HQ | Meu Amigo Dahmer


A Darkside Books é uma das principais (se não for a principal) editoras brasileiras no seguimento de fantasia e terror. Quando o assunto é conteúdo interessante, ela não dá bola fora, e é justamente por isso que me animei com o anúncio de que a editora teria uma divisão destinada a quadrinhos. Só podia sair coisa boa dali, e eu não estava enganado.

Foram lançados 3 quadrinhos/mangás de horror bastante relevantes. O primeiro, do mestre Junji Ito , chamado Fragmentos do Horror, uma coletânea de one-shots produzidas pelo mangaká referencia no horror japonês, Junji Ito. O segundo é Wytches, com roteiro de Scott Snyder, o mesmo responsável pela revista mensal do Batman na fase Novos 52. Já o terceiro, mas não menos importante, é Meu Amigo Dahmer, escrita e ilustrada por Derf Backderf, que conviveu boa parte da adolescência com este que viria a se tornar um dos assassinos mais notórios dos Estados Unidos.

Antes de adentrarmos ao conteúdo, é preciso esclarecer quem é Dahmer. Estamos falando de Jeffrey Dahmer, conhecido pelo "carinhoso" apelido de O Monstro de Milwaukee. Ele foi um dos mais notórios serial killers norte-americanos de todos os tempos. Filho de uma família disfuncional (sua mãe era viciada em remédio e seu pai era alcoólatra), vivia a maior parte do tempo enclausurado e quase não falava com ninguém. Não esboçava quase nenhuma reação a nada.

Na adolescência, começou a demonstrar fascínio por animais mortos, iniciando o hobby de dissolver cadáveres de animais em ácido. Mais tarde, acabou virando alcoólatra, chegando ao ponto de chegar fedendo a bebida na escola. Em 1978, cometeu seu primeiro assassinato. A vitima acabou levando golpes desferidos por um halteres, depois foi estrangulado até a morte e teve seu corpo desmembrado.

Entre 1987 e 1988, realizou mais três assassinatos. Entre 1989 e 1991, voltou a atacar e levou mais 11 pessoas. Sua prisão ocorreu no dia 22 de julho daquele mesmo ano. Dois policiais que faziam ronda perto da Universidade de Marquette, em Milwaukee, prenderam um homem negro que corria pelas ruas ainda algemado, com a certeza de que se tratava de um fugitivo. O rapaz se identificou como Tracy Edwards e indicou o endereço do qual fugia. Ao chegar no local, foram atendidos por um educadíssimo homem, que confirmou que Edwards se encontrava com ele e foi até o quarto buscar as chaves da algema.

Um dos policiais seguiu no encalço do dono do apartamento, mas foi pego de surpresa pela decoração das paredes. Eram cobertas de fotografias de cadáveres, vísceras, sangue, cabeças decepadas. Antes que pudesse dar voz de prisão, este tentou enfrentá-lo, mas foi subjugado. As surpresas dentro do apartamento deixariam muitas pessoas atônitas. Na geladeira, sobre a prateleira central estava uma cabeça em estado avançado de decomposição. No congelador foram apreendidas mais três cabeças escalpeladas e acondicionadas em sacos plásticos amarrados com elásticos. Também foram encontrados recipientes de metal contendo mãos e pênis decompostos, entre outras bizarrices que vocês podem imaginar. No apartamento de Dahmer foram identificados os restos mortais de 11 vítimas diferentes; 11 crânios, um esqueleto completo, ossos em geral, mãos, genitais embalsamados e pacotes de corações, músculos e outros órgãos mantidos no ácido ou refrigerador. Em 22 de agosto de 1991, Dahmer foi indiciado em 15 acusações de assassinato e condenado a mais de 900 anos de pena. Na prisão, Dahmer recusou as ofertas de custódia protetora, apesar de muitas ameaças contra sua vida, e acabou morrendo assassinado por outro detento em 1994.

Meu Amigo Dahmer é uma HQ contatada pelo ponto de vista do autor que conviveu com Dahmer durante o período do ensino médio, na qual ele relata os primeiros sinais de que o garoto não era o mais convencional dos estudantes.

A arte é toda em preto e branco, com traços exagerados, beirando ao cartunesco, mas nem de longe se trata de uma obra infantil. O roteiro vem para fixar os 2 pés no chão de quem lê. Como o autor não poupa detalhes de suas lembranças, isso faz com que a história pareça um recorte preciso de como Dahmer era, humanizando-o, de certa maneira.

As partes mais violentas são recheadas de sangue, entranhas e tudo mais, tornando a HQ um material que pode não ser apreciado por plateias mais sensíveis. Há referencias a filmes dos anos 70, principalmente O Massacre da Serra Elétrica, onde a aura de tensão é gigantesca e você não tem ideia do que irá se seguir na próxima cena.

O inicio da decadência de Dahmer fazendo-o começar a se embriagar é visceral. Muitos já sofreram, e possivelmente irão sofrer, de dependência química, não importa o motivo. Aqui ainda havia uma centelha de esperança, e é a partir da dependência química que o caldo entorna e o rapaz começa a agir de formas cada vez mais escabrosas.

Epílogos, geralmente, não costumam me causar impacto nas narrativas, mas aqui é algo que faz todos se darem conta e perceberem que o mal pode estar ao seu lado, e só percebemos quando já se passou algum tempo. Meu Amigo Dahmer é uma HQ que visa nos fazer compreender que o maior mal é aquele que não deixa transparecer suas verdadeiras intenções, dando uma nova abordagem ao conceito de serial killer. Não digo que devemos defender qualquer ato praticados por eles, muito pelo contrário, mas que há histórias podem nos mostrar outras facetas dos maiores facínoras da história.

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