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Akira Kurosawa. Você pode nunca ter visto ou escutado nada sobre o cinema japonês, mas com certeza já ouviu falar neste nome.
Sim, Kurosawa é, sem dúvidas, a personalidade mais importante na história do cinema japonês. Não apenas deixou para nós, meros mortais, um legado incrível no conjunto de sua obra, mas também “fez escola” ajudando a colocar em cena outros diretores, como Takashi Koizumi, que vieram a reforçar o valor do cinema japonês.
Se eu tivesse que falar de cinco filmes de Kurosawa, já seria difícil. Estender a tarefa à toda a obra cinematográfica produzida neste pequeno-enorme país, é missão quase impossível. Sendo assim, não tive muita escolha senão falar dos cinco filmes japoneses que assisto e re-assisto com mais frequência. São dois de Kurosawa, dois de Takeshi Kitano, e um do já citado Takashi Koizumi. Vamos à eles:
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O Mar Mais Silencioso Daquele Verão
(Ano natsu, ichiban shizukana umi, 1991)
Direção: Takeshi Kitano |
Shigeru (Claude Maki) é um jovem com deficiência auditiva que vive e trabalha na coleta de lixo de uma pequena cidade litorânea. Durante uma das coletas, ele encontra parte de uma prancha quebrada. Este é o início de uma paixão pelo surfe à qual ele se dedicará com afinco todos os dias nas semanas seguintes, até o fim do verão.
Apesar do fracasso inicial, Shigeru aos poucos vai se aprimorando no esporte. Seu traquejo social não é dos melhores e isto, somado à sua surdez, atrapalha o convívio com os surfistas locais. Sua namorada é sua maior apoiadora. Shigeru consegue se inscrever em alguns campeonatos, sendo que, no primeiro deles, ele é desclassificado por não ter ouvido seu nome na chamada (seria humor negro, mas não com a competência e bom senso de Kitano, que faz a situação soar engraçada sem ‘maltratar’ o personagem).
Um filme bonito, sensível, contemplativo.
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Getting Any? (Minnâ-yatteruka!, 1994)
Direção: Takeshi Kitano |
As aventuras e desventuras de um homem, Asao (Duncan), tentando melhorar sua relação com as mulheres. Motivado por um filme que ele acaba de assistir na TV, Asao sai em busca de artifícios que o ajudem nestas conquistas, o que inclui comprar um carro de luxo (que na verdade é um carro simples e caindo aos pedaços), viajar de avião e se tornar ator de cinema.
Aqui Kitano explora seu lado humorístico: situações hilárias, com ótimo equilíbrio entre humor verbal e físico. Diversão garantida.
Assista o trailer AQUI.
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Depois da Chuva (Ame agaru, 1999)
Direção: Takashi Koizumi |
Esta é a obra que Kurosawa deixou para ser finalizada por seu então discípulo e assistente, Takashi Koizumi. Uma história de samurais, mas, bem antes disto, um filme poético, com um protagonista e personagem que exala bondade e pureza de espírito em cada gesto.
Este homem é Misawa (Akira Terao), um Ronin (samurai sem mestre) desempregado, sempre perambulando junto com a esposa em busca de algo para seu sustento. Em certo trecho de sua jornada, por causa da chuva o casal é obrigado a se hospedar num vilarejo, onde os moradores passam fome. Determinado à ajudar estas pessoas, Misawa sai e luta em troca de dinheiro (o que é proibido segundo as regras éticas dos samurais) e volta ao local com fartura de comida e bebida. Desta forma, chama a atenção dos samurais locais, despertando inveja e admiração.
Enquanto o casal espera a trégua da chuva para que os rios baixem e possam prosseguir, um pouco da história dos samurais é contada através de questionamentos do protagonista, junto à seu convívio com um mestre local. A chuva aparece mais como um personagem do que recurso estético. E a fotografia, talvez um pouco “pálida” em primeira impressão, embeleza a história dando um de nobreza e poesia.
Dá pra assistir ele inteiro no YouTube clicando AQUI.
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Madadayo (idem, 1993)
Direção: Akira Kurosawa |
Último filme de Kurosawa. Baseado na história real do professor Hyakken Uchida.
Em 1943, após 30 anos de dedicando ao ofício de professor de literatura alemã, o professor Uchida encerra sua carreira para se dedicar ao ofício de escritor. Trata-se de uma lenda viva para seus alunos e ex-alunos, que continuam a visitá-lo em sua nova casa, onde mora com a esposa. Vem a segunda guerra e deixa o casal desabrigado, obrigando-os a viver temporariamente em um barraco.
Eis que os alunos se mobilizam para construir uma nova casa para o professor. A tragédia não impede mestre e pupilos de continuarem com seus jantares regados a celebração, risos e causos únicos contados por ele. Estes jantares viram oficialmente um evento anual: o "Madakai", quando os alunos perguntam "Mada kai?" (Pronto?), e ele, depois de virar uma imensa taça de cerveja, respondia "Maaaaaaada dayooooooo!" (Ainda não!)
As histórias entre professor/alunos podem ter virado clichê em Hollywood, mas não no Japão. Muito menos num filme de Kurosawa.
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Sonhos (Yume, 1990)
Direção: Akira Kurosawa |
A obra que consagrou Kurosawa mundialmente, conta, em oito histórias distintas, sonhos que o próprio Kurosawa teve em diferentes momentos da vida. Um show de imagens surreais que contam a história quase sem precisar de diálogos (numa época em que os recursos visuais para a telona ainda eram limitados, comparados aos de hoje), e divide-se em oito histórias distintas, mas unidas pelo mesmo tema:
► Um raio de sol através da chuva
► O jardim das pessegueiras
► A tempestade
► O túnel
► Corvos
► Monte Fuji em chamas
► O demônio que chora
► O vilarejo dos moinhos
Termino esta coluna refletindo o quanto o cinema japonês é único, especial em sua poesia, singular em originalidade, e, perdoem-me o pleonasmo: genial em genialidade.
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Rodrigo
Alves é músico, produtor musical, estudante de psicologia e (agora) colaborador
neste site. Links para suas redes sociais: rodrigoalves.com
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