ano: 2017


Que a comédia é o gênero mais explorado do cinema brasileiro, não resta a menor dúvida, mas o que você acha de uma comédia romântica com direito a várias cenas de stand-up comedy e abordagem sobre inclusão social? Altas Expectativas, dirigido por Pedro Antonio (Um Tio Quase Perfeito) e Álvaro Campos (Os Buchas), nos traz uma história de amor platônico que envolve um treinador de turfe, portador de nanismo e uma bela jovem de expressão melancólica que assume a administração de um café no Jockey Club Brasileiro. Será que funciona?

Leonardo Reis (O Concurso), o Gigante Leo, interpreta Décio, um homem bastante tímido e que se encanta com Lena (Camila Márdila), uma jovem de expressão triste, que quase não sorri e que está enfrentando dificuldades em administrar o estabelecimento que herdou da família. Apaixonado e sem ter iniciativa, Décio tenta de todas as formas se aproximar da moça, vive espiando da janela do escritório e encontra no humor a forma mais fácil de conquistar sua confiança, enviando bilhetes com diversas piadas baseadas no cotidiano. Além da timidez, Décio tem que lidar com a sua insegurança, gerada por conta de sua deficiência, fora ter que dividir a atenção de Lena com Flávio (Milhem Cortáz), um playboy que inicialmente é rejeitado e depois consegue fisgar a moça.

O roteiro é baseado em fatos e traz uma proposta interessante, de abordar o dia a dia de quem sofre preconceitos por conta do nanismo, com diversas piadas maldosas, perguntas inconvenientes, expressões de susto, além da questão da acessibilidade, que de forma inexplicável é abandonada no segundo ato da história. As interações são interrompidas por diversas vezes para ilustrar a performance do Gigante Leo em seu show de comédia, uma tentativa frustrada de fazer conexões com a história, o que não faz sentido para os espectadores. Uma ferramenta utilizada na tentativa de se arrancar risadas do público e trazer alívio cômico em um filme que aborda uma questão séria, a discriminação.

Foto: Globo Filmes e Telecine

Fora o Gigante Leo, o elenco conta com Maria Eduarda de Carvalho (Lia) e Felipe Abib (Tassius). A primeira, como melhor amiga de Décio e uma joqueta que tenta a todo custo vencer o grande prêmio; já o segundo, um excêntrico humorista e dono de bar, que inferniza inicialmente a vida do protagonista, mas depois é uma figura importante para ajudá-lo a aflorar seu lado comediante. Vale a menção honrosa para o garoto Pedro Sol, intérprete de Théo, irmão de Lena, um cadeirante que funciona como espécie de cupido e que logo de cara ganha o carinho e confiança de Décio. Todas as participações são sólidas e convincentes, mas são prejudicadas pelo inconsistente roteiro, que não consegue explorar o romance e resolve apostar nas piadas com deficiência, algumas exageradas, e outras, para lá de constrangedoras. 

A interpretação de Camila Márdila (Que Horas Ela Volta?) é abaixo das expectativas. Sua personagem tem pouca voz, apresenta um gelo difícil de ser quebrado e em vários momentos entrega situações que poderiam ser melhor exploradas e que soam incompletas dentro da própria narrativa. Uma enorme lacuna deixada e que afeta diretamente o resultado final da produção.

Mesmo com a intenção de trazer uma abordagem didática, com mensagens importantes a serem transmitidas ao máximo possível de pessoas e com o cunho de proporcionar boas risadas, Altas Expectativas derrapa principalmente no romance que tentou apresentar ao público. Uma obra que soa incompleta e que não entrega tudo o que poderia e deveria. As "altas expectativas" do título transformaram um título bem cotado em uma decepção, lamentavelmente.

Regular

Foto: Globo Filmes e Telecine

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