CRÍTICA | 7 Dias em Entebbe

Direção: José Padilha
Roteiro: Gregory Burke
Elenco: Daniel Brühl, Rosamund Pike, Denis Ménochet, entre outros
Origem: Reino Unido / EUA
Ano: 2018


O conflito entre Palestina e Israel começou um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, quando judeus e árabes começaram a brigar pelo direito sobre parte das terras do Oriente Médio, em especial Jerusalém. Movidos pela fé e pelo sentimento de justiça, cada um dos povos apresenta seus motivos pelo qual as terras deveriam ser deles e não de outros. Com o extermínio em massa do povo judaico durante a Segunda Guerra, a balança mundial tendeu para os judeus, que começaram a receber apoio de diversos países, enquanto Israel não teve a mesma “sorte”. Essa delicada situação se desdobra até hoje, gerando mortes de inocentes e uma guerra que parece não acabar. 

Um dos desdobramentos foi o sequestro do avião da Airfrance, com mais de 240 pessoas a bordo. A ação durou sete dias e é, até hoje, considerado uma das operações de resgate mais difíceis realizadas. O fato gerou adaptações de livros e filmes, sendo está a sua quarta versão para a grande tela, com o diferencial de que todas as outras foram produzidas durante os anos 1970/80. Agora, com mais de quarenta anos de distanciamento e informações novas sobre o caso, Hollywood decide revisitar a história. 

Dirigido por José Padilha (Tropa de Elite), 7 Dias em Entebbe nos apresenta a Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike) e Wilfried Bose (Daniel Brühl) como um casal alemão militante de extrema esquerda, que se junta a um grupo de palestinos e sequestram o avião, levando tripulação e passageiros para Uganda, onde o ditador local os acolhe e ajuda com o sequestro. Padilha decide focar as atenções nessa dupla de protagonistas, os representando como pessoas normais, que possuem motivações no passado que as levaram até ali. Uma iniciativa ousada, que gerou muitas críticas negativas ao filme e a equipe de produção, por mostrar dois terroristas como figuras "simpatizáveis".

Foto: Diamond Films

Só que o diretor não para por aí, decidindo por inserir os pontos de vista dos negociadores israelitas e, ainda, de um dos soldados envolvidos na operação. Todos esses pontos ligados por uma performance de dança artística, que só está ali para ressaltar o que os diálogos já fazem: somos todos iguais, presos numa guerra sem fim. Configura-se então uma salada de frutas meio difícil de engolir. Com duas horas de filme, é difícil abordar e explorar cada ponto de vista, fazendo com que cada conceito pareça estar ali apenas por estar.

O elenco está excelente. Daniel Brühl (Bastardos Inglórios) consegue passar toda a angustia que seu personagem sente diante do fato de que ali, não pode fazer nada demais. Ao contrário do que pensava, ele continua de mãos atadas. Rosamund Pike (Garota Exemplar), por sua vez, vai além da tradicional figura da mulher que apoia seu parceiro, criando uma figura empática, mas que mais parece uma bomba relógio. A cena dela ao telefone é o melhor momento do longa. Sei que é muito cedo para fazer qualquer previsão, mas adoraria vê-la sendo reconhecida nas vindouras premiações.

Vale destacar também o trabalho de mais brasileiros na produção. Rodrigo Amarante (Narcos) é o compositor, trazendo a música no momento certo, elevando a tensão. Lula Carvalho (O Lobo Atrás da Porta) é o diretor de fotografia, criando dois mundos distintos (passado e presente), mas que ao mesmo tempo se assemelham. Já Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs) retorna a montagem, e mesmo que não consiga desviar dos maneirismos dos filmes de ação modernos, ao menos não é obrigado a trabalhar com a narração em off tradicional de Padilha.

Foto: Diamond Films

7 Dias em Entebbe não é um filme ruim, mas se apoia em um roteiro com muitos diálogos expositivos e repetitivos (quantas vezes precisam frisar que não se tratam de alemães sequestrando judeus?). Uma história que talvez pudesse ser melhor explorada em formato de minissérie, com tempo para explorar os diversos pontos de vista que a narrativa propõe. Aliais, a grande questão do longa é a contradição do casal, que comete um ato de violência para protestar contra a violência e o modo como a Palestina vinha sido tratada no cenário mundial da época. Um material rico e que merecia um cuidado melhor. Padilha trata seus personagens como vítimas – inclusive os sequestradores – de uma guerra que parece não ter fim, mas isso todo mundo já sabia.

Regular

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