CRÍTICA | O Insulto

Direção: Ziad Doueiri
Roteiro: Ziad Doueiri e Joelle Touma
Elenco: Adel Karam, Kamel El Basha, Camille Salameh, entre outros
Origem: Líbano / Bélgica / Chipre / França / EUA
Ano: 2017


Você já deve ter ouvido muitas vezes que palavras podem machucar mais que uma agressão física. E é justamente dessa premissa que foi concebido O Insulto (L'insulte), filme libanês do diretor Ziad Doueiri (O Atentado), baseado em fatos de sua própria história e indicado ao Oscar 2018 de melhor filme estrangeiro.

Toni Hanna (Adel Karam) é libanês, membro do partido cristão, e possui como hábito regar as plantas de sua varanda. Um dia, por acidente, acaba molhando Yasser Salameh (Kamel El Basha), um refugiado palestino. Ao perceber que a calha da residência de Toni estava com defeito e molhando os pedestres, Yasser, por iniciativa própria resolve consertá-la, mas o serviço acaba posteriormente desfeito por Toni. Isso gera a insatisfação de ambos, e Yasser acaba insultando Toni, que exige uma retratação. A discussão resulta em agressão física, transformando uma questão particular em um circo midiático envolvendo todo o Líbano, inclusive o presidente do país.

O roteiro, assinado em conjunto por Ziad Doueiri e Joelle Touma, traz a tona não apenas a raiva e a intolerância, mas a insurgência entre libaneses e palestinos, existente há pouco mais de cinco décadas. Trata-se de um problema enraizado, que afeta milhares de famílias que sofrem com constantes perseguições e vidas sendo dizimadas.

Foto: Imovision

O mérito de O Insulto está em conseguir organizar os fatos e estruturá-los de forma a narrar ao público uma história verossímil, que aborde não apenas um conflito isolado entre duas pessoas, mas todo o drama de duas nações. Além disso, aspectos sobre a parcialidade e a corrupção existentes no poder judiciário, esta última nos lembrando um pouco do que acontece na realidade atual da sociedade brasileira, geram constantes e intermináveis discussões.

A montagem é outro elemento que funciona muito bem na obra, assim como as escolhas de enquadramento. Cada cena gravada, com planos fechados nos rostos dos protagonistas e depois nos ambientes familiares, nos dá o tom da dramaticidade que o longa irá apresentar ao espectador. Antes de chegarmos ao clímax da história, no entanto, quando o caso ganha cobertura ampla dos canais de televisão, batalhas campais passam a acontecer nas ruas de Beirute, espalhando pânico, incertezas e terror na população.

As atuações estão acima da média, não apenas o núcleo principal se destaca, como também o secundário, com os advogados de acusação e de defesa, Wajdi Wehbe (Camille Salameh) e Nadine Wehbe (Diamand Bou Abboud), além da juíza Colette Mansour (Julia Kassar), de quem todos esperam um veredito justo. A cada dia de julgamento, as partes surpreendem com as provas e testemunhas convocadas, bem como as discussões acerca das diferenças e da falta de tolerância. Reflexões sobre o passado e o futuro do Líbano e da Palestina são inseridos, com importância decisiva na condução final da trama.

Foto: Imovision

O Insulto se preocupa em abordar os extremos de forma cuidadosa, de modo que o espectador dificilmente escolhe um lado para tomar partido. Importantes mensagens são estabelecidas, entre elas, que é preciso amor e tolerância para se discutir as diferenças. As agressões físicas podem machucar, mas ferimentos causados por agressões verbais podem demorar a cicatrizar, isso, claro, quando são curadas.

Ótimo

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