CRÍTICA | A Amante


Direção: Mohamed Ben Attia
Roteiro: Mohamed Ben Attia
Elenco: Majd Mastoura, Rym Ben Messaoud, Sabah Bouzouita, entre outros
Origem: Tunísia / Bélgica / França
Ano: 2016


Cada vez mais presente no circuito comercial e representando muitos países em períodos recém-democráticos, o cinema africano vem ganhando a roda de discussões dos cinéfilos e também despertado cada vez mais o interesse do público, dividindo opiniões no que concerne às relações humanas. O país em questão aqui é a Tunísia, em um filme que fará o espectador questionar sobre os interesses individuais e as tradições de familiares.

A Amante (Inhebek Hedi), longa dirigido pelo estreante Mohamed Ben Attia (Weldi), nos apresenta a Hedi (Majd Mastoura), um jovem de 25 anos, representante comercial, que está prestes a se casar. Aparentemente não existem problemas em sua vida e tudo está sob controle. Ele ama sua noiva e tem uma situação financeira confortável, ainda assim, demonstra constantemente um semblante fechado e tenso, em uma espécie de sensação de não pertencimento ao círculo social em que vive. O real conflito é descoberto quando Hedi, durante uma viagem a trabalho, conhece Rym (Rym Ben Messaoud), uma mulher de 30 anos que trabalha em um resort e não mantém relações próximas com a família. O protagonista enxerga na mulher tudo o que falta em sua vida, se apaixonando por ela.

O roteiro opta por explorar as emoções e o sentimento de enclausuramento que o protagonista vive internamente, antes de revelar o conflito pelo qual passa. Mesmo que o tempo para esse desenvolvimento leva todo um ato da trama, o público não se sente entediado, pois a construção da narrativa é feita de forma eficiente.

Foto: Pandora Filmes

A tradição que muitas famílias de determinadas culturas seguem, de escolher os futuros maridos ou esposas para seus filhos(as) está prestes a ser quebrada aqui, e fazer isso requer muito tato e coragem por parte do protagonista. Outro trunfo da obra é mostrar a capacidade de Hedi de se transformar e se libertar de tudo o que o aflige, fazendo com que o espectador crie empatia pelo personagem, torcendo para ele seguir um novo rumo em sua vida.

O planos utilizados pelo diretor em determinadas cenas, utilizando de câmera na mão e acompanhando os passos do protagonista, realçam os conflitos vividos pelo mesmo, bem como valorizam a identidade visual do longa. Em outros momentos o diretor opta por girar a câmera em um ambiente colorido e festivo, causando as sensações de êxtase e libertação que Hedi vivencia. De certa maneira, é o momento de alívio da trama, ainda que traga fortes consequências adiante.

Apresentando ainda um desfecho inesperado e melancólico, A Amante apresenta uma trama sensível, com certo viés político, realista e humanista. Quebrar as tradições e romper com a sociedade na qual estamos inseridos gera duros desdobramentos, mas ao mesmo tempo podem significar a mudança que nossa vida precisava. Um filme que propicia o debate e à reflexão, algo sempre positivo.

Foto: Pandora Filmes

Ótimo

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