CRÍTICA | Projeto Flórida

Direção: Sean Baker
Roteiro: Sean Baker e Chris Bergoch
Elenco: Brooklynn Prince, Bria Vinaite, Willem Dafoe, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2017


Dirigido por Sean Baker, cineasta que ficou famoso por ter filmado seu longa anterior, Tangerine (2015) em um celular iPhone 6, Projeto Flórida (The Florida Project) é grata surpresa dessa temporada de premiações, ainda que não tenha sido reconhecido a altura, talvez por abordar um tema tão delicado no cinema norte-americano: a marginalização social.

Na trama somos apresentados a Moone (Brooklynn Prince), uma garotinha de seis anos que vive com sua jovem mãe desempregada, Halley (Bria Vinaite), em um hotel barato nos arredores dos parques temáticos da Disney em Orlando, Flórida. Durante suas férias escolares de verão, acompanhamos seu dia a dia, que se divide entre brincar com seus amigos Scooty (Christopher Rivera) e Janice (Valaria Cotto), e aterrorizar o trabalho de Bobby (Willem Dafoe), o gerente do hotel que exerce quase uma função de "paizão" para com seus hóspedes.

Brooklynn Price é, de longe, o principal triunfo da obra. Sensível e enérgica, a menina consegue magnetizar o espectador com sua bela e natural interpretação, mostrando como sua imaginação é fértil. A personagem consegue criar mundos fantásticos em casas abandonadas, pequenas lojas, ou mesmo no hotel simples que reside, o que acaba servindo como uma válvula de escape para a vida difícil que leva ao lado da mãe, ainda que ela própria não tenha noção disso.

Foto: Diamond Films

Willem Dafoe (Assassinato no Expresso do Orienet), por sua vez, entrega uma atuação essencial para que tenhamos algo ao que nos apegar durante a narrativa. Como zelador do estabelecimento ele soa por vezes rudimentar, preocupado e estressado, tentando manter a ordem do local, que é seu ambiente de trabalho, mas também é moradia de muitos que lá estão. Conforme a trama evolui, o personagem cresce e ganha novas camadas, fazendo de Bobby um os melhores personagens de Projeto Flórida, não atoa rendendo uma indicação ao Oscar para o ator.

A fotografia é outro elemento admirável aqui. Através do uso de planos subjetivos e abertos que se unem perfeitamente às cores vivas das paredes dos estabelecimentos de Orlando, como o rosa, azul e o verde, isso sem esquecer a vegetação característica do local, que é conhecido especialmente pela produção de laranja e pelos parques temáticos.

Sean Baker consegue aproximar o espectador de uma realidade até então desconhecida da Flórida, revelando de forma sensível e franca a vivência dos excluídos da sociedade norte-americana, sejam eles desempregados, imigrantes ilegais, usuário de drogas, mãe solteiras, entre outros. Pessoas que se desdobram para conseguir arcar com os trinta e cinco dólares por semana de aluguel e sobreviver com o pouco que recebem de auxílio do governo. Uma realidade, infelizmente, não tão diferente do nosso país em muitos aspectos.

Foto: Diamond Films

Chamando atenção ainda pelo seu baixíssimo orçamento, que girou em torno de 2 milhões de dólares, Projeto Flórida impressiona pela técnica apurada de um diretor que não tem medo de arriscar, contando histórias relevantes para a sociedade atual e que impactam o público de alguma maneira. Definitivamente, Sean Baker é um nome para acompanharmos daqui para frente.

Excelente

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